Segunda-feira, 30 de Novembro de 2009

O futebol está esquisito

Quando se fala de futebol, como este fim-de-semana se falou, e se juntam blogues, eu começo sempre por ler Maradona, pseudónimo que assina o blog A causa Foi modificada. Escreveu ontem que o “futebol está esquisito” e remete para outro blog, Shakira Kurosawa, onde PM Ramires fala de Di Maria:

“Ao Di Maria alguns meus amigos chamam Di Magia. Durante meses discordei deles, mas com o acumular de situações em que consecutivamente decide mal, ou é magia ou bruxaria, burrice só não chega.
Observem bem o seu modo de actuação: quando embalado e com tudo para cruzar, saca uma mudança de direcção à Roberto Carlos; quando é isso que deve fazer, corre para a linha de fundo e fica rodeado por seis pernas; quando duas delas são do Pedro Silva, consegue entrar na área e, deslumbrado com a concretização de um objectivo que nunca tinha sido definido, absorve-o uma angústia que não consegue suportar e que o faz, imediatamente, libertar-se da bola — significando este libertar o simples chuto na bola em direcção aleatória, como uma menina quando joga com os rapazes. Di Maria não tem uma ideia, nem nunca teve, do que seja um jogo de equipa, quanto mais de um jogo de futebol. Sabe vagamente brincar com uma bola (...) e sabe correr. É o único jogador de futebol do mundo que quando erra não se pode comentar que um pequeno grão de areia estragou toda a engrenagem do seu pensamento; ele não tem uma filosofia de jogo, mas um tubo de escape para fugir dos problemas”.

Rio-me com a graça do blogger, e volto a Maradona para continuar a rir, quando diz que as jogadas “que exaltam dos pés do Di Maria mais não são que uma patetice foleira de sprintes metafisicamente furibundos mascarados de clausula de rescisão”.

E perguntam os meus ouvintes: por que raio o Di Maria toma conta da Janela hoje?

Por uma razão simples: porque é nestes blogues de cidadãos anónimos, que escrevem com talento sobre futebol, que se encontram as melhores ideias e textos sobre este mundo de bola e palavrão – e pelos vistos, o Di Maria foi o bombo da festa do Sporting-Benfica.

E trago outro exemplo que vem também do derby do fim de semana. Vasco lobo Xavier, blog Mar Salgado, sob o titulo “TREMEM VERMELHOS COMO VARAS VERDES”:

“Nos últimos anos, a escaramuça é sempre do mesmo tipo: nós vamos invariavelmente à frente desde o início e o único gozo é estar a verificar quantos pontos levamos de avanço e quanto cresce a vantagem ao longo das semanas até ao fim do campeonato. Depois, dissecar animadamente as desculpas dos derrotados no final (ou em Abril) e apreciar os seus sonhos para o ano seguinte.
No último quinquénio, esta coisa de andarmos a perseguir a cenoura é nova mas dá luta e também tem a sua piada. Até porque o inimigo se convence muito vaidosa e facilmente da sua imaginária invencibilidade e, quando equipas que julga menores o fazem tropeçar, voltam a angústia, o medo, a ansiedade e o desassossego, enfim: o cagaço habitual”.

Deixei o jogo de lado, preferi o talento e o humor de quem comenta. Estamos na ponte de um feriado e convém não fazer demasiado barulho...

publicado por PRD às 01:18
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Sexta-feira, 27 de Novembro de 2009

Blog da Semana: 31 da Armada

O meu blog desta semana é seguramente um dos mais citados nas edições da Janela Indiscreta. A tal facto não é alheia a circunstância de ter perto de 40 colaboradores, ou seja, um universo de opiniões e uma cobertura de actualidade incomuns. Liderado claramente por um divertido e inteligente pensador, Rodrigo Moita de Deus, o 31 da Armada tornou-se uma espécie de instituição da blogoesfera. E esta semana fez 3 anos de vida, nem por acaso a 25 de Novembro, data escolhido a rigor para servir as intenções do blog.

