A semana das pessoas normais começa à segunda-feira – já a semana politica começa ao domingo à noite. Na RTP, com Marcelo Rebelo de Sousa, lançam-se os dados para o debate sod dias seguintes.
Ora, no fim de semana, como bem conta Pedro Marques Lopes no blog União de Facto, o jornal i “garantia que Marcelo Rebelo de Sousa seria candidato à liderança do PSD. Mais, o seu director até fez um editorial aconselhando o professor nas suas futuras tarefas. Era assim certa a candidatura e, claro está, a vitória nas eleições internas”.
No dia seguinte, Marcelo Rebelo de Sousa negou na RTP essa candidatura: “não há nem candidatura minha, nem participação num projecto de unidade que já se viu que não existe”. Pedro Marques Lopes fica na duvida: “isto levanta uma série de questões que dizem respeito à actividade jornalística e para as quais não tenho resposta. Por exemplo: se um cidadão diz claramente que vai fazer uma coisa, o que leva um jornalista a dizer que irá fazer outra?”
Com Marcelo e as suas noites de domingo, é realmente verdadeira a frase “nem tudo o que parece, é”. Vasco Campilho, por exemplo, adianta uma explicação: “Se a vaga não chega a Marcelo, atira-se Marcelo ao mar. Mas como em Janeiro a água está gelada, faz-se já um pré-anúncio, anónimo comme il faut. Para que o banhista vá ganhando balanço. E talvez coragem”.
Francisco José Viegas, no seu Origem das Espécies, antecipa esse eventual futuro: “Com a candidatura de Marcelo, o país PSD cairá de bruços, (...) disposto a rasgar as vestes como nos melhores episódios do Pentateuco – e converter-se-á à Boa Nova que há uns anos tratou de assassinar com a melhor cutelaria disponível. Estarão, nessa altura, disponíveis para genuflexões discretas na sala-de-espera onde se encontram (...) a aguardar um lugar nas administrações, no governo ou na frota automóvel do Estado. Eu, se fosse Marcelo, fazia-lhes um manguito, aos antipassoscoelhistas do PSD”.
Paulo Pinto de Mascarenhas pergunta se Jesus não desce à Terra e deixa um desabafo simples: “A novela Marcelo vai-não-vem já se está a tornar enfadonha”.
No meio deste vai-não-vem, tão alimentado por Marcelo como pelos jornais, pelos comentadores, pelo próprio PSD, o que continua em causa é o estado desesperado e perdido do maior partido da oposição. Razão tem, por isso, Eduardo Pitta, no blog da Literatura, quando recupera uma crónica de Vasco Pulido Valente numa edição de fim de semana do Publico: «[...] A República, como incessantemente se repete, depende dos partidos. Com o PSD, já não pode contar.». E sendo isto verdade, pelo menos de momento, é certo o titulo dessa crónica, “A agonia de um partido”. O que a democracia pede é que o doente deixe de agonizar a recupere. A ver vamos se na semana politica que começa no próximo no domingo, ou no seguinte, ou no seguinte, se algum dia a semana começa com Marcelo candidato a líder e o PSD de volta ao activo, entre ele e Passos Coelho. Portugal não pode viver só com um lado da barreira, sob pena de deixar de viver em paz.