A justiça em Portugal parece uma montanha russa, anda para cima e para baixo a uma velocidade apreciável, quem hoje parece inocente amanhã é arguido, quem hoje é culpado amanhã adormece na espera por uma decisão judicial. Estamos a entrar no mais perigoso caminho – o da falência do sistema, o do fim de qualquer espécie de crédito.
É no meio deste lamaçal que se pode entender a importância que teve a suspensão, por ordem do tribunal, de José Penedos da Presidência da Rede Eléctrica Nacional. Como escreveu e bem Daniel Oliveira, “Depois não se Queixem”: “Não foi o próprio (Penedos) que saiu pelo seu pé, como exigia a decência. Não foi o governo que o mandou sair, como exigia o rigor. Foi o tribunal. Depois não se queixem da preocupante justicialização da política. Se a política não trata do mínimo dos mínimos…”. No mesmo sentido escreve No Portugal Profundo António Balbino Caldeira: “Quando um Governo não tem força, por receio, para demitir um presidente, Eng. José Penedos, constituído arguido por aquilo que um seu advogado, o Dr. Rui Patrício, descreve como «exercício de influência» (...) sujeita-se a acabar envergonhado por um juiz de instrução que o suspende de funções, o proíbe de contactar com funcionários da REN e demais arguidos (...) e lhe aplica uma caução de 40 mil euros para se manter em liberdade...“
No Aventar, Luís Moreira admite, com ironia, que José Penedos seja “outra vitima de campanhas negras”, como aliás o seu advogado chegou a insinuar, e no Blog Oval sublinha-se que estas medidas de coacção confirmam “quão grave e complexo é este processo”, ainda que, lá está, seja apenas um processo e não ainda um julgamento.
No rol das opiniões que fui lendo não faltou o trocadilho: “Água mole em penedos duros tanto dá que até que fura”, li no blog Da Tailândia com Amor e humor. Quem também não faltou à chamada foi João Gonçalves, que distingue inocências e responsabilidades: “Até trânsito em julgado - e, na justiça portuguesa, o trânsito em julgado é parecido com o trânsito automóvel - o senhor Penedos é inocente. Sucede que o senhor Penedos não é politicamente inocente”. Porquê? Porque foi politicamente nomeado.
Na verdade, até ontem José Penedos parecia acima desta história, desde ontem está todo dentro dela. Jorge Assunção, do blog Despertar da Mente, pode agora estar mais tranquilo: “o sorriso que o homem ostentava no dia em que era ouvido no âmbito de um processo onde é suspeito de um crime grave”, deve ontem ter desaparecido. O blogger estava incomodado com a manutenção do engenheiro na Presidência da REN e com o sorriso que fazia para as câmaras: “Penedos ri não sei bem do quê, eu rio para não chorar”. Agora já ninguém ri nesta história.