Há rituais a que não escapamos – um deles é começar o ano com um discurso do Presidente da Republica. O ritual cumpriu-se e o fim-de-semana acabou por ser marcado pelas palavras de Cavaco Silva. Um resumo em quatro linha de Paulo Morais no Blasfémias: “O país está um caos e ninguém faz nada. O governo não resolve nada, o parlamento também não. O PR fala bem, mas também não pode fazer nada”. Mais reflectido, Rodrigo Adão da Fonseca, no Insurgente: “Quando o Parlamento e o Governo estão fragilizados ou com dificuldade de entendimento, o papel do Presidente da República obriga a que imponha alguma estabilidade no sistema político. Foi esse o sentido da intervenção de Cavaco”. José Medeiros Ferreiranão vê as coisas tão claras meridianas, e tem o seu toque de humor habitual: “De pai tirano quando era primeiro-ministro tornou-se pai severo em Presidente. O que arrepia neste regresso ao futuro é perceber que Cavaco Silva deixa discípulos...”.
No blog Escrita em Dia, CN achou pouco o que disse Cavaco: “O Presidente não teve peito para chamar os bois pelos nomes e foi pena”. Rui Fonseca, no blog Aliás, ouve Cavaco pedir aos partidos e ao Governo que se entendam e fica na duvida: “ficamos sem saber se a indicação é uma ordem ou uma advertência e um encolher de ombros. E deviamos saber: se o PR exige o pacto interpartidário que as circunstâncias impõem e, caso esse acordo não seja atingido (...) ele tomará conta das rédeas do cavalo à solta, ou prossegue na posição minimizante das suas funções”.
No Terra de Espantos, Francisco Clamote não ouviu um Cavaco Silva duro com o Governo - “atrever-me-ia até a dizer que os recados de Cavaco Silva tiveram como principais destinatários os partidos políticos da oposição parlamentar, ao acentuar que o Governo tem toda a legitimidade para governar; ao considerar necessária, por parte da oposição, "uma atitude de diálogo e uma cultura de responsabilidade".
Outros olhares sobre esta intervenção: Maria Dá Mesquita no Golpe de Estado sublinha o facto do Presidente ter dito que “a crise que vivemos hoje não é só uma crise económica, mas é também uma crise de valores, apelando para a necessidade de «recuperar o valor da família»”. António Balbino Caldeira, no Portugal Profundo, afirma que se engana “quem entendia que o Prof. Cavaco Silva se tinha rendido aos socialistas e não se candidataria a novo mandato. Este período final do seu mandato tem surpreendido (...) pela mudança da perniciosa política de «cooperação estratégica» (...) para uma política de autonomia e resistência”. Renato Teixeira, no Cinco Dias, até concordaria mas ele vê um filme mais completo no mesmo ecrã: “O mais interessante nas palavras do PR foi a forma infantil como antecipou a crítica de que este, tal como Alegre, já está em campanha eleitoral: “(...) Falo aos Portugueses quando entendo que o interesse do País o justifica e faço-o sempre com um imperativo: nunca vender ilusões nem esconder a realidade do País”.
E parece que por esse lado o retrato do Presidente não anda longe da verdade: situação explosiva é o mínimo que temos pela frente em 2010.