Sexta-feira, 28 de Dezembro de 2007

2007, parte 3 (e última)

Terceiro e ultimo dia que dedico à blogoesfera e ao olhar que ao longo de todo o ano de 2007 lhe deitei diariamente, à procura de novidades, de comentários à actualidade, de polémicas e ideias, até mesmo noticias.
Ainda que, há pouco mais de um ano, pudéssemos ouvir vozes aparentemente sábias, como as de José Sócrates ou Miguel Sousa Tavares, tratar os blogues como se reunissem um generoso numero de crápulas e mesmo criminosos da pátria, parece evidente que assim não pensam hoje os consumidores, que cada vez mais consultam e lêem blogues, como assim não pensa quem, nos jornais, nas revistas, vai renovando o stock de colunistas e cronistas neste momento praticamente só com base na blogoesfera .
Foi nos blogues que nasceu Alberto Gonçalves, o sociólogo com residência fixa na revista Sábado, foi à blogoesfera que o Correio da Manhã foi resgatar Medeiros Ferreira, que o Diário de Noticias tinha dispensado, foi na blogoesfera que nasceram para o mundo dos media Rita Barata Silvério e Carla Hilário Quevedo, ambas colunistas regulares de imprensa. A blogoesfera firmou nome já existentes, como o de Rodrigo Moita de Deus, recuperou nomes que corriam o risco de desaparecer, como o do excelente João Gonçalves. E há mais nomes, muitos mais, que especialmente neste ultimo ano e meio ganharam fama, e porventura um novo curso para os seus percursos, com os blogues que criaram e alimentaram.
Este é talvez o mais forte sinal que a blogoesfera trouxe ao universo da comunicação: o de que é finalmente possível nascer, crescer e existir à margem da ditadura da audiência e da democracia musculada dos grupos de comunicação. Hoje, quem tem alguma coisa a dizer, pode dizer. Pode existir no espaço publico. E uma vez mais a soma feliz da persistência com o talento vai encarregar-se do resto. O meu balanço final é pois um sinal para 2008, e um conselho aos ouvintes da Janela Indiscreta. Não se queixem entre quatro paredes – abram a janela, ou melhor, abram o vosso blog e queixem-se para os quatro cantos do mundo.
Eu volto em 2008, com mais ideias do mundo de lá, definitivamente a ocupar o mundo de cá…
publicado por PRD às 19:05
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Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2007