No entanto, e esse é o valor acrescentado do 31 da Armada, sendo um blog de quase 40 pessoas, tendo 3 anos de vida, e sendo uma instituição que até vai cobrindo in loco os congressos partidários e os grandes momentos da vida politica portuguesa, nem por isso perdeu a criatividade, a inovação e a imaginação dos primeiros tempos. O 31 da Armada andou a colar cartazes a perguntar onde estava você no 25 de Novembro, incluindo no lote as paredes da sede nacional do PS, o 31 da Armada fez entrevistas, reportagens, promoveu debates e encontros, o 31 da Armada recuperou o debate sobre a monarquia levando, há poucos meses, a bandeira azul e branca aos paços do conselho.

E esta semana, comemorando 3 anos com festa e tudo, o 31 da Armada voltou a surpreender. Entendendo o blog que o 25 de Novembro de 1975 é a data em que democracia ganha contornos consistentes em Portugal, e considerando que essa data é simbolizada pela figura de Jaime Neves, os homens do 31 não foram de modas: fizeram em esferovite, com qualquer coisa como 1,80 metros, uma estátua de Jaime Neves, arranjaram-lhe um pedestal em pedra, e à meia-noite de dia 25 inauguraram a estátua em plano Campo Pequeno. Tudo gravado em vídeo e emitido no blog.

Só na tarde do dia seguinte a Câmara Municipal removeu a improvisada homenagem. Mas entretanto houve noticias nas rádios, televisões, jornais, e o 31 da Armada comemorou em grande o seu terceiro aniversário, que inclui um comunicado de aviso, simbolicamente assim:

“Daqui posto de comando do Movimento do 31 da Armada:

 Durante a noite de hoje elementos do 31 da Armada (Darth Vaders) descerraram uma estátua do Major-General “Comando” Jaime Neves junto à Praça de Touros do Campo Pequeno. Há 34 anos, no dia 25 de Novembro, Jaime Neves e os homens sob a sua liderança contribuíram decisivamente para a defesa e consolidação do regime democrático em Portugal derrotando as forças totalitárias que procuraram desvirtuar o espírito do 25 de Abril. O país e, em particular, a sua capital ainda lhes devem uma homenagem à altura do seu desempenho”.

E assim, em mais um aniversário, o blog continuou a cumprir o que está no seu editorial: “No 31 da Armada prometemos ser, e seremos, comprometidos. Assumidamente comprometidos. (...) Nao vamos mudar o mundo, nem a blogosfera, vamos fazer uma coisa diferente do que se faz, se houver quem goste, óptimo”.

Há quem goste. Passaram 3 anos e o 31 volta a ser o meu destaque da semana. Com os Parabéns aqui da gerência.

 

publicado por PRD às 01:13
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Quinta-feira, 26 de Novembro de 2009

Montanha Russa

A justiça em Portugal parece uma montanha russa, anda para cima e para baixo a uma velocidade apreciável, quem hoje parece inocente amanhã é arguido, quem hoje é culpado amanhã adormece na espera por uma decisão judicial. Estamos a entrar no mais perigoso caminho – o da falência do sistema, o do fim de qualquer espécie de crédito.

É no meio deste lamaçal que se pode entender a importância que teve a suspensão, por ordem do tribunal, de José Penedos da Presidência da Rede Eléctrica Nacional. Como escreveu e bem Daniel Oliveira, “Depois não se Queixem”: “Não foi o próprio (Penedos) que saiu pelo seu pé, como exigia a decência. Não foi o governo que o mandou sair, como exigia o rigor. Foi o tribunal. Depois não se queixem da preocupante justicialização da política. Se a política não trata do mínimo dos mínimos…”. No mesmo sentido escreve No Portugal Profundo António Balbino Caldeira: “Quando um Governo não tem força, por receio, para demitir um presidente, Eng. José Penedos, constituído arguido por aquilo que um seu advogado, o Dr. Rui Patrício, descreve como «exercício de influência» (...) sujeita-se a acabar envergonhado por um juiz de instrução que o suspende de funções, o proíbe de contactar com funcionários da REN e demais arguidos (...) e lhe aplica uma caução de 40 mil euros para se manter em liberdade...“

No Aventar, Luís Moreira admite, com ironia, que José Penedos seja “outra vitima de campanhas negras”, como aliás o seu advogado chegou a insinuar, e no Blog Oval sublinha-se que estas medidas de coacção confirmam “quão grave e complexo é este processo”, ainda que, lá está, seja apenas um processo e não ainda um julgamento.

