Sexta-feira, 29 de Agosto de 2008

Blog da Semana: Portugal Rebelde

The Guys From The Caravan, Gritali & os Tratante, Monomonkey, Projecto Fuga, Green Machine, Fado Morse – estes nomes dizem-lhe alguma coisa? Se a resposta é não, estamos juntos. A mim, também não. Mas eles existem e são nomes de bandas portuguesas de musica, mais rock, menos rock. E multiplicam-se como cogumelos, e existem para lá das rádios e das televisões e dos jornais.

Tudo começou com o fim do processo clássico de edição discográfica, aquela sequência editora-estudio-disco-promoção e loja. Depois, a massificação dos instrumentos, do software musical, e a possibilidade prática de, com pouco dinheiro, montar uma banda e gravar um disco. Por fim, os sites como o myspace, a selva onda cada um tem oportunidade para divulgar a sua musica, e ainda os blogues e os sites de internet. Tudo isto criou um caldo de nova cultura que vive independentemente do chamado mainstreem.

É assim que estamos em 2008 – um mundo paralelo de musica e de músicos anda por aí, desenvolve-se, ganha admiradores, tem musicas a circular. E há blogues, naturalmente, que acompanham a corrente.

Escolhi para meu blog da semana um dos mais atentos e rigorosos, cheio de informação, muito actualizado: chama-se “Portugal Rebelde”, é assinado por António Manuel Almeida, de Peso da Régua, mas a distância é aparente. Afinal, nos dias que correm, de qualquer parte se acede ao mundo todo. Passeando pelo Portugal Rebelde conhecemos novas bandas, projectos inovadores, temos agendas e planificação de concertos e festivais, temos noticias, vídeos, enfim: o autor prometeu em Dezembro de 2006 e continua a cumprir: “espaço que pretende divulgar as actividades, concertos, lançamentos que as bandas portuguesas estão a preparar”. Há lá um mail que recebe informação e depois difunde.

E há ligações tanto para blogues, páginas do myspace e sites de bandas, como também para outros blogues de critica e divulgação. Eis aqui, então, um espaço útil para quem não quer perder o fio à meada da musica. Confesso que fiquei impressionado com a viagem: em média, em cada 10 nomes que encontrei no “Portugal Rebelda”, nove era absolutamente novos para mim. Faça também a experiência em http://portugalrebelde.bogspop.com. E haja musica, sempre...

publicado por PRD às 14:40
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Quinta-feira, 28 de Agosto de 2008

Crime, diz ele (variação sobre o mesmo tema...)

Agora é assim: os primeiros vinte minutos de qualquer noticiário televisivo inclui o rol dos crimes - assaltos a bancos, assaltos a bombas de gasolina, ameaças, armas, tiros. Inevitável voltar ao tema, tanto mais que ontem Cavaco Silva veio dizer que “a onda de crimes aumentou significativamente” e que “não há dias sem assaltos”. Paulo Gorjão comenta: “O que surpreende (...) é que em vez de sugerir ao primeiro-ministro em privado a adaptação da estratégia governamental de combate ao crime, Cavaco Silva tenha optado por expressar publicamente a sua preocupação, ainda por cima depois de o PSD ter pedido a demissão do ministro (...) Rui Pereira”. João Miranda, do Blasfémias, chamou-lhe “uma intervenção ao nível da conversa de café”, e Jorge Ferreira, no Tomar Partido, puxa pela memória: “Cavaco Silva devia lembrar-se que foi Primeiro-Ministro dez anos. E devia, sobretudo, lembrar-se do que fez às polícias no seu tempo e no que fez ao Código Penal no seu tempo”.

Sobre a vaga de crimes, bom, o mundo dos blogues continua dividido na forma como observa o que se passa. No 31 da Armada, Rui Castro defende que este aumento da criminalidade resulta de “deficiente prevenção” e “uma ausência de punição, em consequência de uma justiça que não existe”. Receia mesmo que um dia destes vejamos “a populaça começar a pegar em armas e a fazer justiça pelas próprias mãos”.