2007, parte dois

Ontem escolhi aqui os meus dez bloggers do ano (nota aos leitores: uma partida do meu computador fez-me perder esse texto, pelo que só pode ser ouvido no site da Antena 1 - mas reproduz, no essencial, o texto "Os Meus Bloggers" que está em http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt ), numa perspectiva de mostrar variedade, qualidade e surpresa, e não na clássica escolha dos melhores. Expliquei, e não é demais repetir, que não se consegue escolher os melhores num universo tão vasto e tão desconhecido – não há minuto em que não nasça um novo blog, e pode ser o melhor, mas vai demorar até que eu, a comunidade, todos ou outro qualquer observador solitário, o conheça, o reconheça.
Daí a minha escolha ser sobre exemplos que me tocaram ao longo do ano.
Hoje abordo o ano blogosférico pelo lado do prazer da descoberta. Na verdade, fala-se muito, nomeadamente aqui, na Janela Indiscreta, nos blogs enquanto palcos de farto debate político. Assim é, efectivamente. E a ele me dedico recuperando diariamente os temas da actualidade para esta rubrica. Mas a par com os blogs mais mediáticos, diria, com maior intervenção, ligados a correntes ideológicas precisas, há um vastíssimo mundo que pode captar a nossa atenção.
Por exemplo, os blogs de quem, por uma razão qualquer, vive fora de Portugal. Ao longo de 2007 descobri e destaquei alguns deles: gosto particularmente do Sushileblon, mas não dispenso esse notável Mind this Gap, dedicado ao levantamento das histórias de quadros portugueses que escolheram trabalhar fora de portas, como frequento um conjunto de blogs assinados por arquitectos radicados nos Estados Unidos. Comecei no Caderno Vermelho e fui por aí fora.
Aliás, a forma de chegar a este outro mundo é simples: basta conhecer um blog. Logo aparecerá o link, a ligação, para outros da mesma natureza. E nesses haverá mais ligações. Como uma teia, todos os caminhos se vão ligando, ligando, e repentinamente estamos envolvidos numa comunidade que passa a ser um bocadinho nossa.
Nesta descoberta deixo mais duas dicas deste ano: os blogues dedicados à gastronomia e alimentação, e os blogues dedicados à gravidez.
No primeiro caso, bom, são receitas, experiências, fotografias, sugestões, viagens culinárias. Um mundo que não acaba e que praticamente nos permite, de blog em blog, improvisar um manual de cozinha muito completo. Nesse âmbito, quando à culinária se junta o talento na forma de contar/ensinar as receitas, entramos no superior domínio do puro prazer: foi isso que descobri no blog Ardeu a Padaria, e que com frequência se encontra noutros domínios.
Os blogues dedicados à gravidez são, quase sempre, os diários dos nove meses das respectivas mães. Muitas vezes acompanhados de fotografias do enxoval do bebé ou das obras no quarto para receber o novo familiar, mas também com aconselhamento, ou dicas de quem tem mais experiências, desabafos dos momentos mais ou menos difíceis pelos quais passa uma mulher grávida. Uma busca por este mundo revelará lugares de reflexão, de conselhos, de cumplicidades. Acima de tudo, de amor.
E amanhã eu volto para fechar este olhar suave sobre um ano inteiro de Janela Indiscreta.
publicado por PRD às 18:51
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Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2007

Blog da semana: Bitaites

Estamos na fase crítica dos balanços do ano. Eu próprio me apresto a lançar um olhar à blogoesfera de 2007 daqui a poucos dias. Mas hoje, na escolha do blog da semana, arrisco o óbvio: escolho aquele que uma votação dupla – de leitores de blogues e de um júri de pessoas ligadas à comunidade blogger – elegeu como o melhor blog de 2007. Chama-se Bitaites, é assinado por Marco, e tem como subtítulo “A Informática foi apenas um pretexto”.
Uma leitura atenta do blog permite-me dizer que não é taxativamente o melhor do ano. Mas é bom – porque vem do mundo da informática mas escreve em bom português, porque tem humor, porque tem interesses para lá da informática, porque informa para lá de opinar.
O futuro, digo eu, passa por esta saudável confluência de vectores: opinião, informação, entretenimento, humor, afectos. O Bitaites é tudo isso com grafismo arejado e eficaz e a imagem usada com parcimónia, o que me agrada.
Quando soube que ganhou o prémio de melhor blog do ano, o autor do Bitaites chegou-se à frente:
Sinto-me a Paris Hilton da blogosfera: loira, burra e cheia de atenções que não mereço. Não pretendo é fazer um vídeo porno rasca ou desfilar como um gafanhoto fotogénico - escusam de insistir”. Inteligente, analisa o fenómeno:
”Classificamos tudo. E a mais cruel dessas classificações é a que estabelece um determinado projecto como ‘O melhor entre não sei quantos’. Os sensatos relativizam (...), os que têm dor de cotovelo ou levam isto demasiado a peito passam logo ao ataque. As pessoas que aqui chegaram por causa do prémio quadruplicaram o número de visitas do blogue. Muitas chegaram aqui à espera que eu seja ‘melhor’ do que cada uma das múltiplas referências que carregam – como se vê, nem vale a pena pensar no assunto. Não se trocam certezas como se estas fossem cromos de caderneta, a não ser que o coleccionador seja o José Veiga”.
Noutro post, Marco explica a lógica da sua vitória, com uma humildade desarmante e às tantas escreve: ”Aos que acham que desprezo esta vitória por fora e me delicio por dentro, chamando-me hipócrita, peço que aprendam a diferenciar cérebro de estômago. Estas coisas são apenas Pão-de-ló para o ego: engordam mas não alimentam. Encheram-me a barriguinha, mas não me inspiraram”.
E para não desanimar quem chega ao blog por causa do prémio, o autor, inteligente, descarrega alguns dos seus melhores posts do passado, para que se percebam os seus interesses, o seu estilo, e o que na verdade é este Bitaites agora eleito.
Resultado: pode não ser o melhor blog de Portugal no ano da graça de 2007, mas é obviamente um excelente blog, bem escrito, inteligente, humorado, informado.
Podem encontrá-lo em http://bitaites.org/ e o autor seguramente partilha neste momento as palavras de um homem cujo trabalho admira: o fotógrafo Henri Cartier-Bresson. Dizia ele, citado no Bitaites:
«O reconhecimento é um fardo muito pesado para se carregar. Não quero ser fotografado, identificado, quero ser anónimo. A celebridade é horrível. Eu sou libertário. Tenho horror ao poder. A notoriedade como fotógrafo é uma forma de poder que recuso».
publicado por PRD às 18:42
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Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2007

