E por fim, Cavaco falou. E ao falar envolveu-se no mundo dos partidos para dizer que estaria sempre fora dele. Uma confusão que nem toda a gente percebeu, como o mundo dos blogues demonstra. Começo por ler José Medeiros Ferreira: “Não saberia situar politicamente os objectivos pretendidos pelo PR com o seu discurso «interpretativo» desta noite, disse ele. Pareceu-me débil o dossiê apresentado, pareceu-me fatal a falta de confiança no sistema informático da presidência (...).Mas mesmo que as «vulnerabilidades» informáticas detectadas na presidência da República se venham a revelar passíveis de correcção, o mesmo não parece vir a acontecer com as de Cavaco Silva”. No 31 da Armada. Paulo Pinto Mascarenhas é mais objectivo: “Cavaco Silva sente claustrofobia democrática. Os seus emails "podem" estar vulneráveis. Mas sobretudo desconfia de José Sócrates. Esta é uma história que vai da cooperação à total desconfiança institucional”.
Mais à esquerda, Daniel Oliveira: “Na realidade, o Presidente está a comportar-se como um destabilizador institucional permanete. Das duas uma: ou Cavaco Silva está a ser sincero em toda esta novela e então o seu grau de paranóia é bem superior do que se julgava; ou está a fazer manipulação política num assunto de uma enorme gravidade e teremos de concluir que o país colocou em Belém um homem perigoso”. Sérgio de Almeida Correia, no delito de Opinião, afina pela mesma note da incompreensão da mensagem: “As palavras do Presidente da República (...) mantêm a nebulosidade”. Nuno Castelo-Branco no “Estado Sentido” vai mais longe: “Cavaco Silva dará posse a um governo no qual não confia e contra o qual decerto (...) erguerá defesas. Tendo querido ter a absoluta certeza da consumação eleitoral do fim da maioria absoluta, sente-se mais seguro para rapidamente passar a um ensaio geral para uma não muito longínqua tentativa de mudança do regime: a 4ª república, ou seja, ele”.
JCG, no blog Pedra do Homem é taxativo: “Cavaco Silva entra a matar na próxima legislatura. Em primeiro lugar liquida, com esta declaração, qualquer ideia de cooperação estratégica daqui em diante. Não me recordo de uma declaração desta, digamos assim, violência, por parte de um Presidente da República visando o partido do Governo.
A reacção do PS, por parte de Pedro Silva Pereira, explicativa, muito explicativa, mostra que o partido e o Governo não alimentam qualquer expectativa em relação aos tempos que se aproximam e ao comportamento a assumir por parte da Presidência da República.
A próxima legislatura vai ser muito animada”. No mesmo sentido escreve Miguel, no Insurgente, que tira deste episódio duas conclusões: “a primeira conclusão é que Manuela Ferreira Leite foi vitimada por uma guerra a que era alheia. A segunda é que essa guerra vai continuar. E agora é a doer”.
Tomás Vasques tenta ver a coisa pelo lado positivo: “Esta «história das escutas» é má (...), mas tem uma vantagem: um certo tipo de jornalismo ficou moribundo (e furibundo, também)”.
Talvez possa então fechar a Janela com Afonso Azevedo Neves que diz ter recebido por sms a seguinte ideia: “O sistema perdeu o regulador. Não sei o que vai acontecer”.
A ver pelo mundo dos blogues, ainda estamos a ressacar dos resultados de domingo, e nem parece que começou a guerra pelas autarquias. A maioria dos blogues que visitei continua a esburacar os números das eleições gerais, e à procura de interpretações, caminhos, ideias.
Mas a verdade é que ontem começou a campanha pelas Câmaras Municipais, Assembleias e Juntas de Freguesia, e em Lisboa Santana Lopes e António Costa apresentaram as suas linhas de força. Dos blogues que lhes deram atenção, registo o Câmara de Comuns, com Carlos Manuel Castro a criticar o candidato do PSD e a elogiar o do PS: “Santana Lopes começa a campanha com argumentos sem sentido, para tentar tapar a fragilidade da sua candidatura e a vergonha que deve sentir pelo resultado eleitoral do seu partido. (...) António Costa, pelo contrário, esteve nas legislativas com empenho e total identificação com o partido, do mesmo modo que agora José Sócrates manifesta total apoio à candidatura socialista a Lisboa”.
