Segunda-feira, 30 de Junho de 2008

Todos espanhóis...

 

Teria sido o euro de Portugal mas não foi – e nestas coisas, rapidamente o povo se converte – por isso não me surpreendeu ter lido Luiz Carvalho, no blog Instante Fatal, dizer “Hoje somos todos espanhóis” e acrescentar: “Quem é bom prova-o sempre, e é no limite, na urgência da vitória, que os melhores são mesmo os melhores. O futebol aqui, como noutros aspectos, é uma grande lição de vida”. De tal forma somos todos espanhóis que, a acreditar em Miguel Marujo, no Cibertertulia, ouve buzinadelas na cidade. Ele intitulou o post “Globalização” e escreveu apenas:”O gosto que é ouvir Espanha buzinada no Marquês em Lisboa...”Um viva aos vizinhos e uma apreciação global de Paulo Querido no blog Certamente que sim: “Uma vitória muito merecida numa prova que fica na memória como das de maior qualidade dos últimos 24 anos”. Outro balanço, o de Afonso Reis Cabral no Janelar: “um campeonato europeu empolgante, cheio de surpresas e desilusões. Incrivelmente, a Turquia e a Rússia chegaram às meias-finais, a Itália e a França ficaram pelo caminho muito cedo, e a Alemanha foi seguindo com o seu futebol nada bonito”. JC, no blog Gato Maltês, encontra nove notas sobre a final a destacar, mas dessas eu escolho estas: “Nunca vi tantas bandeiras de Espanha juntas, nem nas manifestações de extrema-direita”; “Ganhou um país cuja selecção não equipa com as cores nacionais, mas com as cores da sua federação, o que é bem mais correcto já que as selecções não representam os países mas as federações respectivas”; “O melhor jogador de Espanha no Euro 2008 foi um brasileiro de nascimento, tal como o de Portugal”.

Mudemos de agulha, porque haveria sempre quem se lembrasse de Portugal por comparação. Escreve então Paulo Ferreira no Câmara de Comuns: “Podíamos ter sido nós? Talvez sim mas por qualquer razão parece-me que não, nem tínhamos seleccionador nem me pareceu que os nossos jogadores estivessem todos absolutamente concentrados neste desígnio”. Acrescenta Rafi no Insurgente: “Com Portugal fora da corrida, a minha selecção passou a ser a de Espanha, aquele que foi, durante vários anos, o meu país de adopção. Fico contente, por isso, com a vitória espanhola, por eles torcia de coração. Mas não só: a Espanha jogou bonito, e com inteligência. Como eu gostava que jogassem os nossos. Só que, para isso, seria necessário reconhecer que a vaca sagrada do futebol português dos últimos anos, Scolari, estava a mais”. Já se esperava que Scolari viesse ao caminho neste balanço do Europeu. Mas isso não interessa nada: ganhou a Espanha, e merecidamente, dando felicidade garantida a Assobio, no blog Assobio rebelde, quando escreveu “Para a coisa ficar como deve ser, é preciso que nuestros hermanos arrasem a sobranceria alemã e os mandem para casa aprender a jogar futebol, que é uma coisa diferente de marcar golos!”. Foi o que aconteceu. Avancemos no relvado e oiçamos as palavras de Animal no blog dos Marretas:

“Ora bem, o futebol acabou. Agora, para entreter a maralha, só mesmo uns directos dos incêndios florestais”.

publicado por PRD às 00:45
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Sexta-feira, 27 de Junho de 2008

Blog da semana: Contra o Acordo Ortográfico

 

