Sexta-feira, 30 de Outubro de 2009

Macau

2009, entre muitas outras efemérides e datas para assnalar, tem uma que diz muito aos portugueses: há 10 anos, em Dezembro, Macau tornou-se uma Região Administrativa Especial da República Popular da China e deixou de ser administrado por Portugal.

Na verdade, os macaenses nunca deixaram de usar a sua língua, os seus costumes, e os portugueses nunca forçaram mais do que uma convivência educada.

Bom, 10 anos volvidos, Macau continua a ter um bocadinho de Portugal lá dentro – e a tecnologia ajuda, e o mundo dos blogues quase que pede.

Por isso hoje, no meu destaque da semana, trago não um mas dois blogues, ambos sediados em Macau, mas ambos de autoria de portugueses a residir no território.

Comecemos por BAIRRO DO ORIENTE, que fica em bairrodooriente.blogspot.com. Diz-se “Um blogue de Macau, sobre Macau”, e neste final de ano chega aos dois anos de vida. O que me interessou neste blogue é que ele mistura de forma muito consistente o universo de um português – que assina Leocardo – em Macau, com a observação de um português no mundo, e de um português que também não se desliga do seu país. É um três em um onde, além do óbvio, se podem ficar a saber coisas sobre como se convive entre civilizações num mesmo ambiente. Esta semana, por exemplo, Leocardo conta que, “Sendo pai de dois miúdos macaenses, considero-me em posição privilegiada de notar alguns comportamentos interessantes no que toca à convivência deles com o lado chinês da família”, isto é, os primos. Fala de “um verdadeiro “clash” entre a cultura do chá e a cultura do chouriço assado”: “O que mais nos surpreende é provavelmente a forma passiva como eles, os chineses, reagem a certas injustiças, ou o modo muito "zen" com que aceitam certas fatalidades como "inevitabilidades do destino". Ou ainda a forma como evitam a afeição ou o contacto físico com quem conhecem mal. Para nós os "amigalhaços" e as suas fêmeas são corridos a abraços e beijinhos, coisa que eles abominam. É aquilo que muita vez chamamos "sangue de barata".

E vai por aí fora, numa longa viagem pelas semelhanças e diferenças. O outro blog que destaco chama-se Hotel Macau, fica em hotelmacau.wordpress.com, é assinado por El Comandante Under, nasceu em 2008 e o autor é um português recente em Macau. No seu primeiro post, conta mesmo que “Até agora tudo tem corrido bem, pois a adaptação tem sido fácil e fui bem recebido por terras macaenses. A fúria consumista que se vive por estas bandas é impressionante  bem como a enorme massa de população emigrante de diversas proveniências como Filipinas, Indonésia, Vietname, Russia etc… Toda a economia no territorio gira em volta do jogo que aqui atinge proporções inacreditáveis”.

O Hotel Macau tem o interesse que pode ter um blog de um português emigrado – no sentido em que ele se dedica mais a Portugal do que Macau, e na maioria dos posts sobre o território limita o seu olhar ao lugar-comum.

Ou seja: por razões opostas, Bairro do Oriente e Hotel Macau são blogues que vale a pena seguir. Neste ano por causa dos 10 anos – no dia a dia, para quem quer ir cheirando na blogoesfera o perfume que vem de outros cantos do mundo, e em língua portuguesa.

publicado por PRD às 03:30
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Quinta-feira, 29 de Outubro de 2009

A Delphi - antes e depois

A blogoesfera também tem memória, e quando introduzo num motor de busca o nome Delphi, vou parar ao blog Câmara de Comuns e a um post de Paulo Ferreira em Dezembro do ano passado, 2008: “A Delphi de Ponto de Sôr já não vai fechar, as minas de Neves-Corvo e de Aljustrel também não e ficam (...) em mãos portuguesas”. O texto rematava com a frase clássica de Churchill: “Realmente "a democracia é o pior sistema, com excepção de todos os outros".