No Teatro Anatómico, Manuel Jorge Marmelo retira carga ao tema: “Ignoro se há realmente um problema de insegurança no país. Talvez haja. Há todos os anos em Agosto. Ou insegurança ou fogos florestais. Agosto é o mês da Administração Interna”.

Talvez tenha razão. Recuperando esse lado tablóide da informação, encontro no blog A Pente Fino. Miguel Carvalho, um texto revelador. A propósito de uma notícia cujo título diz “Crimes violentos estão a aumentar”, escreve ele: “Quando se lê a notícia percebe-se que afinal há alguns tipos de crime violento que estão a aumentar, sendo o título portanto abusivo, enganador e sensacionalista. Se houver mais violações e menos homicídios será que podemos afirmar que os crimes violentos estão a aumentar... ou a diminuir? Se me apetecer olhar para o carjacking, tenho direito a um título sensacionalista. Se me apetecer olhar para os homicídios (...), então - como a própria notícia o diz - então tenho a criminalidade a descer!! Tanto uma como outra escolha não dão um retrato fiel da realidade...”

Não temos uma realidade clara, vamos até à ironia com graça de João Pinto e Castro no blog 5 Dias, sob o título “Fiasco”: “Dois infelizes que se deram ao trabalho de assaltar um banco não conseguiram sacar mais do que uns míseros 750 €, sendo ainda por cima forçados a fugir a pé por o produto do roubo não chegar para pagar o táxi. Manifestamente, nem a escola prepara as pessoas para a vida, nem o país premeia o esforço individual”...

publicado por PRD às 14:36
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Quarta-feira, 27 de Agosto de 2008

Era uma vez na América

Convenção democrata, tentativa de atentado a Obama, aproximação às eleições, enfim, o momento americano volta a estar na ordem do dia, e lá vou atrás dele. Descubro dois blogues exclusivamente dedicados a esta eleição. Um deles, de Nuno Gouveia, insere-se no âmbito da dissertação do seu mestrado e chama-se apenas Eleições Americanas de 2008. Explica que a “Convenção afigura-se de extrema relevância para a campanha de Barack Obama. Se pretende chegar à Casa Branca, terá que começar a ganhar em Denver as eleições. Normalmente, os candidatos dão um “salto” nas sondagens após as convenções”. No blog Bom Gigante, R. Cataluna confirma: “A Convenção Democrata marca, de certo modo, o início da corrida deste Partido à Casa Branca. Agora é que a campanha a sério vai começar. Obama tem poucas semanas para demonstrar de que massa é feito. (...) Até que ponto (...) os EUA estarão preparados para enterrar a questão racial e eleger um Presidente Negro?”.

Uma boa pergunta que ontem ganhou novos contornos, com as tais ameaças a Obama. Outro blog inteiramente dedicado ao tema, o  América 2008, de N. Salgueiro, analisa as noticias:”este incidente só vem reforçar os receios de que Obama seja vitima de um atentado pelo facto de ser negro. No entanto, todos os candidatos recebem (...) protecção dos serviços secretos - o que significa que não sendo impossível, é bastante mais difícil do que era antes, e é necessário um nível de organização e planeamento muito para além do típico supremacista branco com uma carabina”.

No blog 5 Dias, Rogério da Costa Pereira chama à ameaça de assassinado “a Marinha Grande de Obama”. Para bom entendedor...

E falando ainda na Convenção Democrática, encontro Bernardo Pires de Lima no Atlântico: “Posso estar enganado (...), mas parece-me que Obama começa a sofrer do mesmo que atingiu, por exemplo, Pedro Passos Coelho durante as directas do PSD: umas semanas a mais de campanha. Tivesse esta sido mais curta e provavelmente não se encontrariam tantas incongruências no discurso ou um gritante reconhecimento (...) de que a política externa e de segurança não é de todo o forte de Barack”.