Metro a metro

300 milhões de euros mais tarde, Lisboa tem a Linha azul do metropolitano completa. Já se dividem os passageiros entre os que se recusam a passar no túnel do Terreiro do Paço e os que acreditam nas palavras do Ministro Mário Lino e acham que está ali o mais seguro subterrâneo do planeta.
Vamos ver como a blogoesfera olhou o acontecimento, começo no Dia do Blog com André Clemente:
“Dez anos para se concluir o ultimo troço da linha azul ? E apanharam-nos a olhar para baixo e roubaram-nos as colunas (…) do Cais que recebeu o Tsunami em 1755... É como as obras que nos fazem à porta de casa que, quando concluídas, se eternizam em sobras de calhaus e terra que de forma alguma poderiam ser removidos por quem os aportou ou criou… Assim fica mais interessante palmilhar calçadas, entre os entorses e os despojos do obrar canino que cada vez mais minam as ruas de Lx e arredores”.
Pedro Correia, no Corta-Fitas, assiste à inauguração e comenta:
“As televisões berram o acontecimento em directo como se a coisa tivesse impacto nacional. Ouço Sócrates falar. Este homem não se cansa de discursar. Fala pelos cotovelos em qualquer lado, a qualquer momento. A ele, que tanto gosta de citações, recomendo-lhe esta, do general De Gaulle: "Um líder é aquele que não fala. Nada contribui tanto para a autoridade como o silêncio."
Rui Costa Pinto, no blog Mais Actual, lamenta toda a inauguração e vai ao passado:
“Resta a consolação do exemplo de Jorge Coelho, então ministro das Obras Públicas, que assumiu a responsabilidade política do acidente no túnel do novo traçado do metro, que custou dezenas de milhar de euros. Naquele tempo, os governantes ainda tinham vergonha política na cara e a mentira descarada não era compensada eleitoralmente”.
Mak, no blog  O Bom, o Mau e o Vilão, depois do trocadilho “Eu não metro lá os pés”, escreve:
“Para além de providenciar acesso directo ao Lux por parte dos cidadãos da Pontinha, Carnide e Amadora, traz de novo a Lisboa a promessa de diversão dos parques aquáticos, algo que caiu em desuso depois da tragédia do Aquaparque. Podem vir ministros dizer que era nesse túnel que se iam esconder em caso de terramoto, podem demonstrar-me que a dupla cofragem é praticamente invulnerável, mas o facto é que num país em que boa parte dos projectos derrapam e metem água até serem concluídos, porquê testar a sorte e ir enfiar-me dentro de um que o fez literalmente durante muitos e bons anos…”
Parte boa da história: metro até Santa Apolónia, uma ligação essencial à cidade. Parte má: ninguém quer continuar a ver obras em Portugal com derrapagem obrigatória. E siga o comboio...
publicado por PRD às 18:57
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Quarta-feira, 19 de Dezembro de 2007

Um homem de acção...