Isto é verdade, mas não é menos verdade que Costa vai a julgamento, enquanto Santana pode prometer o que quiser. Nem por acaso, João Gonçalves no Portugal dos Pequeninos chama ao candidato do PS “o péssimo alcaide de Lisboa, o mesmo que esventrou o Terreiro do Paço e tornou o trânsito da cidade num caos”, para depois escrever que ele “é o "novo" Costa que "promete" para a Semana Santa a conclusão da "obra". Ele "quer" (...) a "obra" terminada nessa altura. Dr. Costa: em casa de enforcado não se fala em cordas”.
Fica aqui a pálida imagem do debate que começa um pouco por todo o país, relevante mesmo é dizer que um blog, o Passeio Livre, de que já aqui falei, e que luta com todos os meios para acabar com o estacionamento selvagem nos passeios de Lisboa, decidiu entrar também na campanha: “com o intuito de chamar a atenção dos nossos autarcas para o problema dos carros estacionados em cima do passeio, (...) decidiu organizar um debate com as 4 principais forças políticas concorrentes à Câmara Municipal de Lisboa, cidade onde este problema se faz sentir com toda a evidência”. É já amanhã, 4ª feira, às 18 horas, no Cinema S. Jorge, em Lisboa.
Ainda olhando a campanha na capital, de notar os dois blogues que rodeiam Santana e Costa – ontem, no Lisboa com sentido do PSD, fazem-se extrapolações dos resultados de domingo: “Os votos obtidos pelas forças politicas que integram a Coligação Lisboa Com Sentido somaram mais 20.000 votos do que os resultados obtidos pelo Partido Socialista”.
Logo lhe respondeu o blog Unir Lisboa, que apoia António Costa: “A lógica das autárquicas, como sublinhou Rui Rio, nada tem que ver, com a lógica legislativa; Daí que tentar fazer qualquer comparação é desconhecer completamente o que tem sido a (não) correlação de resultados eleitorais autárquicos e legislativos em Lisboa”.
E vai ser assim nos próximos 15 dias, em Lisboa e por esse país fora. Com um pequeno intervalo hoje mesmo: Cavaco fala ao país para explicar as escutas. Ou talvez o humor de Henrique Raposo no blog Clube das Republicas Mortas faça mais sentido: “Tenham calma. Não se passa nada. (...) Cavaco vai dizer que votou PS, e que está tudo bem”.
A imagem de José Sócrates, ontem à noite, de mão dada com António Costa, disse tudo sobre os dias que vivemos: acabou ontem uma batalha, começou hoje outra. Lá abrirei a Janela às autarquias, hoje é inevitável voltar a olhar os resultados eleitorais.
Tantas opiniões, tantos olhares, optei por uma crónica telegráfica, uma escolha de boas ideias, de palpites originais ou pelo menos inesperados...
Carlos Barbosa de Oliveira: “A vitória (do PS) pode significar a sua derrota a breve prazo. Precisará de gerir com pinças os acordos que vier a estabelecer à direita e à esquerda, até que uma moção de censura determine a sua queda”.
Paulo Gorjão: “Não creio que Manuela Ferreira Leite tenha condições para continuar à frente do PSD por muito mais tempo. Estou seguro que a líder do PSD o sabe melhor do que ninguém”.
Zé Neves, blog Cinco Dias: “Há 19% de pessoas que votaram em partidos que, de acordo com a maioria dos comentadores e especialistas, querem desprivatizar tudo e mais alguma coisa. (...) Enfim, o anticomunismo primário de tantos e tantos comentadores conseguiu criar este monstro que é a esquerda radical. O monstro seguramente agradece e, nos próximos anos, tudo faremos para ajudá-lo a engrandecer-se na sua disformidade”.
Luís Naves, no Corta-Fitas: “Após dois anos de declínio talvez tudo isto resulte numa alteração profunda do sistema político, com menos bloco central, mais BE e mais CDS”.
Paulo Pinto Mascarenhas no ABC do PPM: “Sócrates ganhou, mas perdeu. Perdeu em primeiro lugar a maioria absoluta. Vai ter de negociar à esquerda e à direita, para conseguir governar. Ficou asfixiado democraticamente”.