Bom, voltando à terra, aterro no Vox Pop de Paulo Gorjão: “a comunicação social começa a prestar especial atenção aos bastidores das candidaturas, procurando identificar os nomes que estão por detrás dos candidatos e que muito possivelmente irão fazer parte da futura equipa presidencial. (...) A dimensão das equipas é de fazer inveja, a mim pelo menos. Barack Obama, segundo se calcula, conta com o input de cerca de 300 especialistas, isto só no domínio da política externa e internacional. Também neste domínio, John McCain tem o apoio prestado por uma equipa de 75 especialistas. Naturalmente, em termos de escala, não seria realista exigir algo semelhante em Portugal. Um décimo destes valores, por sector, seria um bom começo…”.

Fecho a Janela, portanto, olhando a América de uma varanda portuguesa. Não há comparação, claro – mas a tentação é tão grande nos dias que correm...

publicado por PRD às 14:34
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Terça-feira, 26 de Agosto de 2008

Regresso ao Chiado

A semana começou com a memória, a saudade e um nome: Chiado. O incêndio do Chiado fez 20 anos, o “dia em que uma certa Lisboa acabou”, como escreveu André Abrantes Amaral no Insurgente.

Duas décadas passadas, há feridas por sarar e polémicas entreabertas: o arquitecto Siza Vieira lamentava no Púbico os preços do metro quadrado no Chiado, as rendas caríssimas só ao alcance de alguns – e Lourenço, no blog Complexidade e Contradição, não percebia a critica e respondeu: “Os «meios jurídicos de controlo das rendas» foi o que nos trouxe até este estado de degradação generalizado, e que potenciou o incêndio do Chiado. Ser comunista não pode ser desculpa para não se aprender com os erros. (...) O Chiado é talvez a área mais bonita de Lisboa. Por isso, é a mais procurada. Por isso, é a mais cara. (...) E é assim que deve ser”.

O fotógrafo Luiz Carvalho tem com o Chiado uma relação próxima e conta no seu blog, Instante Fatal, como há 20 anos acordou, e foi a correr fotografar o fogo: “Subi a Rua Garrett, sem saber para onde me virar, sem saber o que fotografar. Tudo ardia. (...) A confusão era total. À minha frente via arder um património que sempre foi a minha referência lisboeta. Onde passei anos a estudar a caminho das belas-artes e a conviver com amigos”.

Faz depois o balanço pessoal: “O Chiado esteve paralisado mais de 10 anos, entaipado, adiado. Só há pouco tempo renasceu e com pujança. Embora o projecto de Siza seja um absurdo que não contemplou estacionamentos para os novos habitantes, nem zonas de comércio, nem escolas”. Mas, reconhece, “Com todas as limitações o Chiado, graças aos parques de estacionamento mandados fazer por João Soares, é hoje uma zona acessível, cara, mas de um fascínio urbano único. É a das zonas do Mundo que mais gosto”.

Testemunhos destes multiplicam-se na blogoesfera – mas é no meio desta floresta que encontro o depoimento de Pedro Santana Lopes no blog com o seu nome:

“O grande balanço que, no dia de hoje, e nos próximos dias, deve ser feito sobre o Chiado é: SABER-SE O QUE FOI FEITO, DURANTE ESTES VINTE ANOS, DESDE O INCÊNDIO. E, em sequência, analisar-se o que se está a fazer, neste momento, e o que vai ser feito nos próximos tempos. Tudo o resto é conversa, conversa, que todos os anos é feita. Passam as imagens e os sons do incêndio, ouvem quem vive na zona ou estava por perto, lembra-se, devidamente, quem mais sofreu, passa-se a imprensa estrangeira da época, mas... E obra? Grémio Literário, Rádio Renascença, Círculo Eça de Queirós, Edifício Leonel (com o Elevador de Santa Justa), entre tantos outros, são capazes de ter uma ideia. OBRA, GESTÃO DOS DINHEIROS PÚBLICOS afectos à reabilitação do Chiado. Quem usou e como usou? QUANTA OBRA? ESSE È O GRANDE BALANÇO. ESSA È A OBRIGAÇÃO, PARA COM LISBOA E PARA COM PORTUGAL”.