E que tal um momento de fofoca e intriga? Vamos a ele: o presidente francês Nicolas Sarkozy decidiu assumir publicamente o namoro com a cantora e ex manequim Carla Bruni. Fizeram-no durante uma visita privada à Eurodisney – curiosamente, uma visita acompanhada por uma dezena de fotógrafos. Ele há cada coincidência…
Luiz Carvalho, ele próprio fotógrafo, no blog Instante Fatal brinca com o caso: “O PR francês já tem o seu parque de diversões”.
JAC , no Blog Anarco-conservador , fala de ódio:
 “Quando começava até a gostar do homem, para mim difícil tendo em conta que é francês, eis que um súbito e emergente ódio toma conta de mim. Sim, é verdade que a inveja é um sentimento muito feio e estamos no advento, mas afinal somos todos pecadores”…
JCS , no blog Lóbi, não se surpreende com a noticia: “Era evidente que Sarkozy não levava para casa estampa de calibre inferior a uma Carla Bruni. E se o conheço bem, só quis ser presidente da república para se salvar; isto é, evitar ficar encalhado depois do divórcio. (…) Carla Bruni é a mais recente obra de arte no Eliseu”...
António Oliveira, no blog Estrada Poeirenta, também elogia Carla Bruni: “Além de ter um corpo de morrer, tem também uma voz fabulosa. O que surpreende neste novo romance é o estilo do presidente de França. Está-se nas tintas para o que se diga. E sendo de direita deve estar a provocar dores de cabeça no sector mais conservador de França. Esta nova ligação não se enquadra muito nos padrões tradicionais. Carla Bruni é uma bomba. (…) Uma coisa é certa. Nicolas Sarkozy está de novo na ribalta. Em França, já ninguém se lembra do Tratado Reformador, o que é mau, e todos têm inveja de Sarkozy , o que é bom. E eu a pensar que ele andava atrás da filha do padeiro que fornece a presidência francesa. Erros de trajectória”. João Villalobos, no blog Corta-fitas, cede ao “Momento tabloíde” e depois de exclamar
“Grande Sarko”, acrescenta: ”Assim é que se vê quem é um homem de acção” .
Do lado feminino, Cristina Vieira, no blog Contra Capa, escreve que Sarkozy e Bruni andaram a brincar de Mickey & Minnie na Eurodisney . (…) Será que La Bela-Bruna Ex-Mick Jagger, Ex-Eric Clapton, Ex-Kevin Costner, Ex-magnata-Donald-Trump vai agradar à la France Profonde?”
Resposta a conferir mais tarde…
Enfim, espaço para um fait divers, uma pequena intriga – que pode não ser assim tão pequena, se pensarmos na importância que hoje tem a imagem privada dos homens públicos…
publicado por PRD às 18:38
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Terça-feira, 18 de Dezembro de 2007