Menos de um ano depois, 15 dias passados sobre as eleições, a notícia mudou: “A fabricante norte-americana de componentes Delphi vai fechar a sua unidade em Ponte de Sor até ao final do ano, deixando cerca de 430 trabalhadores sem emprego”. Este é um drama duplo aos nossos olhos: porque é de mais uma pequena manigância politica que se trata, mas especialmente porque é de desemprego que se fala. No blog Aventar, João Paulo desabafa: “Ora cá está mais um exemplo de como o problema deste país são as pessoas que trabalham. É mais uma vez a Modernidade em pleno”. No Foguetório, Paulo Lobato nota que “No discurso da tomada de posse do XVIII Governo, o Primeiro-Ministro José Sócrates nunca mencionou a palavra Desemprego. Sendo, igualmente, verdade que aponta o emprego, a par do crescimento económico, como primeira prioridade, quero crer que o Primeiro-Ministro parece recear o vocábulo desemprego mais do que parecia recear aquando do seu anterior discurso da tomada de posse do primeiro Governo por si liderado”. Os links para a noticia sobre o encerramento da fábrica da Delphi deixam o leitor do blog a pensar...

No blog A ver o Mundo, Jorge Carreira Maia tenta ver o problema de um ponto de vista alargado: “Quarenta mil idosos passam fome em Portugal. Delphi fecha em Ponte de Sor e atira 430 pessoas para o desemprego. Certamente haverá explicações económicas para este triste panorama. As empresas estão obsoletas e fecham. As pessoas envelhecem, tornam-se obsoletas, ficam sem emprego, passam fome no ocaso da vida. Tudo isto, porém, não passa do sintoma de uma sociedade que nunca se preocupou em tornar-se mais adaptada à realidade e mais justa. A injustiça social, em Portugal, é companheira fiel da desadequação educativa, científica e tecnológica do país. Apesar de mirabolantes planos tecnológicos, planos que andamos a inventar há décadas - Sócrates não é o primeiro -, o destino, como numa tragédia grega, parece imutável”.

Enquanto tudo isto acontece e a blogoesfera se entretém com a pequena Alexandra e as surpresas do futebol, Tomás Vasques anota uma receita que vem da poderosa Alemanha: “A chanceler Angela Merkel anunciou que o seu governo (...) irá reduzir os impostos das empresas e das famílias a partir de 1 de Janeiro de 2010, medida que, de acordo com a sua perspectiva, incentiva o crescimento económico e diminui o desemprego. É uma boa notícia para os alemães”. O blogger comenta: “tenho um preconceito: sempre que um governo baixa imposto penso que o Estado está a ser bem gerido, sempre que há aumento de impostos penso, naturalmente, que o Estado está a ser mal gerido”. Por acaso, penso o mesmo...

publicado por PRD às 03:08
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Quarta-feira, 28 de Outubro de 2009

do pragmatismo à fantasia

Navegando sem destino de blog em blog, como gosto de fazer de vez em quando, vejamos o que encontro. Começo por encontrar um notável texto a propósito da história irónica do Padre apanhado com um generoso número de armas ilegais. Morgada de V, no 5 Dias, escreve: “Parece-me que foi Nietzsche quem acusou os advogados de não terem talento para usar a beleza do crime em benefício do criminoso, e temo que no caso do padre-guerrilheiro de Covas do Barroso não venham a fazer-lhe justiça. Que estava destinado a grandes causas revela-o logo o nome: o padre Fernando Guerra tinha em casa um arsenal suficiente para libertar o planalto barrosão do jugo lisboeta ou, como prefere o bispo de Vila Real, para acabar com as perdizes de meia dúzia de coutos. O povo acusa-o de ser belicoso (...), e a biografia sumária dos jornais não o desmente: diz-se que atacou à coronhada o coveiro de Covas (...). Há dois anos, foi atingido por tiros de caçadeira quando ia dizer missa a uma paróquia vizinha. Sobreviveu à cilada, mas foi agora miseravelmente caçado na sacristia de Covas do Barroso, uma aldeia com 300 almas”. O post segue o relato do jornal Público, descobre uma verdade incontornável: “pode tirar-se a estátua-guerreira da terra, mas não o seu espírito, como confirmam os eventos de domingo”. E termina em beleza: “Que o móbil do padre fosse o baixo comércio, como acusam alguns, não pode servir para desqualificar os seus actos num século em que escasseiam as grandes causas e já não há romanos para combater: o espírito de resistência está lá (...): Torga dizia que “o homem primitivo que nunca se resignara dentro [dele] só vinha à tona em toda a sua plenitude de cartucheira à cinta”; o padre Guerra leva a cinta farta de cartuchos e o ombro carregado de armas”.