Santana Lopes tem razão – mas no tempo em que foi Presidente da Câmara esse balanço também não foi feito. É mais fácil falar quando se está de fora – mas essa ideia é, afinal, um pouco a própria ideia subjacente ao mundo dos blogues...

publicado por PRD às 14:32
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Segunda-feira, 25 de Agosto de 2008

Crime, dizem eles

Quem não embarcar facilmente no peixe que nos querem vender talvez possa dizer o mesmo que JCS disse no blog Lóbi: “Há uma coisa que eu gostava de tentar perceber (...). Há um efectivo aumento da criminalidade ou é a comunicação social que está a empolar acontecimentos banais? Talvez um Agosto mais fresco tenha estragado os planos das redacções que se preparavam para encher um mês inteiro com incêndios. Ou talvez não. Era importante perceber isto”.

Pois era, e o tema tem atravessado o mundo dos blogues, entre quem acha que a coisa está preta, como diz a canção, e quem vê alarme onde há apenas normalidade. Samuel de Paiva Pires, no blog Estado Sentido, recorda que Portugal “obtém nos rankings internacionais sempre grande destaque como um dos países mais pacíficos e seguros do mundo”, mas nota que “umas das funções do Estado (...) é precisamente providenciar aos cidadãos uma efectiva garantia de segurança (...). Caso contrário, numa situação extrema corre o risco de se tornar um estado falhado (...), ou então pelo menos (...) extremamente violento”.

Diria que Samuel vai adivinhando o Portugal que temos visto na Televisão e que levou João Miranda, no Blasfémias, a escrever: “Se a actividade política e económica diminui em Agosto e se o número de crimes se mantém, as notícias sobre crimes ocupam a atenção e o espaço noticioso normalmente dispensada a outras notícias. O resultado é a ilusão de que o número de crimes aumentou”. No Mais Actual, Rui Costa Pinto confessa mesmo a sua “Falta de pachorra para o alarido em relação aos crimes violentos”. No Defender o Quadrado, Sofia Loureiro dos Santos lembra que “Todos os Verões é pedida a demissão do Ministro da Administração Interna”, e explica que o nosso sentimento de insegurança “é real”, porém “altamente insuflado pelo tipo de jornalismo tablóide em que se transformou a informação”.

Talvez por isso, Medeiros Ferreira no seu Bicho-carpinteiro reflecte o fenómeno da seguinte forma:

“Alguém está a rezar pela pele do honesto Ministro da Administração Interna, Rui Pereira. Há neste processo da violência estival algo que me faz lembrar a campanha contra Fernando Gomes, embora me pareça que os criminosos não são os mesmos...”

Pois bem: por causa desta aparente vaga de crimes, logo o PSD pediu a demissão do ministro, e escreve Poetisa, no blog Parque dos Poetas: ”Não tardará muito que, se cair um meteorito em Lisboa ou Porto, se peça a demissão do Ministro da Defesa”. Vital Moreira, no Causa Nossa, vê o PSD sair do “seu tumular silêncio” e exclama: “É pior a emenda do que o soneto. Dar sinal de si para competir com o PP na exploração demagógica da insegurança não é próprio de um partido responsável candidato à governação”.

Como se não bastasse, vem hoje o Diário Económico antecipar o Orçamento e anunciar cortes valentes nos dinheiros da administração interna, isto é, das polícias. Rui Castro, no 31 da Armada, limita-se a dizer: “aguarda-se desmentido”. Como quem diz: queremos mesmo um país seguro e em paz...

publicado por PRD às 14:29
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Sexta-feira, 22 de Agosto de 2008

Blog da semana: Onde só chega quem não tem medo de naufragar!

