Estamos no tempo de todos os balanços, de olhar o ano e ver o que foi, como foi. Olhar 2008 pelos olhos da blogoesfera é como olhar um espelho côncavo ou convexo – isto é, um espelho deformado. No mundo dos blogues, a relevância de um tema não é proporcional à relevância nacional, e quase diria que há uma agenda própria, paralela, que domina o debate. Generalizar é sempre perigoso num universo onde a variedade e a individualidade são as mais-valias dominantes, ainda assim é possível fazer algumas considerações.
Por exemplo, dizer que a crise económica internacional foi debatida pelos mais interessantes autores dos nossos blogues não tanto pelas perspectiva imediata, género “o que é que vai acontecer?”, mas antes pelo que a crise nos trouxe de novo ao debate ideológico: o capitalismo acabou? Marx pode voltar, está perdoado? O liberalismo é compatível com um estado forte e interventivo?
Perguntas destas, e teorias que lhes dão respostas, dominaram a blogoesfera num ano obviamente marcado pelas eleições americanas. No terreno puramente nacional - e além dos óbvios picos desportivos, seja na liga ou nos Jogos Olímpicos -, o tema do ano terá sido mesmo o da educação.
Se se fizesse um levantamento do universo de blogues portugueses face à profissão dos seus autores, estou convencido que os professores e os jornalistas disputavam o primeiro lugar – não espanta, portanto, que a politica do Governo PS e a guerra travada pelos professores domine o debate. Do mesmo modo, tudo o que envolve comunicação social ganha foros de primeira análise – seja a concessão do 5º canal ou os debates de segunda-feira na RTP-1, seja o projecto de um novo jornal ou os modelos de financiamento do serviço público.
Aliás, a televisão mantém ainda o primeiro posto como plataforma inspiradora de posts – basta que haja uma entrevista a um político, um debate, uma gaffe, qualquer coisa que a televisão passe, e logo se sente o impacto no mundo dos blogues. De alguma maneira, há aqui um lado complementar entre meios e plataformas de comunicação que marca este tempo de passa. Por isso, na primeira de 3 crónicas de balanço do ano, não posso deixar de sugerir uma visita ao blog do escritor José Luís Peixoto, para ler o texto Televisão a preto e branco. De que deixo este bocadinho delicioso:
“Hoje, o meu filho e as minhas sobrinhas têm televisão por cabo. Têm canais que só passam desenhos animados. Há muitas telenovelas diferentes. Às vezes, no Natal, conto-lhes a história de como, quando eu era da idade deles, tinha uma televisão a preto e branco com uma tela azul de plástico. Nem o meu filho, nem as minhas sobrinhas sabem a minha idade ao certo. Um dia, os meus filhos saberão que, hoje, ainda sou novo. Nesse dia, o meu filho e as minhas sobrinhas contarão as histórias de hoje a crianças que não conhecerei. Talvez nesse dia eu esteja, na cozinha, com as minhas irmãs, os meus pais e a minha avó a ver a nossa televisão a preto e branco”.
A cores ou a preto e branco, a caixinha inspira. Os blogues não lhe escapam.