Vale a pena ler o post na íntegra no Cinco Dias.

Na Civilização do espectáculo, Nuno Dias da Silva olha a televisão de ontem à noite, e avança: “Marcelo Rebelo de Sousa também já aceita participar em tertúlias de «paineleiros» futebolísticos, na defesa do «seu» Braga. Os sinais indicam que temos candidato a Belém”.

A propósito de futebol, noto o golpe de asa de Pedro Santana Lopes, sportinguista assumido que no seu blog reconhece a superioridade do adversário: “O Benfica, escreve Santana, está, de facto, com uma enorme capacidade concretizadora. (...) Cada vez é mais nítida, por este exemplo, a importância do Treinador, da sua concepcção de jogo, do que ele diz à sua equipa que espera dela”. Os tempos são assim, de surpresa, mas também de segredo. Ache primorosa a ideia que Maria João Freitas deixou no seu blog A Namorada de Wittgenstein a propósito da mudança da hora no fim de semana: “Hoje todos tiveram um segredo de 60 minutos. Deram-nos uma hora invisível para gastar onde, como e com quem quiséssemos. Um intervalo por onde deslizar como uma persiana entreaberta (...) . Hoje houve uma hora eternamente invisível para gastar num lugar sem espaço”.

É assim no mundo dos blogues: do pragmatismo à fantasia, há espaço e lugar para tudo...

publicado por PRD às 03:09
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Terça-feira, 27 de Outubro de 2009

O Benfica em glória

E o Benfica, meu deus! Não temos aqui olhado que tão bem vai na Liga Sagres e ontem mesmo ganhou 6-1 ao Nacional de Madeira, e diz quem viu que a justiça da arbitragem lhe daria mais dois golos... Alguns benfiquistas já se esqueceram do passado bem recente: Rodrigo Moita de Deus acha “Tudo Normal”, “O Benfica voltou a ganhar por seis. Carlos Martins voltou a sair lesionado”. Filipe Abrantes, no Insurgente, limita também o comentário: “Este ano o título não escapa”. Valupi, no Aspirina B, apesar de tudo recupera a memória: “Espero que se aguentem muito tempo no 1º lugar. E a dar espectáculo. O futebol merece este saudosismo”.

De passagem, momento intelectual puro, assinado por Francisco Nunes Vicente no Mar Salgado: “Se o partido é uma estrutura embrionária do Estado ( segundo Gramsci) , o Benfica é uma estrutura finalizada da sociedade. Não fazemos pirraça, não é esse o objectivo final. Antes de o jogo começar, aí sim, está correcto”.

Passada a interrupção intelectual, o Benfica mesmo: “Já não há margem para dúvidas que será muito difícil lidar com esta enxurrada de futebol ofensivo e dinâmico que é característica do Benfica 2009/2010, escreve Da Rocha no Livre Indirecto: “Os insulares até se entregaram muito bem ao jogo, mas tudo mudou quando Coentrão começou a destabilizar pela esquerda. (...) Os encarnados assumem a liderança, com uma terrível média de aproximadamente quatro golos por jogo”.

Tiago Cid no blog Pluribus Unum: “O Benfica joga largo. Há anos que não jogava largo. Mas isso não interessa nem para o menino Jesus. O Benfica joga com identidade. Ou com Mística, se quiserem. É isso que importa. A minha teoria, que vale o que vale, é esta. Porque, depois de um largo interregno, passou de um gajo porreiro para outro gajo porreiro. Do Toni, gajo porreiro, para o Rui Costa, outro gajo porreiro. (...) Temos como idiossincrasia, prontos, digamos, ser uns gajos porreiros (... ) Ora, hoje, o treinador percebe de bola mas não é um gajo porreiro. E os jogadores gostam dele precisamente porque percebe de bola (...). Não porque seja um gajo porreiro”

E por fim D’Arcy, na Tertúlia Benfiquista: “Conforme nos tem vindo a habituar, para o Benfica chegar aos quatro golos não é sinónimo de deixar de carregar, e parecia evidente para quem via o jogo que a probabilidade de aumentarmos a nossa vantagem era grande. O que acabou por acontecer já nos minutos finais. (...)
Têm sido tantas as goleadas, e tantos jogadores a jogar bem que este exercício de escolher melhores ou piores no final dos jogos anda a tornar-se algo difícil”. E remata assim: “Quanto a mim, e na questão dos nervos, agradeço é ao Benfica por me andar a poupá-los. É que agora só fico um bocadinho nervoso quando o Benfica não está a ganhar após um quarto de hora de jogo. E no final de cada jogo, sou sempre recompensado pelo mar de sorrisos que vejo sair da Luz”.