 

“Onde só chega quem não tem medo de naufragar!” – eis um titulo comprido para um blog, mas a liberdade tem destas coisas: é mesmo assim que se chama o blog de Miguel Arrobas, um advogado nadador que meteu na cabeça atravessar o canal da Mancha a nado. Quem pense que isto é pura loucura, engana-se: uma rápida investigação na net permite perceber que há um tipo especifico de natação com competição chamada de “águas abertas”. A diferença para a natação clássica é justamente não ser praticada em piscina, mas sim em mar, rio, barragens ou lagos.

A travessia do Canal da Mancha insere-se nesta modalidade e é registada oficialmente. Miguel Arrobas, depois de uma carreira que passou pela natação olímpica, pelo pólo aquático e por outras modalidades desportivas, decidiu então tentar a sua sorte, depois de treino intensivo em Portugal. Foi bem sucedido – e o seu blog, com o nome comprido, é um exemplo de amor e paixão. Não tem apenas os relatos dele, a experiência da travessia, os vídeos dos programas de televisão – tem maravilhosas cartas do pai de Miguel, com ensinamentos e lições de vida. Tem as palavras meigas da mulher do nadador, apoiante da primeira hora. E tem ainda argumentos que justificam a iniciativa, na preservação do ambiente, por exemplo.

“Onde só chega quem não tem medo de naufragar!” é o meu blog da semana, pode ser encontrado em miguelarrobas.blogspot.com. Podia ser outro blog, O Sonho da Mancha , de Nuno Vicente, que também este Verão atravessou o canal. Ambos merecem visita.

Mas este, de Miguel Arrobas, tem as palavras de um pai que escreve assim:

“Sei, como teu Pai, que embora me possa apetecer pedir o Mundo para o meu Filho, o meu Filho é suficientemente Grande e Humilde para não querer nada disso e lhe bastar o Amor de Deus e o Carinho e o Amor de todos nós que também o amamos tanto. Haverá medalha maior que a de ter no peito a da "Ordem do Amor"? Sabemos, na nossa família, que não. E todos nós sabemos que foi por Amor que venceste e te venceste. Sei que duas Associações recebem contributos teus, pelo esforço que fizeste. Obrigado meu Filho por saberes dar, por te saberes dar, e, tal como o poeta Carlos Queiroz pergunta no começo de um dos seus poemas, "Menino, queres ser meu Mestre?", também eu faço a mesma pergunta, disposto como estou a continuar a aprender contigo, como fiel admirador e discípulo. Continua a ser o Homem que tens sido, porque como alguém disse "primeiro sê Homem e depois sê Anjo". E como na letra de um fado, "e se não fosse pecado, queria-te mais do que a Deus".

Merece tudo, bem me parece. Merece ser a minha escolha desta semana.

publicado por PRD às 18:11
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Quinta-feira, 21 de Agosto de 2008

Divórcio entre Belém e S. Bento

 

Uma tragédia brutal em Espanha e mais uma vaga de crimes a que não estávamos habituados deixou cair ontem a noticia do dia, mas como o mundo dos blogues vive mais da opinião do que dos factos, na verdade o veto de Cavaco Silva à lei do divórcio acabou por ser o tema mais comentado do dia.

Vasco Campilho, no blog com o seu nome, faz justiça a outro blogger: “A propósito da promulgação do novo mapa judiciário, Paulo Gorjão observou há dois dias: “Primeiro um doce para o governo. De seguida, aposto que se segue um amargo de boca. Resta saber qual será o veto a anunciar.” Ficamos a saber hoje que era o novo regime jurídico do divórcio. Isto é o que se chama métier.”, remata Campilho.