Vai abrir a caça ao fumador

Tabaco, fumadores, nova lei – o debate vai aquecer nos próximos dias com a aproximação do primeiro de Janeiro. Por enquanto, a blogoesfera ainda se dispersa, mas já começa a haver sinais do que aí vem. Ontem, por exemplo, Jorge Ferreira, no blog Tomar Partido, criou polémica com este post :
“Estou curioso para ver o que vão fazer nas prisões com a nova lei do tabaco. O Governo vai pôr seringas à disposição dos presos toxicodependentes, mas quer proibir os cigarros, o que seria verdadeiramente fantástico. Uma solução para um fumador preso será talvez injectar nicotina. E se permitir que os presos fumem, então será caso para dizer que quem se porta mal safa-se sempre. Bem, bem vistas as coisas já vivemos num país com múltiplos exemplos destes”. Vasco Barreto, no blog Memória Inventada, não demorou tempo a responder: “Este parágrafo (…) é péssimo em... enfim, em tudo. Na forma, porque os adesivos e as pastilhas de nicotina anulam o punch do "injectar nicotina". No rigor, porque (…) poderão ser criadas áreas para reclusos fumadores, em celas ou camaratas. E no princípio, pois esta lei, independentemente de eventuais pulsões higienistas, na prática pretende defender a saúde de quem não fuma e não apenas complicar a vida aos fumadores”. Filipe Nunes Vicente, no blog Mar Salgado, critica também Jorge Ferreira mas por outro lado: “Quem ainda não quis perceber que os presos têm heroína porque existem funcionários corruptos e/ou incompetentes, e quem ainda não percebeu que seringas esterilizadas não são um luxo mas uma forma de prevenir as infecções pelos vários tipos de HIV (…), também não é agora que vai perceber. Inevitavelmente”
No blog Portugal Tuga , o tema merece ainda uma pergunta no mínimo divertida: “Mas… e se fumarem? Pagam multa? Vão presos?”
A questão dos detidos e do fumo é uma das muitas que começa a agora a levantar-se face à nova lei. Mas também há boas notícias. F . Vale no blog Open Mind revela, com base em notícia de jornal, aquilo que considera ser “um incentivo para os fumadores nacionais”:
Estima-se que desde a entrada em vigor da lei já tenham deixado de fumar mais de 1,2 milhões de pessoas em Espanha”.
No sentido oposto, ou seja, entre a liberdade e o incentivo, Daniel Oliveira abre no blog Arrastão um apelo público:
“Não sei se conseguirei levar esta ideia a bom porto. Mas apelo aos leitores do Arrastão que, a partir de dia 1 de Janeiro, me informem de restaurantes, bares e discotecas da sua cidade onde se pode continuar a fumar para aqui lhes fazer publicidade gratuita num roteiro para fumadores”.
E no mesmo dia em que lança o desafio, um anónimo ADM abre o blog Dignidade do Fumador. Carta de princípios sumária: “A intenção é juntar as vozes que como eu aos 17 anos (mais tarde ou mais cedo) começaram a fumar numa sociedade que para além de não condenar o seu uso quase o fomentava. (…) Criei este Blog para que aqueles que se sentem Excluídos e humilhados por uma lei que olha para nós, simples fumadores, como criminosos que ainda não somos, mas que não queremos vir a ser, só porque um dia, como era normal na nossa sociedade, começámos a fumar”
O tema vai dar pano para mangas. Está aberto o debate, antes de abrir a caça ao fumador…
publicado por PRD às 18:59
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Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2007

Noites em branco...

