Quinta-feira, 13 de Março de 2008

Posto de vigia

Não há duvida que a blogoesfera se assumiu, nestes últimos anos, como mais um posto de vigia avançado sobre a sociedade. A blogoesfera em si não existe – mas os bloggers, aqueles que com a sua intervenção marcam a actualidade, acabam por constituir-se uma espécie de provedores permanentes da realidade.
Nesse sentido, os meios de comunicação social são agora monitorizados, fiscalizados, permanentemente avaliados pelos milhares de blogues que andam por aí.
Julgo que não me engano se disser que hoje os jornalistas escrevem com mais atenção, têm mais cuidado quando publicam, com receio desse olhar perspicaz, atento e imediato que pode vir da rede. E é por aí que vou hoje, com m caso único. Leio no blog Terapia metafísica um post curto assinado por Filigrana que diz assim: “Quando Ferreira Fernandes plagia é porque já está tudo escrito e, naturalmente, a culpa não é dele”.
O post deixou-me curioso e fui à procura do link. Encontrei uma crónica do jornalista Ferreira Fernandes que reza assim:
“Há uns dias, li um artigo no El País em que se lembrava que os chefes de Governo espanhóis tinham sempre um "Z" no nome, e Rajoy não o tinha. Ideia com piada, guardei-a no cantinho do cérebro onde guardo essas coisas, com o fito de usá-la, se desse jeito. As crónicas são feitas de saberes avulsos - que não são sempre citáveis (...) - mas o resultado deve ter uma personalidade própria e única. Quando Rajoy perdeu, usei a história do "Z" (...). Ontem, ao voltar a Portugal, deitando fora notas e papeladas, reli o longo texto do El País (...), o tal do "Z". Concluí, sem dúvidas, que me limitara a condensar o que Unzueta havia escrito. Esta é a questão: quem tivesse lido Unzueta não precisava de me ler, eu não acrescentava nada. Eu fiz um plágio. E não é porque sou o primeiro a dizê-lo que deixa de o ser. Tenho a consciência tranquila, mas não a subconsciência”.
O jornalista contou bem a sua história. Mas mais do que contá-la, ele antecipou-se a algo inevitável: um blog iria descobrir as semelhanças entre o texto do El Pais e o texto de Ferreira Fernandes e iria fazer de um erro, que pode acontecer a qualquer um de nós, um escândalo nacional.
Noutros tempos, sem blogues e sem net, duvido que o jornalista se apressasse a reparar o erro. Talvez o fizesse, se alguém algum dia o incomodasse. O que dificilmente aconteceria. Se a Internet mudou a nossa forma de aceder à informação, os blogues mudaram a nossa maneira de interpretar, pensar e vigiar a informação.
E obrigaram os media clássicos a redobrar cuidados e atenção no seu trabalho diário. Não sei se é bom ou mau – mas é a verdade.

 
publicado por PRD às 20:04
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3 comentários:
De ferreira fernandes a 18 de Março de 2008 às 21:15
Pedro Rolo Duarte,
Não percebeste nada. Mas chegaste a conclusões bem definitivas. Escreveste isto:

“O jornalista contou bem a sua história. Mas mais do que contá-la, ele antecipou-se a algo inevitável: um blog iria descobrir as semelhanças entre o texto do El Pais e o texto de Ferreira Fernandes e iria fazer de um erro, que pode acontecer a qualquer um de nós, um escândalo nacional.
Noutros tempos, sem blogues e sem net, duvido que o jornalista se apressasse a reparar o erro. Talvez o fizesse, se alguém algum dia o incomodasse. O que dificilmente aconteceria. Se a Internet mudou a nossa forma de aceder à informação, os blogues mudaram a nossa maneira de interpretar, pensar e vigiar a informação.”

Tu, Pedro Rolo Duarte, só podias ter escrito: “(...) ele TALVEZ tenha querido antecipar-se...” Não podes é dar como facto provado que fiz uma revelação para me antecipar à inevitável denúncia.
Pega no meu texto que eu próprio pus em causa (DN, 10/03/2008). Pega no texto do El Pais de que eu disse estar na origem do meu (e para o qual fiz a ligação: texto de Patxo Unzueta, de 28/02/2008). O teu raciocínio para chegares à conclusão de que me antecipei é este: eu teria feito isso antes que inevitavelmente um blog me apanhasse. Leste essa minha crónica? Leste a crónica de Unzueta? Duvido porque nenhum blog, nenhum, nem tu (apressadinho de conclusões), me acusaria de plágio. E isso pelo seguinte: há duas semelhanças entre o meu texto e o de Unzueta – 1) a cabala do Z; e 2) a sondagem entre simpatizantes do PSOE e do PP. Duas, e nenhuma é semelhança que me obrigasse a esconder.
Os dois assuntos, 1) e 2), são assuntos sem dono. Vou explicar-te o que é propriedade em frases. A frase de Andreotti: “O poder não desgasta, o que desgasta é a falta de poder”, tem dono, nunca a diria sem citar Andreotti. Ter lido essa frase em quatro jornais espanhóis não me obrigaria a citá-los (nem o primeiro onde a li), mas se a usasse diria que é de Andreotti. A tê-la ouvido de Mariano Rajoy, eu haveria, além de referir Andreotti, de dizer que ela tinha sido dita por Rajoy (um sem poder desgastado)
A história 1), a do Z (todos os presidentes espanhóis de governos democráticos, Suárez, González, Aznar, Zapatero, têm Z no nome, logo Rajoy não pode sê-lo...), li-a em Unzueta mas é uma piada recorrente e antiga em Espanha. Busca na Net e verás dezenas de referências e tão antigas como de 2004. O assunto 2) é uma sondagem que Unzueta refere, mas foi glosada por toda a Imprensa (além de vir no EL País, e não só na crónica de Unzueta, lembro-me de a ter lido nas edições catalãs de La Vanguardia e do El Periódico).
Essas, 1) e 2), as únicas ligações factuais da minha crónica com a de Unzueta. Uma piada badalada e uma sondagem muito comentada. Dados de circulação generalizada a que nada me obrigava a citar onde os recolhera. Diz-me (mas vai ler primeiro) por que carga de água eu me teria apressado a confessar um plágio, antes de alguém inevitavelmente me topar o copianço? O meu problema com aquela crónica não foi o de tentar esconder algum erro. O meu problema é que ela era banal.
É isto o que tenho para te dizer e “isto” circunscreve-se à tua afirmação de que me apressei antes de que alguém me apanhasse. O que é falso.
O pano de fundo disto, uma crónica que intitulei “Eu fiz aqui um plágio” e em cujo texto reitero essa ideia, não está aqui em discussão. Se tivesses percebido alguma coisa até poderias aproveitar para divagar sobre a influência da net e dos blogues na escrita de alguma Imprensa, onde me incluo. Mas esse é um exercício que duvido que queiras fazer.
Ferreira Fernandes





De Filigraana a 21 de Março de 2008 às 17:41
PRD, o nome do blogue é terapia metatísica, que o f no meu teclado não tem muita saída.

Obrigada.


De credito a 7 de Dezembro de 2010 às 20:00
Oi, eu estava apenas procurando por alguma informação sobre esse tema, a fim de escrever um post no meu novo blog. Posso colocar um link para este post no meu blog? Graças.


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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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