Um blog pode servir para muita coisa – mas o melhor de um blog, quando queremos que ele sirva, no sentido literal de servir, é mesmo uma causa. Deve ter sido assim que pensaram Ana Isabel Buescu, António Emiliano, Helena Buescu e Vasco Graça Moura quando em Maio passado criaram o blog com o nome comprido de “Em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico”. O nome neste caso diz tudo: é o “Blog oficial da Petição em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico” e desde essa altura colige, além de textos teóricos e práticos sobre o acordo, de autoria dos quatro subscritores do blog, também uma infinidade de ligações e de correntes solidárias. Documentos como o Texto do Acordo Ortográfico de 1990, pareceres de pessoas como Óscar Lopes ou de instituições como o Departamento de Linguística Geral e Românica da Faculdade de Letras-UL ou a Associação Portuguesa de Linguística, Ligações a toda a espécie de sites e blogues que debatem a língua portuguesa, artigos soltos, links a programas de rádio, ligações a artigo publicados em jornais de todo o Mundo, bom: estamos perante uma verdadeira biblioteca e fórum de debate do acordo ortográfico, naturalmente muito ligado à petição em defesa da Língua portuguesa, que pode ser assinada por quem acede ao blog. Para inspirar o leitor há ainda um conjunto generoso de frases sobre a língua, de que destaco duas de Fernando Pessoa. Uma diz:

«A ortografia é um fenómeno da cultura, e portanto, um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito.». E a outra diz
«A nossa magna lingua portugueza
De nobres sons é um thesouro.»

O mesmo Fernando Pessoa que, relembra António Emiliano num texto do blog, “defendia a unidade ortográfica entre Portugal e o Brasil e considerava o sistema ortográfico antigo «talvez o mais perfeito que se conhece»”, e “qualificou a reforma de 1911 como acto impatriótico, imoral, impolítico e promulgado ditatorialmente”. Os autores deste blog acham que o novo acordo começou justamente em 1911 com o antigo acordo. E não se conformam. E quase todos os dias há mais textos, mais argumentos, mais ideias, mais apelos. Contra o acordo ortográfico. Que eu saiba, a favor do acordo não há qualquer blog exclusivamente dedicado à causa, pelo que, na escolha da semana, fica apenas este, que se encontra em http://emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.com.

Lá, onde se pensa como bem pensa Vitorino Magalhães Godinho: «Nenhum órgão de soberania tem poderes para instituir sobre a língua portuguesa. A língua é um legado de séculos, uma obra de Cultura”.

publicado por PRD às 18:58
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Quinta-feira, 26 de Junho de 2008

Centrão no trabalho

 

O PSD considerou positivo o acordo entre Governo e parceiros sociais para a revisão do Código do Trabalho e logo André Azevedo Alves, no blog O Insurgente, se interrogou: “preparar o Bloco Central?”

Nem por acaso, Renato André, no blog Reflexões Banais, também deixa uma pergunta, mas é outra: “Quer PS com D ou sem D?”. E escreve: “PS e PSD convergem na mentira e convergem na ideologia. Já não há espaço entre ambos. (...) A precariedade no trabalho promete aumentar, assim como os lucros das grande empresas e multinacionais. Os governos dos países ocidentais, estão de parabéns. Quem não está de parabéns, e vê as suas condições de vida a regredirem diariamente, é a malta da "Geração 500€"”.

A CGTP não assinou o acordo, como de costume. No Jumento fala-se de hipocrisia e regista-se a ligação: “Ainda antes de Carvalho da Silva ter ouvido um único trabalhador já Jerónimo de Sousa tinha tomado a decisão”. Como de costume, aliás.

O código e o consenso, no entanto, mobilizam apoios: a OCDE, por exemplo, elogiaram a proposta do Código do Trabalho. Só mesmo o PCP parece ficar de fora, o que leva ao comentário de Paulo Ferreira no Câmara de Comuns: “Como seria de esperar o PCP é quem mais ordena e a conjuntura é de guerra contra o PS, custe o que custar...há gente que percepciona a liberdade e a democracia assim! A tradição ainda é que o era... o que não era tradicional eram estes elogios da OCDE,  sinal dos tempos se calhar!”.

Moura Pina, no blog Abrasivo, vê os tempos de outra forma: “Antigamente, gritava-se: «Vêm aí, os Bárbaros». A Europa enfrentava-os. Vencia-os e transformava-os transformando-se. Hoje, grita-se: «Vem aí, a globalização». Não os enfrenta. Transforma-se e quer tornar-se igual a eles”.