No rol das opiniões que fui lendo não faltou o trocadilho: “Água mole em penedos duros tanto dá que até que fura”, li no blog Da Tailândia com Amor e humor. Quem também não faltou à chamada foi João Gonçalves, que distingue inocências e responsabilidades: “Até trânsito em julgado - e, na justiça portuguesa, o trânsito em julgado é parecido com o trânsito automóvel - o senhor Penedos é inocente. Sucede que o senhor Penedos não é politicamente inocente”. Porquê? Porque foi politicamente nomeado.

Na verdade, até ontem José Penedos parecia acima desta história, desde ontem está todo dentro dela. Jorge Assunção, do blog Despertar da Mente, pode agora estar mais tranquilo: “o sorriso que o homem ostentava no dia em que era ouvido no âmbito de um processo onde é suspeito de um crime grave”, deve ontem ter desaparecido. O blogger estava incomodado com a manutenção do engenheiro na Presidência da REN e com o sorriso que fazia para as câmaras: “Penedos ri não sei bem do quê, eu rio para não chorar”. Agora já ninguém ri nesta história.

publicado por PRD às 01:11
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Quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

Impostos

Ontem falou-se muito de impostos, de aumento de impostos, de mais impostos. Declarações de Vítor Constâncio, mais tarde contrariadas pelo primeiro-ministro, deram origem a diversas teorias da conspiração.

Teoria número um, de Tiago Moreira Ramalho no Corta-Fitas: “O que Vítor Constâncio fez foi, na realidade, duas coisas: em primeiro lugar, apalpou terreno a fim de se perceber como reagiria a população a uma subida de impostos; em segundo lugar, fez um enorme préstimo ao governo, tornando-se vilão num romance que já estava morto (o dos impostos) e tornando Teixeira dos Santos e José Sócrates os cavaleiros que salvam tudo no fim”.

Teoria número dois, a de João Miranda: “È oficial; impostos vão aumentar. Teixeira dos Santos rejeita subida de impostos sugerida por Constâncio, acha João Miranda que “O ministro das finanças acaba de iniciar o ritual que precede os aumentos de impostos em Portugal. Começam sempre pelo desmentido … O desmentido deve ser “categórico” e deve conter alusões aos compromissos eleitorais e ao programa de governo

Noutro post, Miranda recorda o slogan de uma campanha contra a fuga ao fisco: “Se todos pagarem, você paga menos”. “Em teoria, os ganhos para o Estado do combate à evasão fiscal serviriam para baixar os impostos. Portanto, a pergunta aos crentes que foram na conversa do governo é: quando é que baixam os impostos?”

Já que falamos de impostos, registemos a surpresa de ver um socialista ao lado do CDS. Tomás Vasques escreve no seu blog: “Paulo Portas insiste, com razão, que o Estado devia pagar juros na devolução dos impostos cobrados a mais. Este é um exemplo, entre muitos outros, da prepotência do Estado contra os cidadãos. Temos assistido, nos últimos anos, na legislação fiscal, a uma desenfreada escalada contra os mais elementares direitos dos cidadãos. Tudo foi aceite em nome da luta contra a evasão fiscal. A cultura dominante insiste na ideia de que os cidadãos estão «ao serviço» do Estado; mas, em democracia, é bom não esquecer, o Estado deve estar ao serviço dos cidadãos”.

