E por fim, Cavaco falou. E ao falar envolveu-se no mundo dos partidos para dizer que estaria sempre fora dele. Uma confusão que nem toda a gente percebeu, como o mundo dos blogues demonstra. Começo por ler José Medeiros Ferreira: “Não saberia situar politicamente os objectivos pretendidos pelo PR com o seu discurso «interpretativo» desta noite, disse ele. Pareceu-me débil o dossiê apresentado, pareceu-me fatal a falta de confiança no sistema informático da presidência (...).Mas mesmo que as «vulnerabilidades» informáticas detectadas na presidência da República se venham a revelar passíveis de correcção, o mesmo não parece vir a acontecer com as de Cavaco Silva”. No 31 da Armada. Paulo Pinto Mascarenhas é mais objectivo: “Cavaco Silva sente claustrofobia democrática. Os seus emails "podem" estar vulneráveis. Mas sobretudo desconfia de José Sócrates. Esta é uma história que vai da cooperação à total desconfiança institucional”.
Mais à esquerda, Daniel Oliveira: “Na realidade, o Presidente está a comportar-se como um destabilizador institucional permanete. Das duas uma: ou Cavaco Silva está a ser sincero em toda esta novela e então o seu grau de paranóia é bem superior do que se julgava; ou está a fazer manipulação política num assunto de uma enorme gravidade e teremos de concluir que o país colocou em Belém um homem perigoso”. Sérgio de Almeida Correia, no delito de Opinião, afina pela mesma note da incompreensão da mensagem: “As palavras do Presidente da República (...) mantêm a nebulosidade”. Nuno Castelo-Branco no “Estado Sentido” vai mais longe: “Cavaco Silva dará posse a um governo no qual não confia e contra o qual decerto (...) erguerá defesas. Tendo querido ter a absoluta certeza da consumação eleitoral do fim da maioria absoluta, sente-se mais seguro para rapidamente passar a um ensaio geral para uma não muito longínqua tentativa de mudança do regime: a 4ª república, ou seja, ele”.
JCG, no blog Pedra do Homem é taxativo: “Cavaco Silva entra a matar na próxima legislatura. Em primeiro lugar liquida, com esta declaração, qualquer ideia de cooperação estratégica daqui em diante. Não me recordo de uma declaração desta, digamos assim, violência, por parte de um Presidente da República visando o partido do Governo.
A reacção do PS, por parte de Pedro Silva Pereira, explicativa, muito explicativa, mostra que o partido e o Governo não alimentam qualquer expectativa em relação aos tempos que se aproximam e ao comportamento a assumir por parte da Presidência da República.
A próxima legislatura vai ser muito animada”. No mesmo sentido escreve Miguel, no Insurgente, que tira deste episódio duas conclusões: “a primeira conclusão é que Manuela Ferreira Leite foi vitimada por uma guerra a que era alheia. A segunda é que essa guerra vai continuar. E agora é a doer”.
Tomás Vasques tenta ver a coisa pelo lado positivo: “Esta «história das escutas» é má (...), mas tem uma vantagem: um certo tipo de jornalismo ficou moribundo (e furibundo, também)”.
Talvez possa então fechar a Janela com Afonso Azevedo Neves que diz ter recebido por sms a seguinte ideia: “O sistema perdeu o regulador. Não sei o que vai acontecer”.