Andava meio mundo a queixar-se da Policia Judiciária, que parecia adormecida ou aos papéis nos casos violentos da noite portuense, e ontem houve finalmente acção e detenções e atitude. Nem por isso foram todos convencidos. Tomás Vasques, por exemplo, no blog Hoje Há Conquilhas, acha que no essencial nada mudou:
“A PJ alterou a estratégia no combate ao crime violento na noite portuense. Até ontem, tudo indicava que tinha decidido acabar com a matança através da operação «Olhar de longe», ou seja, quando se matassem todos uns aos outros, o assunto estava arrumado. Ontem, deu início à operação «Noite branca», ou seja, deu o sinal de que podem estragar os «negócios» da noite caso não parem de se matarem uns aos outros. De resto, continua tudo na mesma”.
No entanto, por detrás deste caso, ou por causa dele, outros temas vieram à baila na blogoesfera, ligados obviamente à segurança dos cidadãos. Manuel Jorge Marmelo, no blog Teatro Anatómico, levanta um desses novos problemas, a propósito da instalação de um sistema de videovigilância nas ruas da Zona Histórica do Porto:
“As imagens serão, supostamente, monitorizadas exclusivamente pela PSP e preservarão a privacidade dos moradores no recato dos seus lares. Repito: supostamente. Com tanta pirataria, escuta, intercepção de dados, falsificação & etc., creio que ninguém nos pode garantir que seja impossível a qualquer pessoa mal intencionada ter acesso às imagens e à privacidade de quem está em casa e de quem está na rua. (...) Pode até ser verdade que a Ribeira vigiada pelas câmaras dos donos dos bares se transforme numa zona seguríssima. Mas, pela parte que me toca, vou pensar três vezes de cada vez que me apetecer ir beber um copo”.
Rogério Gomes, no blog nortenho Bússola, prefere levantar outra questão a propósito do mesmo caso e das críticas que Rui Rio fez às autoridades:
“O que me faz impressão não é propriamente a crítica à autoridade policial (...). O que me incomoda é que seja o presidente da Câmara do Porto, o presidente da Junta Metropolitana do Porto, a trazer para a praça pública uma crítica tão mordaz e claramente excessiva a quem tentará o melhor que pode para cumprir a sua missão. (...) O problema é relativamente simples: ou no Porto não há polícias capazes ou eles são de algum modo coniventes com a situação. E, então, há que pedir responsabilidades a quem ao longo dos anos foi montando a máquina policial no distrito (...). O que há que exigir é mais e melhores agentes e inspectores, mais meios e condições, e melhor direcção. Atacá-los, humilhá-los na praça pública não me parece razoável e muito menos proveitoso”.
Na verdade, foi preciso deslocar a investigação para Lisboa para algo acontecer. A ver vamos que dia se seguirá a essa Noite Branca. Razão talvez tenha João Miranda quando escreveu., no Blasfémias: “A polícia só conseguirá controlar a violência na noite do Porto no dia em que se tornar no gang mais poderoso da cidade”.
publicado por PRD às 21:25
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Sexta-feira, 14 de Dezembro de 2007

Blog da semana: Amarcord

O cinema, como a musica e a literatura, é uma das áreas onde a blogoesfera mais produz e mais se reproduz. Em português há dezenas, centenas de blogues mais ou menos dedicados ao cinema, ou a especificidades ligadas à sétima arte.
Trago um desses blogues para a minha escolha da semana. Chama-se Amarcord (http://wwwamarcord.blogspot.com ), é assinado por Hugo Ramos Alves, e quando começou, em Janeiro de 2006, anunciou-se deste modo:
“De hoje em diante, este espaço fará jus ao nome: recordações do cinema de outros tempos, bem como reflexões a propósito do que hoje se vai fazendo. Sempre (espera-se) com um tom crítico, metódico e devidamente ponderado”.
Amarcord, explica o autor, é “expressão em dialecto romagnolo que significa "Io mi ricordo" e, simultaneamente, é o título de um celebérrimo filme de Federico Fellini”.
Na verdade, e ao contrário de outros blogues cinéfilos de que já falei, como o de João Lopes ou o de Lauro António, aqui estamos perante um blog totalmente "engajado" e muito nostálgico: o cinema francês, o cinema italiano, o neo-realismo, são admirados como hoje não se usa; o cinema português, seja um António Reis ou um Manoel de Oliveira, têm honras de primeira página – e mesmo quando há referências ao cinema actual elas acabam por ir ao passado buscar, no mínimo, inspiração.
É portanto uma forma peculiar, muito particular, de ver cinema. Politicamente, à esquerda, me parece.
Hugo Alves é, pelos vistos, advogado, já que num post se diz assim:
«Começa a ser recorrente perguntarem-me quando me dedico ao Cinema ou aos Livros. Dizem-me: "Não tens feitio de advogado. Tens pinta de intelectual" Adepto que sou das citações e afins sai, invariavelmente, "Sou um bocado como o Ethan Edwards no The Searchers: procuro obstinadamente algo que perdi. Precisamente por ter noção dessa dimensão trágica da perda [...] fico com o ar distante do Jef Costello: alheado de tudo, com ar sombrio e vago. Sou, de certo modo, como o conformista do Moravia. (trocista) Acaso não serei como as personagens dele? (...) Apenas anseio a normalidade. Viver a vidinha sem sobressaltos e sem causar arrepios de maior aos que se cruzam comigo”.
Para fechar com um exemplo deste olhar peculiar sobre o cinema, quer voltar a “Brandos Costumes”, de Alberto Seixas Santos?
Vá ao “Amarcord” e leia:
“Brandos Costumes é um ensaio social onde estão bem traçadas as fronteiras de todos e cada um numa dada sociedade: o pai que manda, a criada que faz, a mulher beata e as filhas algo perdidas. Tudo construído em contraste, provocando assim uma cadeia de choques contínuos. Vanguardista, retórico, exagerado e, não obstante, algo que marca, nem que mais não seja pelo cuidado tratamento do português, ou não fossem os diálogos uma sucessão de rimas”.
Há quanto tempo não ouvia falar deste filme...
Outro cinema, outra forma de ver cinema, e seguramente outros filmes, diferentes do mainstream diário. Na blogoesfera há espaço para todos - e essa é a sua maior riqueza.
publicado por PRD às 20:41
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Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