Por motivos diferentes, Rui Costa Pinto também não aplaude o Código, que na sua opinião “contém uma amálgama de modelos importados, alguns dos quais desfasados da realidade portuguesa”. Diz: “O mais importante instrumento para o futuro, que não é carne nem peixe, é uma oportunidade perdida”. No Cibertertulia, Miguel Marujo acha que o código “merece a concertação”. Mas nota: “Desconfio que haja um mínimo denominador comum: muita flexibilidade, pouca segurança. A prática do nosso patronato é essa. Duvido que se altere”.

Chega por fim Medeiros Ferreira no Bicho-carpinteiro e deixa a pergunta que impõe a reflexão: “Leis circunstanciais ou ideológicas?”. E escreve: “Teremos certamente maior facilidade nos despedimentos. A maior produtividade e empregabilidade são apenas parte do credo que se reza nesta altura do culto”. É disso que se trata: rezar pelo trabalho e pelo futuro...

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Quarta-feira, 25 de Junho de 2008

Pessimismo nacional

 

A notícia saltou do "Eurobarómetro" da Primavera: os portugueses são os cidadãos da União Europeia mais pessimistas quanto ao seu futuro próximo. Somente 15 por cento acreditam que a sua vida vai melhorar no próximo ano. O estudo é da Comissão Europeia e não surpreende o mundo dos blogues:”Como eu os compreendo", desbafa no Atlântico Paulo Pinto Mascarenhas e acrescenta, seco: “têm razões de sobra para isso”. Valupi, no Aspirina B, acha os números normais: “É que Portugal é também um dos países onde é mais difícil encontrar portugueses. Se o português fosse pessimista, teria sido capaz de ir até às especiarias montado em cascas de noz-moscada? Esses portugueses eram optimistas. (...) Desde que se expulsaram e esconderam os judeus, que a terra ficou entregue ao pessimismo. E é na sabedoria judaica que se encontra a definição acabada do pessimista: (...) é alguém que, perante duas más opções, escolhe ambas”.No blog Andarilho, leio Daniela Major: “Acho um piadão a estas sondagens: Dizem coisas que já toda a gente sabe menos o Governo. Eu já sabia que os portugueses andam pessimistas. Os portugueses sempre andaram pessimistas. É do fado. Como diria o Ricardo Araújo Pereira: 5 minutos depois de se assinar o tratado de Zamora já havia um português a dizer que este país nunca havia de chegar a lado nenhum. E é óbvio que tinha razão”. António Oliveira, no blog Estrada Poeirenta, chama a isto o destino: “Ou bem que isto é um país do fado ou bem que não é. Para a desgraça estão cá 10 milhões. Semper Fidelis. O resto da estatística não é precisa”. É o fado, é o pessimismo, é Portugal. Religião também entra? Pode entrar, no Blog Pisca De Gente, leio o autor anónimo que escreve: “Acreditar em milagres, sim, há quem acredite. Mas o inquérito não tinha origem religiosa, por isso, os inquiridos foram sinceros. Sabem de experiência vivida que isto é um pântano, uma choldra, o que se quiser”. Por fim, no blog Pedra do Homem, José Carlos Guinote inverte a noticia: “A questão é a de saber se existe alguma, uma única, razão para estarmos optimistas? A qualidade de vida vai melhorar? O desemprego vai diminuir? A economia vai crescer e o poder de compra dos portugueses vai aumentar? As desigualdades sociais vão diminuir e o País tornar-se mais justo? A corrupção vai diminuir? O compadrio, a cunha, as relações familiares vão deixar de prevalecer sobre o mérito?”. As perguntas, sempre as perguntas de sempre. As que dão razão ao pessimismo dos esmagadores 85% de inquiridos que fazem de Portugal o pais triste que este barómetro revela e o mundo dos blogues confirma.

publicado por PRD às 20:54
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Terça-feira, 24 de Junho de 2008

Em viagem

 

Assuntos diversos, ou talvez nem tanto: hoje eu vou provar que um blog pode ser também um modo de viajar. Ou pelo menos um modo de saber por onde anda o seu autor, como se pudéssemos monitorizar as pessoas. Quem tivesse duvidas, por exemplo, sobre onde andaria no fim de semana Pacheco Pereira, lendo o Abrupto logo o encontrava. E muito inspirado. Escreveu ontem:

“No Norte há cafés, no Sul há pastelarias, mas são tudo lunchonetes. Chegados à hora do almoço, expulsam toda a gente para por as toalhas de papel e servir coisas inenarráveis. Num café junto ao mar, onde estou agora, há muitos anos vi José Régio, encarquilhado, implodido na sua pequenez, a ler um jornal e a tomar um café. Tudo era hábito, tudo normal. Eu gostava pouco de José Régio. Tinha um grande título, Davam Grandes Passeios ao Domingo, e quase mais nada. Tinha lido alguma coisa dele e sempre com um enorme enfado, como a Benilde ou a Virgem Mãe. (...) Mas agora vejo-o no mesmo sítio com nitidez, sóbrio e sombrio. Será que alguém me está a ver com os mesmos olhos? Talvez, por piores razões. Antes era pela leitura, agora é pela televisão. "É o senhor da SIC?" Sou, sou o "senhor da SIC" como se fosse dos Anéis”.

Vejo portanto Pacheco Pereira a norte, nos intervalos do Congresso do PSD. Mas se quiser saber onde anda, por exemplo, o bloquista Daniel Oliveira, vou ao seu blog, o Arrastão, e descubro que anda pelos Estados Unidos da América. Escreve ele: “Muito simpáticos os americanos. Mas podemos confiar os destinos do Mundo a um povo que come ostras panadas?”. E depois da pergunta, revela dois bons momentos: “Em Washington tive de mostrar identificação para beber uma cerveja, o que me deixou comovido. E em Alexandria (Virginia) tive de sair da esplanada e ir para dentro do bar para poder fuma”. Lá está, vamos viajando com os bloggers e vamos sabendo por onde andam.

Difícil mesmo é para a policia saber onde andam os arguidos condenados a penas de prisão. Foi preciso o Correio da Manhã ir a Londres fotografar Vale e Azevedo no seu Bentley com motorista a viver numa casa de luxo, para Portugal acordar para a pouca-vergonha. O dinheiro, pelos vistos, compra tudo. Mas sobre o tema só mesmo João Gonçalves se chegou rapidamente à frente no seu Portugal dos Pequeninos:

“Estas reportagens do seu "exílio" dourado não servem para outra coisa senão para suscitar no leitor (...) a banal inveja. Vale e Azevedo é aquilo que muito bom português apreciaria ser. (...) No meio de tantos espertos, ele é o espertalhão que os outros espertos não conseguem ser. E isso deslumbra e enraivece, enraivece e deslumbra. "Ele é dos nossos", pensará o tal leitor entre dois arrotos. A diferença é que é Vale quem continua (...) a recomendar aos admiradores e à justiça que bebam um copo de água e que respirem fundo. Vale e Azevedo é, na verdade, um símbolo. Representa a derrota da justiça e o triunfo de um certo arrivismo chique que a democracia fez prosperar. Uma, aliás, não vai sem o outro”.

Assim, em três partes, fui ao Norte com Pacheco, à América com Daniel e cheguei a Londres com Gonçalves. Por boas e más razões. Tudo sem sair de casa.

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Segunda-feira, 23 de Junho de 2008

O Congresso do PSD

 

O fim-de-semana foi dominado pelo PSD e seu congresso. No mundo dos blogues, as palavras são como cerejas sobre esta nova laranja... No Corta-fitas, Pedro Correia faz uma excelente análise do congresso em 13 pontos, eu destaco três que de resto vi espelhados noutros textos de outros blogues:

“Manuela Ferreira Leite, antes de conquistar o País, precisaria de conquistar o partido. Não o conseguiu nas directas, não o conseguiu neste congresso de Guimarães. O seu discurso de encerramento foi vago, grave, circunspecto e conselheiral”; “A apatia e o desinteresse foram notas dominantes. Durante a maior parte dos trabalhos, a sala esteve às moscas”; “O melhor discurso foi o de Pedro Passos Coelho, que assegurou desde já uma posição de líder no futuro”. Pedro Correia remata com a pergunta: “Manuela Ferreira Leite veio para ficar?” E responde: “É óbvio que não. É uma "líder" tão precária e tão provisória como os "líderes" precedentes”. No mesmo sentido vai o blog Jumento, que escreve “Os discursos de Manuela Ferreira Leite foram monótonos e sem conteúdo, os resultados das votações mostram um partido dividido”. Eduardo Pita também notou o deserto em Guimarães: ”imagem de desleixo (...) com filas inteiras vazias no pavilhão onde decorriam os trabalhos”. Em sentido diferente escreve João Ribeiro, no Câmara de Comuns, elogiando o discurso final de Ferreira Leite e exclamando: “Finalmente, temos oposição”. E concorda com os novos líderes: “O PSD centrará as futuras propostas políticas na fiscalidade e na justiça que são, em meu entender, as áreas chave para resolver a maior parte dos problemas”. No blog Andarilho, Daniela Major recupera a expressão “Dama de Ferro” e diz: “Agora, tremei, ó gente que diz que é uma espécie de esquerda”!. No Blasfémias leio Carlos Abreu Amorim: “No fundo, Ferreira Leite quis convencer o Congresso de que pode ser melhor do que Sócrates a fazer de Sócrates. Daí que o seu semblante carrancudo e o tom fúnebre que agora veste são das poucas distinções possíveis face ao primeiro-ministro”.

Curiosamente, no partido agora liderado por uma mulher os homens dominam. Valupi, no Aspirina B., nota tal facto: “Há uma terceira força de oposição interna no PSD: o ódio às mulheres. O PSD é o partido que mais exuberantemente representa o homem português medíocre e bimbalhão”. E conta: “Ter 109 mulheres em mais de mil congressistas, em Guimarães, não incomoda ninguém. Esta proporção, 10 para 1, é o exacto retrato da realidade nacional”.

Ainda assim Ferreira Leite não está sozinha: com ela está Sofia Galvão, uma das fundadoras do blog Geração de 60, ao lado de Paulo Rangel, também agora líder social-decmorata. Tal facto leva Manuel Fonseca, no blog, a saudar os dois companheiros lembrando o passado, que eu traduzo livremete: “O editorial do “Geração de 60” propõe (...) um “fórum de ideias” cuja construção é “um direito, mas sobretudo uma responsabilidade de cada um de nós – que não pode ser inteiramente delegada em partidos, nem em corporações, nem no chamado sistema mediático”. Está implícito (...) que esse “fórum” não pode ser construído contra as corporações, o sistema mediático e, muito menos, contra os partidos. A Sofia Galvão e o Paulo Rangel estão agora, mais visivelmente, um passo à frente do editorial”. A brincar quase posso dizer, então, que se há um blog a vencer o Congresso do PSD – então é esse mesmo, o Geração de 60...

publicado por PRD às 20:51
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Sexta-feira, 20 de Junho de 2008

Blog da semana: Caminhos da Memória

 

Pausa na leitura de actualidade. Vamos andar para trás. E cito: “dar voz a formas de lembrar, de evocar e de interpretar o passado, recorrendo a leituras contemporâneas da história e da memória”. Essa é a proposta de um novo blog assinado por nomes de reconhecido mérito nacional: chama-se então Caminhos da Memória, promete “desenhar percursos para redescobrir os legados que recebemos do país e do mundo. Incluirá (...) informação sobre documentos, livros, filmes e eventos relacionados com os objectivos que nos propomos perseguir, bem como ligações a instituições, publicações e blogues que privilegiem temas ligados à memória e à história”.

Diana Andringa, Irene Pimentel, Joana Lopes, Maria Manuela Cruzeiro, Miguel Cardina, Raimundo Narciso e Rui Bebiano constituem o núcleo central do blog, que conta com colaboradores como, entre outros, José Luís Saldanha Sanches, José Medeiros Ferreira, José Vera Jardim, Nuno Brederode Santos. Um elenco de luxo com origem: o corpo redactorial é constituído maioritariamente por membros da Associação «Não Apaguem a Memória!».

