Ainda aqui não olhei a Grécia, país que vive há semanas uma contestação sem precedentes que ameaça continuar esta semana com mais manifestações e confrontos. No mundo dos blogues, noto que é à esquerda que o tema suscita debate. Tem sido aliás no blog Cinco Dias que o acompanhamento do tema está a ser feito quase em tempo quase real. Este fim-de-semana, João Branco achava “mais ou menos claro (...) que o que é mais difícil de compreender para os portugueses é a destruição provocada pelos manifestantes, a vandalização de propriedade e confronto com os agentes da autoridade como forma de luta”. E tenta explicá-la: “Os bacanos que estão a partir tudo são os gregos. São as tais pessoas revoltadas. Não há uma separação clara entre o povo justamente indignado mas manso e os loucos que fazem pilhagens. Pelo que tenho lido, não são “meia dúzia de grupos” que estão envolvidos na revolta. Os motins são generalizados”. No mesmo blog, Tiago Mota Saraiva fala de “uma insatisfação cada vez maior da juventude, confinada entre empregos precários e mal pagos e o desemprego. A juventude é cada vez mais culta, mais instruída; é inevitável que se politize e que adopte as tendências de esquerda libertárias, pois são as que lhes oferecem garantias de não comprometimento com um poder cada vez mais corrupto”.
No Risco Contínuo, João Távora deixa um olhar mais conservador: “perante a realidade da natureza do homem, a democracia, o menos imperfeito dos regimes políticos, a ser viável, só o é com o exercício firme da autoridade, noção antagónica ao relativismo moral promovido pela cultura esquerdista (...). As rebeliões na Grécia começam com um caso de polícia e de delinquência juvenil que descamba desastrosamente por causa de uma crise profunda de autoridade do estado. Sem que no entanto deixem de facto de constituir um caso de polícia (...)”. Esta opinião deve irritar Francisco Trindade, no blog Anovis Anophelis, que diz: “O argumento do governo de que “não deve haver confusão entre a luta dos trabalhadores e a morte do jovem” caiu, assim, em saco roto. Na verdade não há nenhuma confusão – há sim ligação e solidariedade”.
No seu blog Sem Muros, Miguel Portas entende que, nesta fase, “O prolongamento da violência cruzada só interessa aos seus protagonistas. O risco, óbvio, é o de que a maioria da população passe da simpatia ou da passividade a uma exigência de mão dura e que o governo (...) acabe por recuperar posições (...). A Grécia, definitivamente, não é um país de brandos costumes”. E o que lá se passa, escreve Rick, no blog Spectrum: “diz-nos respeito a todos, porque se trata de um acontecimento (...) a desenrolar-se sobre os nossos olhos, em que um Estado perde, de facto, o controlo momentâneo sobre o seu território e o estéril debate sobre legalidade e ilegalidade sai da sua órbita habitual. (...) O habitual jogo semântico de destacar do seio de um movimento social o punhado de «violentos», «extremistas», «vândalos», «desordeiros» tornou-se impraticável, porque a revolta nas cidades gregas há muito ultrapassou essas dimensões”. Resta saber onde e quando vai parar e se alastra a toda uma Europa em crise.