Tiros para o ar

Crime na noite de Lisboa e Porto – as notícias parecem saídas de um livro policial, ou de um filme sobre gangues . No Portugal de brandos costumes, a coisa faz alguma confusão.
Na blogoesfera , o tema também dá que falar, tanto mais que dominou o encontro mensal no Parlamento. Comecemos por uma aproximação ao tema via blog Grande Loja do Queijo Limiano, assinado com pseudónimos mas que se percebe ser de profissionais ligados à justiça. Manuel escreve, a propósito das declarações do Procurador-Geral que se socorre da estatística para provar que o crime não aumenta em Portugal:
“Sem alarmismos, claro está, apetece recordar a Pinto Monteiro as palavras sensatas de um professor de Estatística, nos bancos da Universidade, há muitos anos atrás - as estatísticas, às vezes, são como uma mulher em biquíni - mostram tudo, menos o essencial. Ora, o essencial é que desde os tempos loucos das FPs que não se via nada assim”.
Acrescenta o seu colega José no mesmo blog: ”Torna-se já notório que os mandantes dos crimes de sangue (...) são criaturas da noite. Em diversos sentidos. Se a polícia Judiciária só anda de dia e fica sentada em secretárias, (...) não admira que fiquem espantados com a falta de pistas para topar quem anda a matar. (...) A polícia pairou, durante tempo demais, algures, alheia ao fenómeno”.
Salto daqui para um blog de policias, que não se identificam, o Policíadas :
“Todos sabem muito de gangs e máfias. Todos têm exigências a fazer e defeitos a apontar. São fenómenos cíclicos. São também alimentados por grupos de interesse bem objectivados: a imprensa vende mais jornais, a televisão tem mais minutos de cobertura em directo de coisa nenhuma (...), o Ministro vem falar com ar paternalista (...), a população pede mais segurança, o poder local faz umas reuniões (...) e anuncia soluções.... Mas o cerne da questão fica por tratar. Onde foram chamados a ser ouvidos os profissionais, os verdadeiros profissionais da segurança. Onde, como e quando foram chamados a pronunciar-se? Nunca ou quase nunca. (...) Os poucos casos de criminalidade mediaticamente violenta (...) vão em última análise servir o interesse de alguém. Dois exemplos: A segurança a Clubes Nocturnos (...) era feita, nas cidades, pela PSP. Foram proibidos de o fazerem; apareceram as empresas de segurança privada. Segundo: no futebol foram criados os «Stewards». Substituíram a Polícia no serviço mais calmo (...). Entretanto, como autênticos cogumelos apareceram mais empresas de segurança. Concluindo: foi o poder politico que legislou para que a realidade que temos se verificasse”.
Teme-se o pior de acordo com este quadro, que é secundado de alguma forma por Miguel Silva no Bios Politikos:
“Os assassinatos dos últimos meses estão ligados a uma criminalidade altamente organizada, (...) que se combate menos com policiamento de proximidade e mais com investimento na investigação e no combate à corrupção e ao branqueamento de capitais. Tudo coisas bastante mais difíceis de concretizar”.
Valham-nos então um post para sair a sorrir desta imagem de horror e animar um pouco o dia. É humor negro, aviso já. JCD no Blasfémias: “Se há uns gangsters que se andam a matar uns aos outros, o Porto só pode estar a ficar mais seguro. Na prática, o que eles estão a fazer é o trabalho da polícia, mas com mais eficácia”.
Não é bem assim, mas sempre desdramatiza o drama das noites que se vivem fora das nossas casas...
publicado por PRD às 19:03
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Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2007

