Não há duvida que a blogoesfera se assumiu, nestes últimos anos, como mais um posto de vigia avançado sobre a sociedade. A blogoesfera em si não existe – mas os bloggers, aqueles que com a sua intervenção marcam a actualidade, acabam por constituir-se uma espécie de provedores permanentes da realidade.
Nesse sentido, os meios de comunicação social são agora monitorizados, fiscalizados, permanentemente avaliados pelos milhares de blogues que andam por aí.
Julgo que não me engano se disser que hoje os jornalistas escrevem com mais atenção, têm mais cuidado quando publicam, com receio desse olhar perspicaz, atento e imediato que pode vir da rede. E é por aí que vou hoje, com m caso único. Leio no blog Terapia metafísica um post curto assinado por Filigrana que diz assim: “Quando Ferreira Fernandes plagia é porque já está tudo escrito e, naturalmente, a culpa não é dele”.
O post deixou-me curioso e fui à procura do link. Encontrei uma crónica do jornalista Ferreira Fernandes que reza assim:
“Há uns dias, li um artigo no El País em que se lembrava que os chefes de Governo espanhóis tinham sempre um "Z" no nome, e Rajoy não o tinha. Ideia com piada, guardei-a no cantinho do cérebro onde guardo essas coisas, com o fito de usá-la, se desse jeito. As crónicas são feitas de saberes avulsos - que não são sempre citáveis (...) - mas o resultado deve ter uma personalidade própria e única. Quando Rajoy perdeu, usei a história do "Z" (...). Ontem, ao voltar a Portugal, deitando fora notas e papeladas, reli o longo texto do El País (...), o tal do "Z". Concluí, sem dúvidas, que me limitara a condensar o que Unzueta havia escrito. Esta é a questão: quem tivesse lido Unzueta não precisava de me ler, eu não acrescentava nada. Eu fiz um plágio. E não é porque sou o primeiro a dizê-lo que deixa de o ser. Tenho a consciência tranquila, mas não a subconsciência”.
O jornalista contou bem a sua história. Mas mais do que contá-la, ele antecipou-se a algo inevitável: um blog iria descobrir as semelhanças entre o texto do El Pais e o texto de Ferreira Fernandes e iria fazer de um erro, que pode acontecer a qualquer um de nós, um escândalo nacional.
Noutros tempos, sem blogues e sem net, duvido que o jornalista se apressasse a reparar o erro. Talvez o fizesse, se alguém algum dia o incomodasse. O que dificilmente aconteceria. Se a Internet mudou a nossa forma de aceder à informação, os blogues mudaram a nossa maneira de interpretar, pensar e vigiar a informação.
E obrigaram os media clássicos a redobrar cuidados e atenção no seu trabalho diário. Não sei se é bom ou mau – mas é a verdade.