E tem com certeza razão. Na verdade, quando se fala de impostos e de cumprimento de promessas eleitorais, os blogues transformam-se numa espécie de bancada de estádio de futebol a pedir a cabeça do treinador. Num momento desses, lembro um post recente de André Abrantes Amaral no blog Observador. André ouve Mário Crespo na SIC Notícias perguntar “Do que é que os portugueses precisam?”. E decide responder: “Precisam de mudar a sua mentalidade. Encarar a vida em sociedade de forma diferente. Serem mais exigentes e, em virtude disso mesmo, oferecerem mais. Entregarem-se mais. Deixarem de ser colectivamente egoistas. Passarem a ser individualmente generosos. A saída da crise está no íntimo de cada um de nós. A resposta é muito simples e, naturalmente, bastante complicada”. Belas palavras. Aqui ficam.

 

publicado por PRD às 01:10
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Terça-feira, 24 de Novembro de 2009

A novela Marcelo

A semana das pessoas normais começa à segunda-feira – já a semana politica começa ao domingo à noite. Na RTP, com Marcelo Rebelo de Sousa, lançam-se os dados para o debate sod dias seguintes.

Ora, no fim de semana, como bem conta Pedro Marques Lopes no blog União de Facto, o jornal i “garantia que Marcelo Rebelo de Sousa seria candidato à liderança do PSD. Mais, o seu director até fez um editorial aconselhando o professor nas suas futuras tarefas. Era assim certa a candidatura e, claro está, a vitória nas eleições internas”.

No dia seguinte, Marcelo Rebelo de Sousa negou na RTP essa candidatura: “não há nem candidatura minha, nem participação num projecto de unidade que já se viu que não existe”. Pedro Marques Lopes fica na duvida: “isto levanta uma série de questões que dizem respeito à actividade jornalística e para as quais não tenho resposta. Por exemplo: se um cidadão diz claramente que vai fazer uma coisa, o que leva um jornalista a dizer que irá fazer outra?”

Com Marcelo e as suas noites de domingo, é realmente verdadeira a frase “nem tudo o que parece, é”. Vasco Campilho, por exemplo, adianta uma explicação: “Se a vaga não chega a Marcelo, atira-se Marcelo ao mar. Mas como em Janeiro a água está gelada, faz-se já um pré-anúncio, anónimo comme il faut. Para que o banhista vá ganhando balanço. E talvez coragem”.

Francisco José Viegas, no seu Origem das Espécies, antecipa esse eventual futuro: “Com a candidatura de Marcelo, o país PSD cairá de bruços, (...) disposto a rasgar as vestes como nos melhores episódios do Pentateuco – e converter-se-á à Boa Nova que há uns anos tratou de assassinar com a melhor cutelaria disponível. Estarão, nessa altura, disponíveis para genuflexões discretas na sala-de-espera onde se encontram (...) a aguardar um lugar nas administrações, no governo ou na frota automóvel do Estado. Eu, se fosse Marcelo, fazia-lhes um manguito, aos antipassoscoelhistas do PSD”.

Paulo Pinto de Mascarenhas pergunta se Jesus não desce à Terra e deixa um desabafo simples: “A novela Marcelo vai-não-vem já se está a tornar enfadonha”.

No meio deste vai-não-vem, tão alimentado por Marcelo como pelos jornais, pelos comentadores, pelo próprio PSD, o que continua em causa é o estado desesperado e perdido do maior partido da oposição. Razão tem, por isso, Eduardo Pitta, no blog da Literatura, quando recupera uma crónica de Vasco Pulido Valente numa edição de fim de semana do Publico: «[...] A República, como incessantemente se repete, depende dos partidos. Com o PSD, já não pode contar.». E sendo isto verdade, pelo menos de momento, é certo o titulo dessa crónica, “A agonia de um partido”. O que a democracia pede é que o doente deixe de agonizar a recupere. A ver vamos se na semana politica que começa no próximo no domingo, ou no seguinte, ou no seguinte, se algum dia a semana começa com Marcelo candidato a líder e o PSD de volta ao activo, entre ele e Passos Coelho. Portugal não pode viver só com um lado da barreira, sob pena de deixar de viver em paz.