Não há duvida que o vento corre de feição pelos lado da Luz. Veremos como a coisa corre depois da psicológica época do Natal e da passagem de ano. Por agora, o sol brilha para aquele lado...

publicado por PRD às 03:10
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Sexta-feira, 23 de Outubro de 2009

Blog da Semana: O Alfaiate Lisboeta

“Nunca vos apeteceu fotografar alguém? A mim já. Não acham que há pessoas que têm o dom de vestir bem ou a audácia de o fazer de forma diferente? Eu acho. A ideia não é original. Talvez já nem venha a tempo de ser inovadora. Mas porque as boas ideias não se têm apenas mas também se aproveitam, decidi criar O Alfaiate Lisboeta”.

Ai está então o dinâmico, moderno e excelente observador blog Alfaiate Lisboeta – em oalfaiatelisboeta.blogspot.com. nasceu em Janeiro deste ano e acumula por lá um portfólio muito interessante de imagens e textos sobre pessoas com quem o autor se cruza na rua, e a quem pede para fotografar porque vê nelas tendênia, moda, criatividade, ousadia.

O primeiro post, por exemplo, exibia um adulto, em pleno Inverno, com uns calções e esta legenda simples:

“Porque é que o uso de calções haverá de ser prerrogativa de crianças e escuteiros?”

O Alfaiate mistura muitíssimo bem moda, roupa, e tendência, modernidade. Aqui há dias escrevia, debaixo de um conjunto muito dinâmico e criativo de fotografias de casais, um post notável sobre Lisboa, o romance e a distancia:”Lisboa é destino romântico é destino de engate. É spot gay é spot hetero. Viajantes cruzam-se e lisboetas encontram-se. E de cada ano que passa a cidade fica mais cosmopolita e globalizada e mais cosmopolitas e globalizados ficam também os casais que por aqui se avistam. Nos meus tempos de faculdade tinha um estranho fetiche em torno de me apaixonar por uma estudante Erasmus. (...) Encarava de forma romântica aquele dia da separação em que talvez (...) se chegasse à conclusão que merecia a pena continuar e validar uma relação por correio, e-mail, msn, skype e viagens esporádicas nas quais se poderia matar a saudade, consolar a libido e alegrar o coração. E só mais tarde percebi que a separação e a distância têm mais de tramadas e lixadas que românticas ou encantadas e (...) que era uma graça divina apaixonarmo-nos por alguém que paire perto de nós”.
O Alfaite Lisboeta pede sempre autorização para fotografar os seus modelos de rua. Na semana passada encontrou Diogo, a primeira pessoa com quem se cruza e que curiosamente conhecia o blog: “É uma sensação engraçada, diz ele. Por mais gente que aqui venha existe uma vida para além da blogosfera e é engraçado pensar que nesse mundo real feito de pessoas de carne e osso com quem me cruzo na rua, (...) haja também quem por aqui passe. O Diogo estuda Design de Moda e isso, cliché ou não, nota-se. É natural esperar-se de alguém que estude Moda que a veja – e sai outro cliché – para além do horizonte que os outros a avistam. Mas os clichés, note-se, existem por algum motivo. Existem porque fazem realmente sentido. (...) O Diogo quanto mim, estude lá o que ele estudar, é um miúdo muita giro. E sem querer parecer antidemocrático, para mim...é ponto final parágrafo”.

