Fim-de-semana prolongado com um feriado especial – o 25 de Abril. A data acaba por ter reflexo na blogoesfera e no que se escreve, mas este ano o discurso de Cavaco Silva monopolizou as ideias. Vamos aos exemplos, Daniel Oliveira no blog Arrastão: “Como pode esperar que os jovens entendam a dignidade da democracia quem, sendo Chefe de Estado, se rebaixa perante um cacique local e se cala diante tantos atropelos às regras democráticas? Os jovens esqueceram-se do 25 de Abril? Não o esqueceu Cavaco Silva durante toda a semana que esteve na ilha da Madeira?” José Teófilo Duarte, no Blog operatório recupera a memória: “Cavaco Silva queixa-se da falta de informação dos jovens portugueses. Isto dito por quem se gabava de não ler jornais...”. Manuel Jorge Marmelo, no Teatro Anatómico, leva a memória mais longe: “Cavaco Silva (...) é a mesma pessoa que, enquanto foi primeiro-ministro, (...) afirmou que o seu programa de televisão favorito era o McGiver. A ignorância dos jovens de hoje tem, bem vistas as coisas, pelo menos um aspecto positivo. Eles não sabem o que aconteceu no 25 de Abril, mas também não sabem quem é o McGiver. Alguns nem devem saber que é o Cavaco Silva”. No blog Puxa Palavra, Joao Abel de Freitas vai pelos jovens: “A juventude quer ser livre e vê nas jotas dos partidos o que elas realmente são: uma agência de emprego e não quer alinhar nisso. Para quê então interessar-se pela política? Que interessa saber quantos deputados tem a AR e quem tem maioria absoluta. Provavelmente 50% dos jovens ente os 15 e os 17 anos nem sabe quem Cavaco Silva é? Será que em França ou em Itália sabem quem é Sarkozy ou Berlusconni?”. Também Sofia Loureiro dos Santos, no Defender o Quadrado, se põe do lado dos mais novos: “A juventude é ignorante em história, em política, em Matemática, em Português, mas sabe muito mais que nós algum dia saberemos de coisas que nem imaginamos que existem. A actuação política dos nossos representantes políticos, as suas mentiras, o seu alheamento da realidade, a nossa falta de interesse na leitura, na conversa, no pensar por nós próprios, no esforço de participar são algumas das explicações para o desinteresse dos nossos filhos pela causa pública. (...) A cidadania constrói-se todos os dias e dentro das nossas casas, para fazer parte da nossa vida, não em liturgias e avaliações cíclicas e anuais do estado a que isto chegou”.
Aqui chegado, decido alargar o debate com um bocadinho do post lúcido de Mouro na Linha do blog Womenage a Trois, e deixar assim fluir essa ideia de cidadania diária:
“Portugal vive melhor hoje porque o mundo (pelo menos a parte do mundo em que Portugal se insere) vive melhor hoje do que há 34 anos. Se o mundo tivesse “piorado” entretanto, Portugal teria piorado com ele. E nenhum 25 de Abril nos salvaria. Dito isto, lembremo-lo (ao 25 de Abril). Não pelo que fez de nós, mas pelo que mostrou de nós. Pelo que representou de coragem de uns e cobardia de outros, pelo que ensina da política, da guerra, da história, da condição humana. Quanto mais não seja (...) os que o fizeram merecem-no”.