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Segunda-feira, 23 de Novembro de 2009

Jorge Ferreira

Quem ouve regularmente a Janela Indiscreta sabe que há blogues mais citados do que outros – e na maioria dos casos, isso sucede pela mistura oportuna de qualidade na opinião com actualidade. Ou seja: os blogues que estão sempre em cima dos temas de actualidade, e que a isso juntam bem escrever e bem pensar, ganham vantagem na hora de escolher os bocados de cada dia. Um dos blogues que cumpria os dois preceitos, e com mais valor por ser de um homem só, era o Tomar Partido, do ex-dirigente do CDS Jorge Ferreira, agora ligado á Nova Democracia de Manuel Monteiro.

Não imaginava que Jorge Ferreira estivesse doente, porque a produção de posts continuava regular e atenta. O ultimo post foi publicado na quinta-feira e ironizava a respeito do défice de 8% do produto interno bruto (PIB) do mesmo Governo que passou a campanha eleitoral a dizer que tinha posto em ordem as contas publicas.

Pelos vistos, o computador acompanhou-o até ao Hospital - Jorge Ferreira morreu no sábado, com apenas 48 anos, e deixa assim, em suspenso, o seu Tomar Partido tantas vezes aqui citado. É um sensação estranha, esta, a de entrar num blog que está activo, em silêncio, é certo, mas activo, sabendo que o seu autor já não está entre nós.
O jornalista Pedro Correia, no Corta-fitas, cita Jorge de Sena: “nenhuma morte é natural. Fomos feitos para a vida, não para a morte. E se há pessoa que conheci sempre com imenso amor à vida foi o Jorge Ferreira.(...) O Jorge estava doente há dois anos, mas sempre enfrentou a doença como travou tantos debates políticos ao longo da sua vida parlamentar, como presidente da bancada do CDS: de frente, com coragem e tenacidade. Com o mesmo desassombro que revelou quando rompeu com o partido em que militava desde a adolescência, em desacordo profundo com Paulo Portas. Com a mesma franqueza e a mesma determinação que utilizava para escrever no seu blogue, Tomar Partido”.

António Balbino Caldeira no blog Do Portugal profundo, recorda-o como um “dos políticos percursores nos blogues (e mais tarde também para o Facebook), sem a poeira da vaidade, dos primeiros a fazer radar de notícias, lincando os novos sem notoriedade precedente”. No Câmara de Comuns. Paulo Ferreira sublinha o carácter do politico: “Mesmo que não concordássemos com tudo aquilo que o Jorge nos ia escrevendo, sabíamos que sempre que o fazia erguia mais alto a sua sinceridade e frontalidade – ler o Jorge era e sempre será um hino à Liberdade. Aos lermos o Jorge aprendemos que a liberdade não é património da esquerda, nem da direita, simplesmente da democracia”.

No mesmo blog se recorda um post de Jorge Ferreira, em Março, citando Jorge de Sena: “Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de té-la”. 
“Nunca teve medo de tomar partido”, escreve Diogo Belford Henriques: “Contra ele debati e discuti, no CDS há anos atrás e nos blogues mais recentemente. Sempre soube que viria resposta forte, de um adversário que não desistia de defender o que acreditava. Sempre a recebi, que Jorge Ferreira não era homem de ficar sem dar resposta: assertiva, irónica por vezes, mas sempre de forma correcta”.

É essa voz que desaparece – e é esse blog que fica em suspenso, num vazio difícil de explicar, impossível de aceitar.

publicado por PRD às 01:07
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Sexta-feira, 20 de Novembro de 2009

Blog da Semana: Lisboa na Ponta dos Dedos

Regresso a Lisboa nesta sexta-feira, certo de que o mês de Dezembro, o Inverno, o Natal, vão tornar insuportável esta cidade, caótico o trânsito e o comércio, e com isso tendemos a esquecer a cidade boa que há dentro da cidade má.

Há muito tempo que sigo regularmente o blog “Lisboa na ponta dos dedos”, cujo subtítulo foi muito bem roubado ao poeta Al berto: “em que cidade fechámos as pálpebras para nos amarmos?”.

A essa pergunta, a autora, Sancha Trindade, respondeu em Março de 2006, quando abriu o blog escrevendo: “hoje toquei em Lisboa com a ponta dos dedos”.