O Alfaiate lisboeta é divertido, modista, inteligente, e olha quem passe por Lisboa com olhos fora do comum. Só por isso, já merecia o destaque.

publicado por PRD às 03:14
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Quarta-feira, 21 de Outubro de 2009

Saramago, mais uma vez

"A Bíblia é um manual de maus costumes e um catálogo do pior da natureza humana" – assim falou José Saramago na apresentação do seu novo livro, "Caim", que se realizou em  Penafiel. O que esperava o escritor? Reacção. E ela não faltou um pouco por todo o lado, a blogoesfera acordou pela primeira vez desde as ultimas eleições. No blog 5 Dias, Ricardo Noronha tenta defender o indefensável: “qualquer tentativa de remexer pedras no passado cristão é acolhido com imediata hostilidade por parte dos meios eclesiásticos, sejam quais forem os termos usados (...). Dizem-nos que Saramago escreve motivado pelas suas convicções ideológicas.  Será que não o fazemos todos?”. Talvez sim, mas tenho dificuldade em encontrar quem concorde. Mesmo à esquerda, Daniel Oliveira escreveu: “Dizer (...) que tudo o que se lê na Bíblia é “absurdo” e “disparatado” não é apenas infantil. É, vindo de um escritor, revelador de uma assinalável ignorância e insensibilidade cultural”.

Agora vamos ás reacções, começando pelas intenções do escritor: “A única coisa que enoja é que nas suas campanhas publicitárias e para vender os livrinhos que lhe brotam da cabecinha se ponha a ofender galhofeiramente milhões de crentes (...). O homem pretende barulho, confusão, estardalhaço para vender as historinhas”. Assim escreve Vasco Lobo Xavier, no Mar Salgado. No Teatro Anatómico, Manuel Jorge Marmelo concorda e acha “que se trata de um truque de marketing relativamente gasto e cansado (...), criticar o catolicismo é uma actividade que não carece, hoje, de especial coragem”.

No Insurgente, Maria João Marques: “não são as burrices anti-católicas e anti-judaicas de Saramago que o tornam merecedor de ficar nos escaparates das livrarias em vez de em nossas casas, nem sequer o facto de não perceber do que escreve (...). Há muitos bons livros escritos, mais ou menos informados, que contraditam ou interpelam a Bíblia, e eu tendo a consumir o género. A razão para não ler Saramago é tratar-se de um mau escritor.”. João Carvalho, no Delito de Opinião, vai mais longe: “Saramago é um manual de mau gosto e não é de agora”. Bernardo Pires de Lima, no União de Facto, limita-se a olhar o “o pseudo-político, pseudo-ideólogo e aprendiz de ditador”: “uma criatura triste. No país que Saramago idealizou e quis praticar durante uns tempos, não existiu liberdade. E ele contribuiu bastante para isso”. Pedro Quartin Graça no Risco Contínuo: “É verdadeiramente mau de mais”. E faz um apelo com memória: “Volta Sousa Lara, estás perdoado!”.

 Miguel Marujo, no Cibertulia: “O problema dele é que lê a Bíblia e mete-a encafuada no seu sistema de valores - que só prevê o gulag, a tortura, o centralismo, o acefalismo da opinião”.

E podia passar horas aqui a reproduzir comentários deste tipo, confirmando o que escreve Pinho Cardão, no 4ª Republica: “Saramago continua vesgo. (...) interpreta literalmente textos de há mais de mil anos. Não procura o contexto. Não conhece a história. Não vê mais do que os seus ódios de estimação. É curto para um Prémio Nobel”.

E é aqui que a Janela se fecha: pensar que estas afirmações foram ditas por um Prémio Nobel, deixa-nos a todos um pouco envergonhados. Parece que sim.

publicado por PRD às 03:17
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Uma nuvem

Por um dia, deixemos a actualidade imediata e façamos um voo mais distante sobre o mundo. Acompanhemos por momentos Miss Pu no Blog dos Indecisos: “Há dias para cá, na leitura que faço matinalmente (…) pela imprensa diária nacional, tenho notado que o tema “depressão” ocupa desmesuradamente os cabeçalhos da dita. Ora, a meu ver, com a imprensa a martelar no tema desta forma, estão lançados os dados para que a nuvem cinzenta que paira sobre o País há meia dúzia de anos (que positivista!), teime em não sair. Pior, acomode-se de tal forma que nem o sol nos safa.
Mas contra factos, dificilmente se arranjam argumentos (…) “Nos próximos 20 anos, a doença mais comum do mundo não será o cancro ou as doenças cardíacas, mas a depressão, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).”

Miss Pu acaba o seu texto a dizer que rir é o melhor remédio e de passagem sugere que, “se não vivermos na expectativa, se não vivermos à espera que tudo aconteça, o que acabar por acontecer, o que vier ter connosco, será recebido com muito mais ânimo e um sorriso não improvisado”.