Paulo Gorjão, ele próprio, prefere olhar para a frente: “volta a surgir especulação sobre o futuro da cooperação estratégica. (...) Muito provavelmente, o primeiro-ministro vai esperar para ver quantos e quais serão os diplomas vetados por Aníbal Cavaco Silva. Nota-se, porém, que anda no ar uma certa vontade de dar uma lição ao Presidente da República. Mostrar quem manda, por exemplo aprovando na íntegra um diploma tal como foi vetado por Cavaco Silva. A prevalecer esta tese, o Regime Jurídico do Divórcio surge como potencial candidato (...). Veremos. Mandaria o bom senso que S. Bento não cedesse à tentação de dar uma lição ao Presidente da República”.

Sobre o veto de Cavaco, as opiniões dividem-se. Vital Moreira, por exemplo, no Causa Nossa, acha que “Não estando embora em causa nenhum abuso de poder constitucional, trata-se (...) de uma clara ampliação da intervenção presidencial na função legislativa”. João Gonçalves não concorda e acha mesmo que “o presidente não se pode comportar como o notário-mor do regime, disposto a assinar a primeira porcaria que lhe coloquem na secretária”. E acrescenta: “Eu ainda acredito na força simbólica de alguns gestos. Gestos com este, de hoje, do presidente.” Pedro Morgado, no Avenida Central, vê como um veto “essencialmente ideológico, assentando na visão do Presidente sobre o que deve continuar a ser e a significar o casamento civil. Esta é uma posição inegavelmente legítima”. Legitima e certa, na opinião de Carlos Loureiro, no Blasfémias: “A nova lei, partindo do paradigma do casamento como um espaço de afectos, esquece aquilo que ele é, antes de mais: um contrato, do qual resultam direitos e deveres, (...) livremente assumidos e parcialmente configuráveis pelas partes, ao abrigo da tal liberdade contratual de que fala Cavaco Silva”.

Daniel Oliveira acha que “Nada na lei do divórcio corresponde aos principais argumentos expostos no comunicado da Presidência da República para justificar o seu veto político”. E pensa que tudo, nesta atitude de Cavaco, se resume à “defesa de uma determinada visão do que deve ser uma vida a dois: um contrato para a vida, mesmo que se transforme numa penitência”.

Sobre isso não há duvida: uma lei corresponde sempre a uma determinada visão do Mundo. Neste caso, parece que entre Governo e Presidente ainda há uma vaga ideia de esquerda e uma vaga ideia de direita...

publicado por PRD às 18:09
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Quarta-feira, 20 de Agosto de 2008

Olimpiquices

 

“Se há competição onde perder não envergonha, é nos Jogos Olímpicos. Perder é também uma festa, lá onde o melhor está em participar” – isto escreve Valupi no blog Aspirina B.

Mas isto é excepção: a regra é, na blogoesfera, pancada da grossa na delegação portuguesa aos Jogos Olímpicos, e agora que Vicente de Moura anunciou demissão, a coisa ferve. Exemplos soltos do que por aí se diz:

Eduardo Pitta, no blog Da literatura, considera “lamentáveis” os resultados e declarações “da trupe que está a representar Portugal em Pequim”. Victor Abreu, no blog Jantar das quartas, chama à nossa a “cada vez mais esquelética representação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim”, e pede aos organizadores dos Jogos de 2012 para marcarem “uns horários da tarde para as provas dos "nossos”, depois de ouvir um participante português confessar que provas pela manhã, nem pensar, de manhã é na caminha...

Pedro Correia, no Corta-fitas, reconhece que Vanessa Fernandes “resgatou o péssimo comportamento da representação olímpica portuguesa”, e recorda que “houve uma menina que confessou não estar vocacionada para aquele género de competições, (...) um cavaleiro que desistiu por uma égua ter ficado "histérica" e até um ciclista que regressou a Portugal antes de competir por descobrir que os ares de Pequim não lhe faziam bem à asma”.