Sancha Trindade é formada em Peritagem em Arte e o curso que tirou destinou-se a continuar o negócio de alfarrabistas e antiguidades de família. Passou pelo Centro Cultural de Belém, apaixonou-se pelo jornalismo e o mundo da publicidade, tirou um curso de fotografia no ARCO e lançou a criarte, um projecto de design que divulgava a língua portuguesa a partir de Amesterdão e Atenas, por onde andou. Acabou por voltar a Lisboa, acreditou que havia aqui mundo a descobrir e criou os Guias ConVida. Actualmente tem várias colunas sobre a cidade na Revista Única do Expresso, na GQ, no jornal Meia Hora. Mas confesso, o melhor mesmo está à distancia de um click no blog cuja morada é lisboanapontadosdedos.blogspot.com.

Lá, podem ler-se pérolas como esta: “Apaixonada pelas mais-valias de viver sobre o Atlântico, coloco a luz em primeiro lugar, a vista em segundo (...), o terraço ou o jardim e os acabamentos. E mesmo no ecletismo da cidade, morada que para ser inteira deve existir sem guetos, ou condomínios fechados, aceito no pacote delicioso todos os defeitos: os vizinhos transversais e a variedade da fauna, que tantas vezes nos trabalha a tolerância”.

A mesma mulher que sugere percursos, ideias, cobre iniciativas, descobre e redescobre Lisboa.

Quando o Miradouro de São Pedro De Alcântara reabriu escreveu: “não tenho palavras para expressar a emoção de ver Lisboa a acontecer assim. Não sei quantas colunas escrevi a pedir o Miradouro de volta à minha cidade, mas seria injusto se não partilhasse por estas linhas, que a espera compensou o roubo de uma das mais fascinantes praças lisboetas. Quem tem ido ao Miradouro à quinta-feira à noite, sabe bem do que estou a falar e quando partilho as preciosas noites dançantes da Roda de Choro, mais convicta fico de que as cidades serão sempre as pessoas”.

Sancha Trindade gosta de ver Lisboa a brilhar e no seu blog Lisboa brilha mesmo, não apenas nos textos mas nas imagens, no entusiasmo, na paixão.

Exemplo final de um texto solto no blog: “Lisboa acordou deslumbrante e enquanto me preparo para me perder pelas ruas da cidade, rendo-me às imagens da cidade de pedra, que do outro lado do Atlântico me abraçam às palavras de Cesariny. As mesmas que na cidade habitada, me elevam à suave certeza de que em todas as ruas te encontro, em todas as ruas te perco”

Lisboa na ponta dos dedos é o meu destaque desta semana porque adivinho que daqui até 2010 os lisboetas vão esquecer a beleza da cidade e praguejar nas filas de trânsito sobre os seus defeitos. Este é o meu contributo para a paz urbana. Fica feito.

publicado por PRD às 01:04
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Quinta-feira, 19 de Novembro de 2009

O apuramento

A reza mudou. Desta vez, “Valeu a pena rezar à Nossa Senhora do Karadzic”, como escreve Pedro Vieira. E assim começa a festa do apuramento para o Mundial de Futebol da África do Sul no imenso mundo dos blogues – onde, pasme-se, até aqueles que so falam de politica por momentos olharam os 22 jogadores à volta de uma bola. Mesmo que seja um olhar particular, como o de Daniel Oliveira no Arrastão: “Ao ouvir os comentadores portugueses a falar dos bósnios senti-me um inglês a ouvir comentários sobre os portugueses. “Esta gente”, diziam eles. Às vezes parecemos o primo pobre da aldeia que volta da cidade e julga que é aristocrata”.

Lá está: afinal a politica está em todo o lado. Como aliás nos recorda João Carvalho no Delito de Opinião: “Ao contrário de um impensável punhado de portugueses, capazes de se empenhar para assistir ao vivo ao Mundial de Futebol na África do Sul, há um bom número de políticos que não está em condições de lá ir. A menos que desçam à Terra a tempo, o que também dava um certo jeito cá dentro”.