Num outro blog, A Cama, AC conta que foi a uma entrevista de emprego numa grande empresa e esteve 35 minutos à espera de ser atendida. Como não tinha nada para fazer, conta ela, “a partir de um determinado momento (…) constatei que só os homens me davam o respectivo "Bom Dia"”. Que fez ela: contou o numero de pessoas que passaram por ela e fez a estatística:

“Homens - passaram 28 e TODOS disseram bom dia.

Mulheres - passaram 31 e NENHUMA deu bom dia.

(…) Meninas... a inveja não mata, mas definha... e Bom Dia é o mínimo da boa educação nos dias de hoje. Vocês é que sabem... mas, nós mulheres ganharíamos muito mais se soubéssemos ser mais fãs umas das outras”.

E para fechar em beleza, aterro no blog O amor é um lugar estranho onde Kitty Fane

Elogia um post do blog Alfaiata Lisboeta para depois dizer: “precisamos de mais bloggers que escrevam estas coisinhas assim tão simples e ao mesmo tempo tão românticas. Estamos um bocadinho cansadas de homens que escrevem só sobre política, de homens que escrevem só piadas, de homens que só citam escritores atrás de escritores, que só falam dos filmes europeus que poucos viram (…). Precisamos de acreditar que afinal ainda há homens românticos que escrevem estas coisas bonitas”.

Em 3 blogues, a mesma ideia base: cansaço. A mulher cansada com o excesso da palavra depressão, a mulher cansada pela falta de um “bom dia” inspirador, a mulher cansada de ler as mesmas coisas e não ler o que quer ler.

Pelo mundo dos blogues noto, com frequência, este cansaço, esta nuvem cinzenta, esta falta de ar. A mesma que me conduz ao blog de Luís Filipe Cristovão, para fechar este voo rasante sobre um estado de espírito generalizado: “Muitas vezes pensamos que nos apetece ir existir para outro lado. Normalmente, quando no lugar onde estamos um pesado pé nos vai quebrando os ossos um a um. Tentam, à força, fazer de nós invertebrados. Nós não deixamos. E partimos”.

publicado por PRD às 03:16
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Sexta-feira, 16 de Outubro de 2009

O video de Maitê

Agora que o tema pacificou, dedico-me a ele até por razões pedagógicas. Nos últimos dias, o mundo dos blogues, da internet em geral, foi invadido aqui no rectângulo por um vídeo do you tube com 4 minutos que mostra uma reportagem feita pela actriz brasileira Maitê Proença para o programa de TV Saia Justa. A reportagem é feita em Portugal e basicamente é um gozo e uma ridicularização sem grande graça dos portugueses.

A coisa ganhou estatuto de escândalo: houve blogues a dizer que se em Portugal se cospe para o chão, no Brasil mata-se, e corre na net uma petição para um pedido de desculpas formal. No Facebook há um grupo da causa "Portugueses 'cospem' na Maitê Proença”.

Maitê Proença já fez esse pedido de desculpas, não sem antes explicar que o vídeo era uma piada, e que sentia haver pouco humor em Portugal.

Bom. O que acontece neste caso não é apenas os bloggers e os internautas verem o vídeo fora do contexto – porque se o vissem como outros vídeos que aparecem no programa, percebiam que era apenas um bocado de mau humor. Mas ainda assim humor. O problema é que o vídeo foi realizado e exibido há dois anos, e fala-se nele como se fosse desta semana.

O You tube e os blogues têm este pequeno problema: não sentem necessidade nem têm de enquadrar as imagens e os vídeos. E daí resultam grandes disparates – como uma indignação geral... com dois anos de atraso.

Francisco José Viajes procura explicar o fenómeno no seu blog: “Jantei com Maitê Proença em Lisboa, possivelmente na mesma altura em que a atriz gravou o vídeo (...). Nele, Maitê (...) dá por adquirido que os portugueses são inábeis, atrasadinhos, enfim – o costume. Durante esse jantar, Maitê mostrou-se encantada com Portugal, e creio que era mais do que simpatia. Mas no Brasil é outra coisa. Faz parte do gene brasileiro esse apetite saudável por Portugal, a velha metrópole de padeiros, açougueiros e gente desajustada. As jovens nações, entusiastas e adolescentes, acham gracinha a tudo. Comportam-se como crianças quando descobrem a careca dos avós. É natural e compreensível. Depois crescem. Ou pedem que lhes apreciemos as pantomineirices”.