Para começo de conversa, já li por lá textos sobre o Estado Novo, sobre Salazar, um texto que conta e analisa exemplarmente o massacre judaico de Lisboa de 1506, mas também posts que de alguma forma misturam História com testemunho pessoal. Um bom exemplo é uma prosa de João Tunes sobre as eleições de 1958: “Quando sentei Delgado ao lado de Sandokan” é uma crónica deliciosa. Começa assim:

“A eleição de Humberto Delgado é a minha memória política mais antiga. Tão que posso dizer que foi o início da minha formação cívica e política que assim, apesar de o regime não me querer outra que a da Mocidade Portuguesa, simples e escorreita como a letrinha da fivela do cinto, foi precoce, pois tinha então apenas treze anos que acumulavam jogos, descobertas, patifarias também, mas sobretudo preparação intensa e afincada para passar no exame de admissão à perda da inocência”. Tunes conta depois o episódio que o leva a concluir: “Perguntando o que estava a acontecer, responderam-me baixinho “deixa-te estar em casa que hoje é o dia de se votar no Humberto Delgado”. Mais não perguntei, nem foi necessário para aprender a minha primeira aula política: aquela ocupação, à bruta, do meu “campo de batalha” não a ia perdoar e merecia retaliação: à pedrada ou como quer que fosse. E o tal Delgado, fosse quem fosse, logo ali enfileirando no meu altar de ídolos onde pontificava Sandokan”,

Vale a pena ler estas e outras histórias nestes caminhos da memória que prometem ser longos, apaixonados e apaixonantes. Fica então a minha escolha da semana, que podem encontrar em http://caminhosdamemoria.wordpress.com

publicado por PRD às 18:54
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Quinta-feira, 19 de Junho de 2008

Mata mata

 

(Coisas que acontecem: escrevi a crónica ignorando que hoje, dado o desafio das 19:45, a programação do rádio é especial. Não vai para o ar, fica por aqui...)

 

Em dia de jogo decisivo, é inevitável voltar ao futebol e vaguear de blog em blog, procurando ideias originais, algumas divertidas, e até uma sugestão para ocupar o lugar de Scolari. Comecemos pela teorização: “Adoro futebol! Temos que ser campeões da Europa e quero ver a Académica no Jamor!”, escreve Gonçalo Capitão no Ainda Há Lodo no Cais, depois de um longo texto que começa assim: “Tentar pensar sobre futebol é um exercício que convoca Dali, Ernst, Bresson, Miró e outros artistas para o plantel, dado o surrealismo do exercício”. E depois da tirada para impressionar, vai disto:

“Vinte e dois tipos atrás de uma bola e a malta à espera de alguém que a meta entre três cilindros de ferro. Jogadores que passam mais moda do que bolas e cujo cabelo envergonha, por manifesta modéstia, a minha árvore de Natal. Uma equipa de quatro sujeitos que, decida o que decidir, recebe honras vitalícias da ordem da gatunagem.

E milhares de pessoas a pagar muitos euros por noventa minutos de duração de uma espécie de espectáculo e metade de jogo realmente jogado”. “O futebol, conclui Gonçalo, não faz muito sentido… Mas eu adoro futebol!”.

É um pouco assim que vivemos estes dias, entre o delírio e alguma dose de loucura. Francisco José Viegas, na Origem das Espécies, repara noutras coisas que não se entendem: “Uma horda de jornalistas repete até à exaustão que «hoje é o dia do mata-mata». Desde há uma semana que «hoje é o dia do mata-mata» porque já estava escrito que podíamos perder com a Suíça, e perdemos, e mesmo assim «hoje seria o dia do mata-mata». Nunca mais acaba o suplício. Matem lá”.

Enquanto matam a não matam, Scolari vai fazendo as delicias dos comentadores. Mas agora que o mister abandona a nossa selecção, CMC no blog Câmara de Comuns descobre um potencial sucessor: Guus Hiddink, o actual treinados da selecção russa. Depois do jogo com a Suécia, o blogger não tem duvidas: “Com as suas capacidades e nós com a matéria-prima que temos, bem poderíamos surgir na África do Sul, em 2010, como a selecção mundial em melhores condições para arrebatar o troféu”.