No seu blog, a Blonde with a PHD exclama: “Ó sofrimento! Ó amargura! Muito eu curto estes apuramentos in extremis e à justinha! Agora vejam lá o que é que me arranjam na África do Sul. Continuem assim que nem com a Nova Zelândia se safam. Mas, enfim, parabéns, força, joguem para vencer, animem o povo que se não for pelo futebol, só nos resta a política para nos divertirmos um pouco”.

Politica outra vez. E agora António Boronha no blog com o seu nome: “O principal e único objectivo desde o início da campanha acaba de ser cumprido. A campanha foi percorrida jogando bem e perdendo, como anteriormente contra a 'Dinamarca' cá e lá, outras vezes não estando bem e ganhando, frente à 'Albânia' e 'Hungria' fora, hoje vencendo com muito pulmão, coração e cabeça. Tudo está bem quando acaba bem! Confiemos que o maniqueísmo acéfalo que tem rodeado a nossa 'selecção', nos últimos anos, se atenue até ao verão do próximo ano para que possamos ter a grande maioria dos portugueses a apoiá-la. Para isso é absolutamente necessário que continue a imperar a crítica! objectiva, serena e construtiva. sem 'vacas sagradas'! Respondam elas pelo nome de Queiroz ou Scolari”.

No blog 4 Linhas, Hermínio Loureiro mostra o seu optimismo: “Portugal vai certamente mostrar a qualidade do seu Futebol ao Mundo. Precisamos de tranquilidade na preparação para o Mundial 2010. Precisamos de ambição, mas de uma ambição com responsabilidade”. Nuno Dias da Silva sublinha “a guerra psicológica contra os bárbaros bósnios”, reconhece que “não há razão para euforias, mas importa sublinhar que desde 2000 não falhamos a presença numa fase final de um mundial ou um europeu. Já temos reservado o nosso comprimido para arrebitar a auto-estima no próximo Verão, entre 11 de Junho e 11 de Julho. Depois entra logo Agosto. O Governo que prepare três meses de país em piloto automático. Já não se garante que a pior selecção portuguesa da última década, mesmo com Cristiano Ronaldo, permaneça muito tempo por terras sul-africanas”.

Esperemos então por esse Verão, porque uma coisa é certa: o Inverno vai ser duro e comprido...

publicado por PRD às 01:03
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Quarta-feira, 18 de Novembro de 2009

Momento Chavez

Quando há falta de assunto, há sempre um assunto que sobra: Hugo Chavez, o Alberto João Jardim da Venezuela. Não há dia em que o homem não acrescenta um sorriso – ou um grito de raiva – à nossa existência. A ultima vez tinha sido há 3 ou 4 dias, num discurso em que o presidente anunciou, no âmbito de medidas sobre energia, que “Quem diminuir a média de consumo (de electricidade) não pagará o recibo, mas quem aumentar pagará o dobro e se repetir o comportamento no mês seguinte, ficará sem luz”. Recomendou mesmo que os venezuelanos evitassem acender a luz quando acordam de noite para ir à casa de banho. Isso mereceu de LA, no Insurgente, o comentário “se vai à sanita, leve lanterna”: “Na verdade, escrevia LA; nada disto é cómico; é mesmo bastante trágico. Infelizmente, é previsível que o futuro traga males maiores aos venezuelanos. Gostava era que todos os toinos que em Portugal e mundo fora andam há anos a louvar a revolução socialista de Hugo Chavez experimentassem limpar... bom, limpar aquilo que todos sabemos, enquanto seguram uma lanterna”...

Porém, ontem Hugo Chavez voltou a inovar – há uma nova ameaça à revolução socialista da Venezuela e ela chama-se obesidade. «Há muitas pessoas gordas», disse o presidente venezuelano num discurso televisivo citado pelo jornal britânico «The Guardian». Chávez convocou os venezuelanos para uma batalha contra a gordura, dizendo que a revolução precisa deles fortes e em forma. E deu a receita: «Fazer exercícios abdominais e comer bem. É preciso aprender a comer». Nuno Gouveia, no 31 da Armada, lembra que Hugo Chavez “não será propriamente um exemplo de elegância” e acrescenta: “O presidente da Venezuela, herói de alguma esquerda, já nos habituou às suas patetices, e por isso já ninguém estranha este tipo de declarações. Mas causa-me admiração o silêncio de alguns dos seus amigos portugueses. O que será que Mário Soares pensa disto? Será que ainda considera Chavez um exemplo para a esquerda?”.

