Este começo de semana traz de novo à luz do dia o espectro do julgamento popular. Por palpite, ou por puro palpite, condenamos uns, absolvemos outros. Talvez por isso me chamou a atenção um post de André Couto no blog Câmara de Comuns. Ele aproxima casos e pessoas e é inteligente o seu olhar. Vejamos: “A cada dia aumenta a sensação de deja vu quando leio algo sobre o caso BPN. (...) Aconteceu outra vez. O Presidente da República fez um comunicado a falar do acessório, sem se debruçar sobre o essencial: a posição de Manuel Dias Loureiro no Conselho de Estado, pela quota de nomeação pessoal do Presidente. Para além disto cada vez mais penso em Vale e Azevedo e Carlos Silvino. Vale e Azevedo foi o bode expiatório do futebol. Era preciso pegar em alguém e foi o fausto ex-Presidente do Benfica a comer (inteiro) o bolo que devia ter sido distribuído por inúmeros dirigentes desportivos cá do burgo. Já no Caso Casa Pia foi o carismático Bibi a ficar com a fava. Qualquer dia acredito que ele transportava as crianças entregando-as a "ninguém". Entretanto todos lavam as mãos do caso BPN. Será que também vou ter de acreditar que todos os frutos ficaram para Oliveira e Costa?”
Esta ideia começa a ganhar forma – a ideia do bode expiatório, de haver um desgraçado que paga as favas. E é isso que leva ao post do blog Jumento sob o titulo: “PAGÁMOS O BILHETE, AGORA QUEREMOS VER O ESPECTÁCULO”. Aplica-se, neste caso, ao BPN: “Os portugueses pagaram um preço demasiado elevado pelas trafulhices do BPN, os mais de mil milhões de euros foi quanto custou o bilhete, demasiado dinheiro para que agora nos escondam toda a verdade (...). Não basta transformar Oliveira e Costa no boi da piranha, o buraco é demasiado grande para que as investigações se concentrem no antigo tesoureiro do PSD. É preciso puxar a ponta da meada até às últimas consequência, limpando o Estado dos homens do BPN”.
Ainda neste domínio do bode expiatório, que seria o tema do dia se aqui houvesse um tema, encontro João Carlos Silva no blog “Causa das Coisas” falando de educação: “Mantenho-me fincado na minha tese: Maria de Lurdes Rodrigues é a cara de um pacote de políticas de José Sócrates e vai cair ainda a tempo das eleições, não sem antes as «reformas» na Educação passarem sob grande protesto. Passando ela como a «culpada» de tudo, bastará substitui-la antes das legislativas (...). É que sempre existirão ministros que, a dada altura da legislatura, só servem para isto, para se sacrificarem pela causa. Ministros que, como se diz na gíria, são «para queimar»”.
Exemplos diversos, todos do dia, para chegar a um mesmo lugar: gostamos de cultivar a teoria do bode expiatório, seja no crime, na politica, na finança, no futebol onde o árbitro ou o treinador dividem a culpa ou passam-na à vez. O objectivo é sempre o mesmo: alguém paga a factura. Numa clássica frase em tempo de crise, “o último a sair que apague a luz”.