Fica a sugestão, caminho para o final e volto-me para elas, para as mulheres, e para o humor que muitas vezes revela. Escreve Cristina no Geração Rasca: “Um golo de bola parada é etimologicamete um paradoxo. O golo implica a passagem da bola para lá da linha de golo, ou seja implica movimento, portanto, ficamos assim com uma espécie de movimento parado... que é uma incongruência!”. E por fim o anuncio publicado no blog

Nem todas as Gatas são Parvas e assinado por Gata Funha. Pede um Free-lancer e diz assim:

“Grupo de trabalho dinâmico precisa urgente um Lateral.
Condições de trabalho:
- Viagens ao estrangeiro mais ou menos frequentes
- Trabalho ao ar livre com utilização de farda casual
- Competições internacionais de 2 em 2 anos
- Remuneração à 1h30 de trabalho
- Patrão estrangeiro, mas que fala português
- Interacção com todo o grupo de trabalho
Preferências:
- Dá-se preferência a Laterais esquerdos
- Obrigatória a Nacionalidade portuguesa
- Pode ser brasileiro
- Nunca tente imitar Paulo Ferreira
Procedimento de candidatura:
- Apanhar o próximo voo para Basileia”.

E agora venham os alemães...
publicado por PRD às 17:55
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Quarta-feira, 18 de Junho de 2008

Flores murchas na praça

 

A polémica já tem alguns dias mas ontem ganhou novos contornos: a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou uma moção de censura ao vereador dos Espaços Verdes, Sá Fernandes, exortando o presidente António Costa a retirar-lhe o pelouro. Em causa está o que se vive na Praça das Flores: o encerramento do espaço ao público a determinadas horas, tendo como contrapartida a reabilitação daquele jardim paga pela marca de automóveis que alugou o espaço.

Ora bem, isto começou na blogoesfera. Lembro-me de ter lido a história por Tomas Vasques no Hoje Há Conquilhas, que via Sá Fernandes “rendido às «migalhas do capitalismo»”. Corria entretanto uma Carta aberta assinada pelo arquitecto João Miguel Amaro Correia no blog Khiasma: “O encerramento, ainda que temporário, da Praça das Flores, alugada, mercantilizada, a uma marca (...) de automóveis, é simbólica do desprezo que é concedido ao espaço público. (...) Há bens e valores que se devem manter acima de qualquer tráfico. A liberdade e a cidade não são mercantilizáveis”.

No blog Mais Actual, outro momento de indignação por Rui Costa Pinto: “Hoje, a Câmara Municipal de Lisboa (...) fecha a Praça das Flores para ficar à disposição de uma marca automóvel. E, amanhã? Fecham a cidade? O país?”

Ontem mesmo, antes de se saber da moção de censura a Sá Fernandes, António Proa, no blog dedicado a Lisboa O Carmo e a Trindade, dizia: “Não alinho no discurso fácil e hipócrita de considerar um sacrilégio qualquer ocupação do espaço público. Mas há um limite. O limite do respeito e da consideração pelas pessoas e pela cidade. No caso da Praça das Flores, esse limite foi claramente ultrapassado. Esse é o problema. (...). Revela falta de sensibilidade e desrespeito para com os moradores e é uma violência para Lisboa”.

Ora bem, no bairro mora Daniel Oliveira, ele próprio um Bloquista de Esquerda. Situação delicada que o obrigou a um longo texto no blog Arrastão. No essencial, Daniel até percebe a intenção da câmara, mas concorda que não é este o melhor caminho. Ontem, ao saber da moção de censura, Daniel volta à carga: “Mantenho o meu apoio ao vereador que elegi: acho que errou (e de dia para dia mais estou seguro do seu erro)(...). Um erro não chega para lhe retirar o meu apoio e um apoio que não chega para me impedir de lhe apontar os erros. O que não percebo é o silêncio ensurdecedor do meu partido. Deixou de ter um eleito na câmara?”. Quanto ao PSD e à sua iniciativa, Daniel fala de “absoluta desonestidade”.