Insisto: estamos a falar de um vídeo com dois anos e onde se percebe que não há qualquer tentativa de rigor – é uma espécie de vídeo caseiro de humor, bem típico do programa Saia Justa. Estou tentado a dar razão a Tiago Moreira Ramalho no Corta-Fitas: “Como a Maitê não é portuguesa, a Maitê não pode fazer uma brincadeira com os idiotas do hotel onde dormiu. Como a Maitê não é portuguesa, não pode brincar com o sotaque português”.

Mas por fim, o que conta é que o exagero e a desproporção do caso, que foi noticia de telejornal e de imprensa, resultam apenas dessa embriaguez pelo que surge na rede sem a necessária preparação técnica, que só mesmo os jornalistas têm, para procurar confirmar os factos, percebê-los, dar-lhes um sentido. O episódio Maitê Proença deixa um ensiamento: a ideia do cidadão-reporter, do jornalista que há dentro de qualquer blogger, pode ser uma boa ideia – mas não passa de uma ideia. Sem jornalismo profissional, este fait-divers continuaria um escândalo. Com jornalismo, ficou um folhetim de segunda ordem. É essa a diferença.

publicado por PRD às 03:19
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Poupar no psicanalista

Quando comecei a dedicar-me profissionalmente ao mundo dos blogues, há mais de 3 anos, aqui na Antena 1, costumava dizer entre amigos, e às vezes mesmo em entrevistas que fiz, que ter um blog também era uma forma de poupar no psicanalista ou nos antidepressivos.

Era uma brincadeira, mas tinha o seu fundo de verdade: na medida em que tenhamos um espaço onde desabafar, fazer sair de cá de dentro frustrações, dores, incómodos, na medida em que se possa exteriorizar o que nos vai na alma, um blog pode na verdade ser a ajuda que muitas vezes nos falta para um momento especifico.

Voltei a esta ideia esta semana, ao escolher o meu blog em destaque da semana. Não é um blog fácil de abordar ou de descrever. Do ponto de vista estético ou literário, não tem pretensões a ser mais do que aquilo que é. Mas aquilo que é tem um valor e uma importância que não se compadece com um olhar crítico. Se o trago ao destaque da semana, é porque ele pode inspirar outras pessoas – e é porque este blog é um exemplo de sobrevivência à morte. O mais difícil, portanto.

O blog chama-se “Estrelas do Céu”, o endereço é estrelinhasdoceu.blogspot.com. E é um blog de um pai que perdeu a sua filha, pequena ainda. “COMO A PRÓPRIA EDUARDA DIZIA, e Eduarda era o nome da menina, "MÃE TU ÉS A MINHA ESTRELA CINTILANTE". AGORA PASSOU A SER A EDUARDINHA, A ESTRELA CINTILANTE QUE BRILHA BEM DO ALTO DOS CÉUS”.

Joaquim Santos, o pai, alimenta diariamente o blog com textos poéticos, alusivos à vida, aos acontecimentos, ao que o rodeia, mas sempre sempre com a sua Eduarda na mira. Exemplo que deixo desta semana:

“Ontem choveu muito em Leiria. Os raios da trovoada, espelhavam o lado agressivo da natureza. Nenhuma passadeira resistiu aos transeuntes, sem que houvesse água em abundância para quem por artérias leirienses passasse... Sabes filha, gosto da beleza da natureza, do sol, arco-íris, flores, o verde, muito verde... Mas a chuva também faz falta, eu sei... Deus sabe dosear. Deus edificou o mundo com um propósito lógico, trazendo sempre a notícia: VALE A PENA ACREDITAR. Retrato-te hoje e sempre porque foste vista, sentida, ouvida e muito mais. Mesmo com esta chuva e trovoada assustadora, sei que permaneces aí, sempre aí, de perto, bem pertinho, de mansinho... (...) Afinal, és uma estrelinha do Alto. Daí, regulas o meu dia-a-dia e o tempo, o meu tempo...”