Na noticia sobre este discurso, nota-se no final uma referência especial às mulheres: Chávez teve o cuidado de não enfrentar as mulheres e referiu-se mais aos «gordos» que às «gordas». «Não estou a falar das mulheres, porque elas nunca ficam gordas... às vezes encorpam», disse ele. No seu blog na revista Veja online, Augusto Nunes chama-lhe, por via das duvidas, “maridão cauteloso”.

De passagem, recordo que Hugo Chavez está na posição 67 na lista dos mais poderosos do mundo da revista Forbes. Tem um português à sua frente, António Guterres, alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, na posição 64.

Ou seja, patético ou não, ele existe, manda num país, ameaça jornalistas, e é elogiado por certa esquerda que alimenta o folclore da revolução. Um espectáculo, sem dúvida.

publicado por PRD às 01:02
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Terça-feira, 17 de Novembro de 2009

Outra vez as escutas

São ainda as escutas, legais ou ilegais, certas ou erradas, a dominar o debate no mundo dos blogues. Com humor, como sempre o Arcebispo de Cantuária responde à pergunta: “Como proceder? A partir de agora sempre que atender o telefone atiro logo um "se for José Sócrates não estou a ouvir".

Mais a sério, António Amaral na Arte da Fuga fala de “bandalheira e corporativismo” para dizer: “Não há tal coisa como "provas ilegalmente obtidas e portanto inválidas". Há factos que podem provar acções criminosas, ou não. O bom senso dita que se puna qualquer irregularidade administrativa, sem contemplações; e que se investigue qualquer facto que tenha sido descoberto, sem contemplações. (…) O hiperlegalismo (…) serve antes de tudo para proteger o status-quo judicial -- que tão mal serve o interesse público”. No Insurgente, Bruno Alves conta uma história que vale a pena conhecer: “Há uns anos, na Hungria, veio a público uma gravação do então Primeiro-Ministro, em que este admitia ter mentido aos eleitores acerca da verdadeira situação das contas públicas do seu país, provocando um compreensível escândalo público e uma série de manifestações violentas. Obviamente, essa gravação era tudo menos legal. Mas uma vez realizada, e uma vez tornada pública, as pessoas não podiam ignorar aquilo que ela revelava”. Bruno tem razão, claro: “uma discussão acerca da legalidade das ditas escutas (…) é uma discussão importante, mas apenas relevante para saber se Sócrates deverá ou não ser alvo de um processo judicial. O facto de as escutas serem ou não legais é absolutamente irrelevante para o nosso julgamento do que lá é revelado.

Na verdade, o que a blogoesfera debate é basicamente a diferença entre reconhecer e validar o que foi escutado ou limitar os danos à legalidade ou ilegalidade de o ter feito. Isto leva João Miranda a escrever com elevada dose de ironia e algum cinismo: “A ideia de que devemos ter uma lei das escutas que proíba a escuta indirecta do primeiro-ministro faz sentido, sobretudo porque existe um risco real de termos um primeiro-ministro com tanta falta de senso que comunique segredos de estado pelo telefone. Para alem de que existe o risco real de termos um primeiro-ministro com amigos pouco recomendáveis e com grande probabilidade de estarem sob investigação criminal”.

Claro que no meio do debate há opiniões para todos os gostos e palpites de verdadeiros especialistas de ultima hora. Um tema que Bernardo Pires de Lima aborda com graça no blog União de Facto: “cai um avião e um gajo tira logo o brevet pela televisão. Nesta era de processos judiciais a figuras políticas, um gajo forma-se em direito na blogosfera. É todo um mundo por descobrir, de facto”. Um mundo que dá boas discussões mas também muita asneira. Com ou sem escutas…

 
 
 

publicado por PRD às 01:01
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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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