A cantora americano-mexicana Lhasa de Sela, 37 anos, morreu na sexta-feira, vitima de cancro. O anúncio foi feito apenas ontem, mas desde o dia 1 que a noticia corria. Não corria nos jornais – corria na rede, uma vez mais à frente da informação dita oficial. No blog Bitaites conta-se que “As primeiras notícias surgiram no Twitter. Horas depois, a editora que representa a cantora desmentia: «Por respeito para com Lhasa, ficaremos muito agradecidos se acabarem com esse rumor». (...) A editora precipitara-se no desmentido e provavelmente sabia tanto como nós. A notícia difundida no Twitter correspondia à verdade. Ontem, o site oficial de Lhasa confirmou o desaparecimento desta belíssima cantora”.
Cantora de culto, com muitos admiradores entre nós, o seu obituário acabou por se estender no tempo, ou ser antecipado pelos rumores – um sinal dos tempos, quando é justamente na rede que a notícia começa a circular. Bom, deixemos o facto onde ele deve ficar, vamos à morte de Lhasa: “Diz-se que é sempre cedo de mais para se morrer. Mas, por vezes, acontece que a frase não é apenas uma frase feita. Aconteceu hoje” – isto escreveu Ana Vidal, no Delito de Opinião. No Sound and Vision, o jornalista e critico Nuno Galopim traça-lhe o retrato artistico: “Gravou apenas três álbuns. Mas entre eles um dos mais marcantes títulos da discografia dos anos 90. Chamou-lhe La Llorona e, nesse 1998, o disco colocava em cena o nome de Lhasa de Sela. O disco, não sendo um auto-retrato, acabava por traduzir passos e espaços de uma vida de invulgar nomadismo. Lhasa nasceu numa pequena cidade do estado de Nova Iorque em 1972, filha de um mexicano e de uma americana. Viveu a infância habitando o espaço de uma carrinha de escola transformada, num quase ziguezague entre o Méxicio e os EUA, na verdade nunca muito longe da fronteira. Essas memórias, vivências e sons ganharam forma em La Llorona, o álbum de estreia que imediatamente conquistou atenções mundo fora”.
No 5 Dias, Renato Teixeira sintetiza: “Apesar da curta carreira a sua memória tem muitas pautas onde ficar guardada e muitas paragens para recordar”. E sobre recordações, o desbafo de Miguel Marujo no Cibertulia: “A morte, malvada, só não nos tira a música”.
Fecho com a memória de Fernando Moreira de Sá no blog Aventar, muito sentidamente: “Sinceramente, faltam-me as palavras, as palavras certas para descrever tudo o que senti quando ouvi, pela primeira vez, as suas músicas, o seu canto profundo, vindo das profundezas da alma. Uma voz assombrosa de uma mulher do Mundo mas cuja estética musical é, claramente, mexicana e só os Deuses sabem como tão bem tratam a música no México. (...) Como foi possível, tão nova, ver a sua vida interrompida por um maldito cancro de mama. E eu, parvo ignorante, que julgava quase impossível uma mulher tão nova, tão jovem, morrer assim. A melhor homenagem é ouvir as suas músicas e nelas descobrir a verdadeira Lhasa, a nossa Lhasa, a minha Lhasa de Sela”.