O mundo dos blogues vive muito por contágio, e normalmente em vagas de fundo. É assim que nascem blogues novos, colectivos, que reorganizam o espaço virtual e acabam sempre por o enriquecer. Diria então que vivemos um tempo morno na blogesfera, parece haver pouca vontade de criar novos blogues colectivos, daqueles que se organizam em torno de uma ideia, ou mais ideias, ou de pessoas com afinidades. A não ser, claro, quando de uma dissidência nasce um novo espaço. Não é de todo o caso do meu destaque da semana – o novíssimo Risco Contínuo, que se pode encontrar em risco-continuo.blogs.sapo.pt/.
Estrada dos bravos, blog dos livres – assim se autocaracteriza o blogue onde se encontraram um conjunto de nomes tão variado e de origens tão diferentes que tem tudo para resultar num bom blog de leitura diária. Alexandra Marques, Duarte Calvão, José Abrantes, José Mendonça da Cruz, João Eduardo Severino, João Távora, MissangaAzul, Paulo Cunha Porto, Tiago Salazar e Vasco Rosa são os colaboradores deste Risco Continuo. Há jornalistas com e sem experiência em blogues, há bloguers que vêm de outras galáxias, há acima de tudo muitos pontos de vista diferentes. Nestes primeiros dias, os autores apresentam-se, mostram um ar da sua graça, acomodam-se à casa. Gostei especialmente do primeiro post de João Távora, onde de certa forma acaba por definir sem querer o próprio blog tendo como ponto de partida a sua experiência anterior: “A blogosfera proporcionou-me durante os últimos anos, o prazer de opinar, de dizer livremente o que me passava na alma, quantas vezes arriscando no arame os limites da exposição pessoal. Um risco por vezes mal calculado: talvez quem como eu escreve por gosto, nem sempre domine bem o bichinho exibicionista que lhe anima a alma irrequieta. É mais forte do que eu: não resisto ao risco contínuo”.
Noutro parágrafo, João Távora sublinha o ponto essencial que faz do mundo dos blogues, actualmente, o mais interessante e rico no debate politico, social, cultural: “Nos dias que passam (apesar de tudo cada vez mais interessantes), há um meio por excelência onde se pode experimentar verdadeira liberdade e diversidade: é na Internet e nos blogues onde pela sua natureza orgânica se contraria a realidade virtual produzida pelos media tradicionais tendencialmente avassalados ao sistema que os sustenta”. E remata com um olhar sobre o país: “Portugal deixou de olhar para o céu à procura de horizontes e passou a olhar para o chão á procura de migalhas... Frase lapidar esta, dum meu companheiro de causas que eu tanto gostaria de contrariar. Numa nação sonolenta e desapegada do futuro, (...) parece-me urgente recuperar o risco da utopia e a assunção do conflito de ideias. Uma letra viva e agitada que resgate as gentes do medo de existir... de pensar e de agir”.
É certamente nessa letra viva a agitada que o Risco Continuo aposta e investe. E nós cá estaremos para seguir o risco...