Ora bem, hoje vou procurar na blogoesfera o futuro dos dias recentes – ou seja, tentar perceber o que fica depois da espuma destes dias de manifestações, confrontos e revoltas entre a sociedade civil e o poder que está. Se a blogoesfera define tendências, vamos ver onde elas estão. Tomás Vasques, no blog Hoje há conquilhas, é taxativo:
“Daqui para a frente, como as coisas estão, ou o país que ganha menos que os professores, que trabalha mais horas e que não participou na definição dos critérios que o avaliam diariamente dá sinais que está cansado da luta dos professores, ou o primeiro-ministro pede eleições antecipadas, como tira-teimas democrático ou, pior ainda, o poder cai na rua”.
João Pinto e Castro, no Blogexisto, remata: “não há dúvida que o governo se encontra sobre o fio da navalha”.
Sofia Loureiro dos Santos no blog Defender o Quadrado faz um ponto de situação que está muito para lá de uma guerra de professores:
“Foi verdadeiramente uma manifestação da classe média contra o governo, o desemprego, a redução do poder de compra e a crise que nunca mais acaba, a reboque do protesto de uma corporação que não quer mudar o que é obrigatório que mude”.
E mais à frente escreve: “Se Sócrates demitir a Ministra o governo acabou como tal, pois frustra-se e desautoriza-se a si próprio. (...) Se Sócrates não demite a Ministra, vai ter que aguentar a multiplicação e a ampliação dos descontentamentos vários, com as várias caixas de ressonância de todos os partidos políticos”
Rui Costa Pinto, no blog Crónicas Modernas, acha que “A substituição de Maria de Lurdes Rodrigues, a curto ou a médio prazo, é tão óbvia como a necessidade de um novo interlocutor governamental com capacidade para convencer os professores”. E considera que “José Sócrates é suficientemente inteligente para escolher entre a derrota e o suicídio político”.
Um beco sem saída para o Governo? Vital Moreira acha que não, no Causa Nossa: “Seria bom que não se confundisse a "democracia participativa" com uma suposta "democracia da rua". Os protestos de rua constituem obviamente um legítimo meio de pressão sobre os decisores políticos, conforme a sua força e o seu mérito. Mas não podem autoconstituir-se em instâncias de revogação ou de invalidação das decisões dos órgãos constitucionalmente competentes”
Por fim, encontro um longo texto de Bruno Alves no blog O Insurgente onde se deixam pistas para os futuros deste presente. Ele entende que “o Governo se encontra num equilíbrio precário: a sua propaganda assentava na sua “coragem”, “firmeza” e recusa em “recuar”, mas, obcecado com os resultados eleitorais, está condenado a desiludir se recuar e a enfurecer se insistir. O recurso à “rua” (...) torna-se assim apetecível, o que fará cada vez mais gente sair para a rua para protestar, sem no entanto ter esperança num caminho alternativo”.
Sem oposição à vista, o que resulta da maioria destas análises é essa ideia de beco sem saída: não há alternativa ao PS, mas parece que o tempo da paz entre governo e eleitores terá chegado ao fim. Pelos vistos, resta o protesto na rua.