Breve encontro...

Ontem foi dia de confronto no Parlamento entre o Governo e a oposição. José Sócrates escolheu o ensino como tema central, mas os outros partidos não hesitaram em abrir a discussão a temas mais escaldantes da actualidade.
No blog Atlântico, Pedro Marques Lopes acha que, “Pela primeira vez desde que assumiu o cargo de Primeiro-Ministro, José Sócrates perdeu, e de forma clara, um debate parlamentar. Mérito a Santana Lopes e a Paulo Portas que desta vez foram melhores que o Primeiro-Ministro. Claro está que o novo regimento da Assembleia já não beneficia de maneira tão evidente o Governo, porém nada pode obscurecer a evidente derrota de Sócrates”
Vìtor Matos, no blog Elevador da Bica, assina mesmo uma Crónica Parlamentar, e classifica assim os protagonistas do confronto de ontem:
“Santana Lopes esteve um furinho acima, mas ainda assim muito abaixo do que devia, e abaixo das prestações de Marques Mendes, mesmo quando eram más. (...) Havia gente nos corredores a louvar um soundbyte de Santana a chamar “homem da Regisconta” a Sócrates. Pareceu apenas gratuito. Paulo Portas esteve impecável na técnica parlamentar, à inglesa. Perguntas rápidas, claras e objectivas, assertivas e sem hipótese de fuga, das quais já tinha a resposta, para provar que o PM não respondia (...) José Sócrates está em baixo de forma, (...) está menos preparado, (...) e o debate não lhe correu tão de feição quanto outros”.
João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos, preferiu pegar num dos temas em debate para o desmontar e assim desmontar também o próprio encontro no Parlamento: “Um dos truques mais estafados usado na política para assustar o "povo", consiste em falar-lhe em "insegurança" e no "aumento da criminalidade". Acontece que, chamar isso à colação por causa de ajustes de contas entre gente pouco recomendável, não é correcto. Portas atacou o governo por aí (...). E, na opinião de João, devia ter atacado pelas figuras do Ministro e do Director da PJ. Remata: “O "homem médio" preocupa-se com os pequenos furtos(...). Muito provavelmente, o "homem médio" até acha louvável que os "homens da noite" se eliminem uns aos outros a tiro, nem que seja no passeio onde mora. Não vale a pena ir por aí”.
No mesmo sentido vai Assensio, no blog Bico do Gás, mas apontado ao PSD. Dizendo que “Santana criou um monstro”, escreve: “É a forma deste monstro bicéfalo. Ontem, o líder do partido afirma que "não ficaria mal ao senhor primeiro-ministro pedir desculpa pela situação de insegurança que se vive em Portugal". Hoje, Santana, o mestre do populismo português, atenua a crítica do seu pupilo, Menezes, talvez considerando-a exagerada até pelos seus padrões”.
Assim foi o debate, entre as acusações do costume e as respostas habituais. Parece que Sócrates esteve em baixa, Portas em alta, e Santana igual a si próprio – como o PCP e o bloco.
Educação não foi tema principal – segurança e insegurança, sim. Mas sobre isso falamos amanhã...
 
publicado por PRD às 19:21
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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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Seis anos já cá cantam.

Na melhor revolução cai a...

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