"A Bíblia é um manual de maus costumes e um catálogo do pior da natureza humana" – assim falou José Saramago na apresentação do seu novo livro, "Caim", que se realizou em Penafiel. O que esperava o escritor? Reacção. E ela não faltou um pouco por todo o lado, a blogoesfera acordou pela primeira vez desde as ultimas eleições. No blog 5 Dias, Ricardo Noronha tenta defender o indefensável: “qualquer tentativa de remexer pedras no passado cristão é acolhido com imediata hostilidade por parte dos meios eclesiásticos, sejam quais forem os termos usados (...). Dizem-nos que Saramago escreve motivado pelas suas convicções ideológicas. Será que não o fazemos todos?”. Talvez sim, mas tenho dificuldade em encontrar quem concorde. Mesmo à esquerda, Daniel Oliveira escreveu: “Dizer (...) que tudo o que se lê na Bíblia é “absurdo” e “disparatado” não é apenas infantil. É, vindo de um escritor, revelador de uma assinalável ignorância e insensibilidade cultural”.
Agora vamos ás reacções, começando pelas intenções do escritor: “A única coisa que enoja é que nas suas campanhas publicitárias e para vender os livrinhos que lhe brotam da cabecinha se ponha a ofender galhofeiramente milhões de crentes (...). O homem pretende barulho, confusão, estardalhaço para vender as historinhas”. Assim escreve Vasco Lobo Xavier, no Mar Salgado. No Teatro Anatómico, Manuel Jorge Marmelo concorda e acha “que se trata de um truque de marketing relativamente gasto e cansado (...), criticar o catolicismo é uma actividade que não carece, hoje, de especial coragem”.
No Insurgente, Maria João Marques: “não são as burrices anti-católicas e anti-judaicas de Saramago que o tornam merecedor de ficar nos escaparates das livrarias em vez de em nossas casas, nem sequer o facto de não perceber do que escreve (...). Há muitos bons livros escritos, mais ou menos informados, que contraditam ou interpelam a Bíblia, e eu tendo a consumir o género. A razão para não ler Saramago é tratar-se de um mau escritor.”. João Carvalho, no Delito de Opinião, vai mais longe: “Saramago é um manual de mau gosto e não é de agora”. Bernardo Pires de Lima, no União de Facto, limita-se a olhar o “o pseudo-político, pseudo-ideólogo e aprendiz de ditador”: “uma criatura triste. No país que Saramago idealizou e quis praticar durante uns tempos, não existiu liberdade. E ele contribuiu bastante para isso”. Pedro Quartin Graça no Risco Contínuo: “É verdadeiramente mau de mais”. E faz um apelo com memória: “Volta Sousa Lara, estás perdoado!”.
Miguel Marujo, no Cibertulia: “O problema dele é que lê a Bíblia e mete-a encafuada no seu sistema de valores - que só prevê o gulag, a tortura, o centralismo, o acefalismo da opinião”.
E podia passar horas aqui a reproduzir comentários deste tipo, confirmando o que escreve Pinho Cardão, no 4ª Republica: “Saramago continua vesgo. (...) interpreta literalmente textos de há mais de mil anos. Não procura o contexto. Não conhece a história. Não vê mais do que os seus ódios de estimação. É curto para um Prémio Nobel”.
E é aqui que a Janela se fecha: pensar que estas afirmações foram ditas por um Prémio Nobel, deixa-nos a todos um pouco envergonhados. Parece que sim.