Estes posts não são para ser lidos a não ser por quem queira sentir-se solidário, ou sentir que algo tem a ver com a sua própria vida. Mas eu sei que Joaquim Santos quer ser lido – e quer de alguma forma espalhar a mensagem mais simples de todas: num blog, no mais modesto blog, pode estar o escape que nos falta para acertar contas com o que nos dói, com o que mexe connosco. Aqui há dias li uma entrevista de alguém que passa por esse terrível facto e dizia: perder um filho é como ter uma doença crónica. Temos de nos habituar a viver com esta doença.

Pensei nisso, uma vez mais, ao ler o blog dedicado à Eduarda. O blog onde o pai vai aliviando essa doença crónica que ninguém deseja viver, transformando-a em algo mais doce e suportável, mais humano. Foi a forma que encontrou de não desistir de uma ideia de felicidade. E essa busca é a chave de tudo.

publicado por PRD às 03:18
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Quarta-feira, 14 de Outubro de 2009

Circo de feras

Já ontem abordei numa primeira versão a noticia, mas ela foi crescendo o longo do dia e mesmo hoje ganha novos contornos com um eventual apelo à Europa para modificar a ler que proíbe a compra de animais e impede a sua reprodução nos circos. Na prática, a portaria 1226/2009 acaba, a prazo com os animais nos circos: leões, elefantes, macacos. Maria Costa, no blog uinta da Ribeira, acha que “esta lei até já vem tarde. Quantas vezes passei pelos circos e reparei nas más condições em que os leões eram  mantidos e transportados. Finalmente sai a lei que vai terminar com isso”. Helena Matos no Blasfémias lembra a frase clássica e faz um titulo bom: “O Circo quando falta o pão”. Escreve:

“Os tigres dos circos não se podem reproduzir. Os macacos idem. Enfim nada disto tem importância por nada disto é para cumprir. É para ir cumprindo. Se a malta chateia lembram-lhe a legislação. Primeiro foi com a comida. A ASAE parecia omnipresente e omnipotente. Depois tivemos a fase da ginástica, dos ginásios e dos pescadores que tinham de andar de fita métrica para verificar a quantos metros estavam uns dos outros. Agora chegou a vez dos circos. Sugiro que a seguir se legisle sobre os palhaços. Não é aceitável que um ser humano seja achincalhado como acontece no número do palhaço rico e do palhaço pobre. Após os palhaços deve o legislador (...) recomendar que se legisle sobre a ausência de prática desportiva entre as crianças ao fim-de-semana e o nº de pactotes de batas fritas que ingerem enquanto vêem séries de televisão esticadinhas no sofá”.

No mesmo blog, JCD, depois de analisar alternativas possíveis à lei, deixa um irónico apelo: “Vamos lá, jugulares, defensores de causas profissionais e outros bloquistas, temos aqui temos uma nova causa fracturante, mexam-se. Lutemos juntos pela defesa do direito dos animais circenses a terminarem os seus mandatos com dignidade”.

Mais a sério, no Câmara de Comuns, João Feijão Maurício pergunta: “Será tão mais fácil proibir macacos, elefantes, leões, tigres, tartarugas etc, do que obrigar os circos a tratá-los como deve ser...?”

Neste ponto da polémica, há quem se interrogue sobre oitras utilizações dos animais igualmente polémicas. Se Victor Hugo Cardinali perguntou "Qual é a diferença entre ter um leão ou um passarinho numa jaula?", Blue Water no blog Make jeto moço deixa outra pergunta no ar: “que justificação pode ser apresentada para atenuar a hipocrisia e cobardia dos legisladores, ao não incluírem na mesma lei, os animais que protagonizam as cenas seguintes?”. As cenas seguintes são touradas. Remata, com a pergunta que Cardinalli podia ter feito: “Qual é a diferença entre ter um leão numa jaula ou um touro numa arena?”

Já Pedro Correia, no Delito de Opinião, publica uma foto da águia Vitória no Estádio da Luz e deixa também uma pergunta: “Será que a exibição desta ave de rapina também vai ser proibida em nome da inalienável defesa dos direitos dos animais?”

Perante tantas perguntas, e uma polémica que ameaça prolongar-se, razão tem o ABC do PPM: “Restam os palhaços, mas para ver esses não é preciso ir ao circo”.

publicado por PRD às 03:22
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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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