Acrescenta o jornalista: “Toda esta gente recebe há anos subsídios de alta competição (pagos pelo erário público) (...). Na hora da verdade, quase todos se portaram mal - o que valeu até críticas bem justificadas da própria Vanessa Fernandes e um reparo - que só pecou por tardio - do presidente do Comité Olímpico Português”. Recomenda Pedro aos atletas: “é bom que pensem duas vezes antes de embarcarem para novas olimpíadas”. Para fazer o quê?

Exactamente o que João Miranda, no Blasfémias, diz que os portugueses têm feito: turismo. Mas tem análise na coisa: “o turista olímpico está muito mais próximo do espírito original dos jogos do que o atleta-funcionário-público. (...) O erro não está na figura do turista olímpico, mas na figura do atleta-funcionário-público. Acabem com os atletas-funcionários-públicos. Não lhes paguem, e o assunto fica resolvido”.

Para contrariar este espírito que grassa pelo mundo dos blogues, fecho com uma ideia diferente e divergente, que pode não dizer nada mas dá que pensar. Encontrei em Pedro Sales, no blog Zero de conduta, e nota esta diferença: “a Austrália investe 33 vez mais dinheiro do que Portugal. Eles têm 35 medalhas, Portugal tem uma. Estas coisas contam. Têm a certeza que querem medalhas ou é só conversa?”

publicado por PRD às 18:30
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Terça-feira, 19 de Agosto de 2008

Criou ou não criou?

 

E ao 18º dia do mês de Agosto, a politica acordou. E acordou porque José Sócrates voltou de férias e começou em grande, falando de emprego: uns milhares de postos de trabalho criados a Norte, e um numero redondo, 133 mil empregos recuperados na legislatura.

Havia uma pergunta que pairava na blogoesfera, e que Sofia Bragança Buchholz colocou no 31 da Armada: “Foram duas semanas de férias. Ninguém sabe onde. O Primeiro-ministro passou duas semanas em local incerto”. Onde terá estado? A imprensa cor de rosa preferiu deixar o líder em paz, vá lá saber-se porquê...

Mas agora a pergunta já é outra. E afinal são várias: comecemos com João Gonçalves que pergunta se “A Culpa é dele”. E escreve: “Sócrates regressou de férias. Recomeçou como tinha encerrado a "saison" anterior. Com propaganda. Todavia, o problema não está já tanto nele ou na sua "reprise". (...) A questão é que o deixam sozinho no palco, sem contraditório. Se não se puser a pau, o PSD cai em falência técnica a um ano de eleições”

Nuno Dias da Silva, no blog Civilização do Espectáculo, concorda: “Manuela Ferreira Leite continua em paradeiro desconhecido e sem nada para dizer. É verdade que estamos em Agosto, mas quando acordar a senhora vai ver que é tarde demais”.

Vejamos então de que se fala quando se fala dos tais 133 mil empregos. No Blasfémias, JCD ironiza: chama a Portugal República Socialista Federativa de Portugal.

Porque ouviu na rádio um jornalista dizer que o primeiro-ministro tinha dito que o governo criara os tais empregos. Logo um comentário repõe a verdade; “Socrates diz que a economia portuguesa foi capaz de criar … e nao diz que o governo criou coisa alguma. Assim acho bem que critique o jornalismo que existe”. E volta o autor do blog: há “O nosso primeiro-ministro e os seus assessores já evidenciaram abundante competência na escolha judiciosa das palavras. Há linhas, entrelinhas, não-linhas e sobrelinhas. Espera-se que os jornalistas as saibam identificar e não sejam tantas vezes levados pelo entusiasmo”.

João Maria Condeixa no blog Câmara de Comuns vai no mesmo sentido:  “O Estado, o governo, como preferirem, (...) poderá, quanto muito, criar ambiente propício para as empresas o fazerem, mas a verdade, é que nem isso este governo fez!”