No blog Womenage a trois levanta-se uma dúvida com memória: “Este é o mesmo PSD cujo executivo camarário, há não muitos anos, alugava a Praça da Figueira a um programa qualquer da TVI, (...)  criando um suplício para passeantes e moradores das imediações (como era o meu caso à época)?”. A moção de censura ao vereador Sá Fernandes tem efeito puramente simbólico, mas a polémica evidenciou, uma vez mais, a influência do mundo dos blogues: foi no espaço virtual que se manteve acesa esta polémica. Pelos vistos, está para durar.

publicado por PRD às 17:52
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Terça-feira, 17 de Junho de 2008

Variedades

 

Antes que volte a fúria do futebol, vou hoje pôr a conversa em dia e, em vez de um só assunto, vou seguir alguns dos temas da actualidade e escolher poucas, mas boas, ideias sobre cada um. Começo com a ironia e o humor de Rodrigo Moita de Deus no 31 da armada a propósito do rapto do bebé em Penafiel. Escreveu ele: “Uma menina fez-se de grávida durante uns meses. O namorado não deu por nada. Ou o namorado está a mentir e é grave, ou o namorado está a falar verdade e é ainda mais grave”.

Outro tema destes dias, o não ao Tratado de Lisboa no referendo irlandês. Leio João Gonçalves no Portugal dos Pequeninos: “A Irlanda foi o único país da União Europeia que "ouviu" o povo sobre o futuro de uma Europa a que ela pertence (...). Tinha de votar "sim" por que carga de água? Para não estragar a fotografia dos desossados políticos que dirigem a Europa? A tranquilidade bovina garantida pela ratificação parlamentar é, de facto, preferível à chatice do "povo". Todavia é com o "povo" - e não contra ele (...) - que a Europa avança”.

Sobre as consequência do referendo e as reacções no resto da Europa, sublinho o post de Pedro Mexia no blog Estado Civil: “Dizem que agora é preciso um «plano B». Como assim (...)? Este «Tratado de Lisboa» já era o plano B. Não se esqueçam que o plano A, a infame «Constituição», foi rejeitado por países que ninguém se atreve a deixar para trás. Talvez apareça então um «plano C» que consista precisamente em deixar para trás a velhaca Irlanda. Já sabemos que quem discorda das ideias eurobeatas merece «castigo». Eis a «Europa democrática» destas santas cabeças”.

Mudo de tema, mudo até mesmo de planeta: Marte tem uma imagem enfadonha, e Valupi, no blog Aspirina B, tem explicação para “a falta de animação na paisagem marciana, onde não se vê ninguém, nem sequer uma carroça lá muito ao fundo ou um cão vadio a mijar nos aparelhos da nave. É esta: faz tempo que os marcianos emigraram para a Terra”.

No mundo do futebol mas longe do Euro, a decisão da UEFA que recupera o Porto para a liga dos Campeões merece três comentários de António Boronha no blog com o seu nome:

Primeira, “O 'Porto' continua a mandar na casa do doutor Madaíl, malgré lhe escapar a selecção, pelo efeito Scolari”;

Segunda, “A 'UEFA' sabe perfeitamente o que é que a casa (portuguesa) gasta nestas coisas: um tempo interminável em decidir o que quer que seja. Daí, preferirem esperar...sentados;
Terceira, “questões do futebol , para já” são “resolvidas de acordo com o que se passou dentro das quatro linhas. E aí, nos últimos anos, o ‘Porto' tem sido, indiscutivelmente, o melhor; não estamos perante um assunto encerrado mas diante um assunto adiado”.

Bom, já passei por crime, Marte, Referendo na Irlanda, decisões da UEFA... Falta o tempo, a meteorologia, afinal de contas a mais corrente e comum das nossas conversas diárias. Encontro no blog Lóbi a análise a este estranho tempo que vamos tendo: “As alterações climáticas dizem-nos que sim, que devemos sair sempre com guarda-… Agora depende: ou guarda-sol ou guarda-chuva”.

publicado por PRD às 17:50
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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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