É a polémica do momento: o referendo na Suíça que aprovou a proibição dos minaretes nas mesquitas dos muçulmanos. Na Suíça bastam 100 mil assinaturas para convocar um referendo e lá se juntaram dois partidos para a fazer. O resultado foi claro: 57,5 por cento dos suíços disseram "sim" à introdução da frase "a construção de minaretes é proibida" no artigo da Constituição que fala das relações entre o Estado e as religiões.
A blogoesfera agita-se, claro. Tiago Loureiro no blog Golpe de Estado diz que “A custo” tenta perceber “a razoabilidade do referendo suíço sobre os minaretes e, mais ainda, o seu resultado. Referendar um pormenor que não passa disso mesmo e, como consequência, proibir a construção de algo que outra função não tem que não seja meramente simbólica, parece brincar com o fogo com uma enorme vontade de se queimar. (...) Com recurso a um mínimo de bom senso, toda a gente percebe que os minaretes não representam qualquer espécie de ameaça. Proibi-los, mais não faz do que dar motivos para as virgens lá do oriente se sentirem ofendidas a troco de coisa nenhuma”. Tiago Moreira Ramalho no Corta Fitas acha que os minaretes são apenas uma ponta do iceberg: “o que foi referendado foram as senhoras de burka, foram os fundamentalistas do médio oriente, foi o 11 de Setembro e tudo isso que associamos ao islamismo”.
À direita, Rui Crull Tabosa no 31 da Armada escreve com ironia que “É evidente que os referendos são perigosos porque podem dar o resultado errado e não há margem para recuos. Entre nós, por exemplo, foi péssimo quando venceu o Não ao aborto, mas, pelo contrário, foi óptimo quando o Sim ganhou... (...) Em todo o caso, este disparate democrático dos suiços tem solução simples e a rapaziada cá da terra pode sugeri-lo às autoridades suiças: é só repetir o referendo tantas vezes quantas as necessárias para que o resultado dê certo... É um aborto de ideia mas resulta sempre”.
Claro que também encontro análises sensatas, ponderadas, inteligentes: “A liberdade depende da escala”, escreveu João Miranda: “A liberdade de construir minaretes em todas as terrinhas da Suiça é uma microliberdade. A liberdade de construir minaretes na Europa, mas não necessariamente em todos os países europeus, é uma macroliberdade.
As microliberdades são incompatíveis com as macroliberdades. (...) É natural que os suiços estejam divididos. Uns gostariam de viver num país mais multicultural, outros gostariam de continuar a viver na Suiça tal como a conheceram no passado. Dentro da Suiça, o conflito é entre mais microliberdade e menos microliberdade”.
Resta lembrar, como bem faz Daniel Oliveira, que este referendo resulta do facto de haver uma mesquita em construção para a qual se previa o tal minarete. Diz Daniel: “A decisão não resulta de um problema real – há apenas quatro minaretes num total de 180 mesquitas em todo o país -, mas de uma xenofobia profunda”.
Xenofobia ou não, um referendo é um instrumento da democracia, lá está, tem os seus custos - mesmo que fique neste episódio o “aviso para os perigos de referendos que dão à maioria o poder de limitar os direitos de uma minoria”.