Paulo Pinto Mascarenhas, no Atlântico, chama-lhe “Demagogia bruta” mas, no fim das contas, eu fico como ficou o Francisco José Viegas no blog Origem das Espécies: “O pobre conde de Gouvarinho (...) protestava a meio do Chiado: «Quer a gente um ministro? Não há um ministro. Quer-se um economista? Não há um economista.» Pois a pergunta é mais simples: José Sócrates anunciou ou não que Portugal criou «133 mil empregos líquidos desde o mês de Março de 2005»? Isso é mentira ou é verdade? «Quer a gente uma estatística fiel? Não há uma estatística.» (...)  Mas esclareçam esta dúvida: criou ou não criou?” E assim estou eu: passei por dezenas de blogues e fiquei na mesma. Ás vezes, muita informação e excesso de opinião dá nisto: ficamos na mesma. Criou ou não criou?

publicado por PRD às 18:20
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Segunda-feira, 18 de Agosto de 2008

O deserto olímpico

 

Os dias vão passando e as esperanças portuguesas em Pequim vão caindo. Não fosse a medalha de prata desta madrugada para Vanessa Fernandes e a espiral de desilusão não parava de crescer, Com reflexos também no mundo dos blogues, onde se saudou Vanessa como uma espécie de salvadora da pátria: dos atletas portugueses, escreve Vítor Pimenta no Avenida Central, “esperamos sempre prodígios, sebastiões encomendados, que singrem de alguma forma e nos engrandeçam o ego e as vidas, sem que a nação se esforce minimamente em preparar o terreno para os prodígios medrarem. Nunca houve espírito de alta competição para lá do futebol e mesmo esse tem também o mérito envenenado. Enquanto isso, Portugal espera que a sorte lhe caia em cima e veja bandeira erguida por alguém esquecido nos apurados”. É uma ideia pouco optimista, porém real.

Noutra dimensão está Maradona no blog A Causa Foi Modificada. Ele reflecte sobre a contabilidade dos países nos jogos: “Na guerra das medalhas, é preciso dizer uma coisa (...). As medalhas não são todas iguais. Por muito que se piruete, uma medalha de ouro na maratona é muito mais importante que uma medalha de ouro no tiro de pistola a dez metros. O mais elementar bom senso permite observar esta realidade”. Maradona fala depois do “peso especifico da modalidade” e da “mobilização que os Jogos Olímpicos provocam no interior da elite de cada modalidade” para justificar estas diferenças que, remata, o levam a concluir que os Estados Unidos “são, a alguma distância da concorrência, a maior potência desportiva do planeta”, ainda que “a Austrália é o país que, relativamente à sua dimensão, melhor espectro medalhístico apresenta”. Maradona acrescentou esta manhã: “Têm sido dias maravilhosos. Uns Jogos Olímpicos poderosamente organizados, um conjunto de atletas e resultados de qualidade estupenda, público respeitador, simpático e pontualmente conhecedor”

De qualquer forma, os portugueses queriam mais medalhas e não têm. Francis Obikwelu teria sido a grande esperança para o ouro... Mas não ganhou, e pediu desculpas aos portugueses e à Federação. Rodrigo Moita de Deus aprecia o gesto:

“É nestas coisas, escreve, que se nota que não é português”...

Pragmático, Carlos Nunes Lopes no 31 da Armada fala do espírito olímpico e diz: “A atitude dos atletas deve ser honrar o país que representam e que neles investe durante quatro anos. Nem sempre com o apoio devido, é certo - mas essa é também a circunstância de atletas de muitos países que arrecadam medalhas improváveis”.

O mesmo Carlos que, perante o quase deserto de conquistas nacionais, faz como a televisão e descobre outras vitórias: "os fatos de banho que levaram Michael Phelps a ganhar oito medalhas de ouro são feitos em Portugal. (...) Se Portugal não alcançar nenhuma medalha de ouro poderemos sempre dizer que demos uma série delas ao Phelps”.

Caso para Um remate clássico: falhámos a lotaria, resta-nos a terminação...

publicado por PRD às 18:18
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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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