“Jam session, pilates sem personal trainer, e desenho de modelo nu” - assim se subtitula o blog As penas do Flamingo. É o meu destaque desta semana, encontra-se em aspenasdoflamingo.blogs.sapo.pt/, e é um blog assinado por dois jornalistas, um deles no activo, o outro mais ligado nos últimos anos à comunicação empresarial: Luís Naves, do Diário de Notícias, e João Vilallobos.
A razão que me leva a escolhê-lo resulta das circunstancias dos seus dois autores: tanto Luis Naves como João Vilallobos escreveram já noutros blogues colectivos, como o Corta Fitas ou o Prazeres Minúsculos, em registos mais próximos da actualidade, do comentário politico e social.
Aqui, nas Penas do Flamingo, ambos dão largas às suas veias poéticas, de ficcionistas, de escritores. Aliás, Luís Naves tem um percurso paralelo na ficção em livros como O Silêncio do Vento e Territórios de Caça.
O blog é então um espaço privilegiado para separar as águas – o jornalista e comentador usa outros patamares para o exercício profissional, e reserva para esta cantinho o gosto pela ficção, pela poesia. A amizade que liga Luís Naves e João Vilalobos talvez explique este encontro sob as Penas do Flamingo.
Lendo o blog, parece-me ver nele também um poiso de ensaios sobre a escrita de cada um dos autores – como se pudéssemos ter ali rascunhos de textos futuros, experiências, pequenas ousadias.
Nem por acaso, há poucas semanas, um post-poema de Luís Naves:
É difícil falar do amor
Parece fácil falar de amor
E há outros temas bem mais urgentes
planeta a sufocar, crises emergentes
o mar a subir, o excesso de calor
Pensar nas paixões, quis eu supor
daria versos pouco exigentes
ideias banais, algo incoerentes
poesia sem chama e sem ardor.
Soube então o que falhara em entender:
a água passada é como um rio imenso
que se impõe ao presente, temível, denso
Um desgosto corre sempre assim, penso
e recordá-lo de menos é esquecer:
ter amado não é ter vivido, é ainda viver
Nestas palavras está, de alguma forma, a essência do blog e a lógica de o destacar. Estamos ainda nos primeiros dias do ano, talvez a ideia de um espaço onde livremente deixamos crescer o potencial escritor ou poeta que há dentro de nós, dizia, talvez essa ideia inspire os ouvintes da Janela Indiscreta e daqui resultem novos blogues, mais escrita, mais talento à vista.