André Abrantes Amaral no Insurgente: “O PS ganhou ao PSD, mas não venceu as eleições”
Francisco José Viegas, na origem das Espécies: “O BE cresceu mais (duplicou os votos); o PS não pode esquecê-lo. Podem afinar as canetas nas redacções, porque o BE vai deixar de estar acima de qualquer suspeita”
Vasco Lobo Xavier, blog Mar Salgado: “A vitória do PS não deixa de ser a derrota da sua prepotência e autoritarismo. O país pode tê-los aceite, aos socialistas, por deficiência do principal adversário; mas não volta a admitir a arrogância, sobranceria e petulância dos socialistas. Ouvido o discurso de Sócrates, não tenho a certeza de que ele tenha percebido tudo”
José Teófilo Duarte no Blog Operatório: “É engraçado: a perda da maioria absoluta de um partido é a vitória dos outros todos. Pouco para festejar, não?”
Henrique Raposo no Clube das Republicas Mortas: “O CDS é agora o partido charneira no sistema partidário português. O CDS é aquilo que o BE queria ser: a alavanca do parlamento, e a peça que fica a faltar ao puzzle parlamentar de Sócrates. Ainda bem que este poder caiu num partido que até acredita na democracia burguesa”
E para não esquecer os pequenos partidos, José Costa e Silva no blog Lóbi do Chá: “Estiveram mais pessoas no concerto dos Xutos do que a votar em onze dos dezasseis partidos”
E para fechar com graça, Francisco Proença de Carvalho no 31 da Armada: “Qualquer que seja o governo, o país só é feliz com o Benfica campeão...”
Futebol à parte, a festa da política continua para bingo. Neste caso, bingo nas autarquias.
Faltam então dois dias para as eleições. Hoje não falo do que eles andam para aí a falar, nem destaco um blog sobre culinária ou jardinagem, armado em independente.
Nada disso: hoje falo-vos do que observei no mundo dos blogues naquela que terá sido a mais renhida e dura campanha eleitoral desde que existe a Janela Indiscreta. A plataforma dos blogues já existia quando José Sócrates ganhou há quatro anos, mas não era seguramente a mesma coisa – nem era tão popular, nem tinha o carácter multimédia que tem hoje, nem era tão fácil e acessível.
Nessa medida, esta eleição será a primeira do tempo do blog enquanto meio de comunicação de massas. E o próprio meio reflectiu essa realidade: blogues organizados em torno de partidos e candidatos, blogues a discutir tudo e mais alguma coisa, e caixas de comentários pejadas de gente que obviamente está ligada aos partidos e a quem os partidos pedem que comentem e comentem e comentem. Um pouco como sucede nos programas de rádio de linha aberta, em que nós próprios, muitas vezes, como ouvintes, nos apercebemos quando o outro ouvinte que fala é o militante do partido B que vem dar o recado directamente da sede, também no mundo dos blogues existem os leitores/comentadores dedicados. Nesta campanha isso foi notório, especialmente na órbita dos partidos principais: PS, PSD, CDU, claro, e Bloco de Esquerda. O CDS, apesar de tudo, notou-se menos.
Num outro patamar de reflexão, o efeito de espelho que a blogoesfera criou em relação ao mundo mediático tradicional. E o espelho mostra que o Gato fedorento foi o rei da campanha, os debates foram logo a seguir, o programa Prós e Contras nunca perdeu protagonismo, e os temas mais fortes da campanha andaram sempre em torno do folhetim das escutas, de Cavaco, do Publico, da TVI e dos passados por saber de José Sócrates. Ou seja, e na mais pura observância do rigor: os blogues não foram além da reprodução da agenda mediática normal, nesse tal espelho quase perfeito – e se digo quase perfeito é porque a ser realmente perfeito, ele tinha de incluir o Benfica e as suas vitórias...
Não incluiu. O Benfica foi prejudicado na campanha...
Exceptuando este pormenor, tudo o resto que eu vi e vivi na Janela Indiscreta reflectiu, com desvios mínimos, o que ocorreu basicamente nas televisões – mantendo portanto a lógica que vinha de trás e que faz da Tv a caixinha que muda as nossas vidas. Como, curiosamente, as TV’s reflectem muito as agendas dos jornais, o que acabo por encontrar, no momento do balanço, é uma espécie de pescadinha de rabo na boca em que jornais e tv’s fazem a caminha onde os bloggers se deitam a comentar. Acrescentam? Claro que sim. Ganharam força? Sem dúvida. Mas ainda não constituem a agenda dos dias políticos.
Agenda que, a bem da verdade, foi desta vez dominada pelo Gato Fedorento. Para já, e até domingo, são os quatro gatos que ganham as eleições. Faltam dois dias para as eleições, e ao terceiro... eu volto.
Estes são os dias derradeiros para todos: candidatos, jornais, sondagens. Depois do espalhanço total e absoluto dos estudos de opinião nas eleições europeias, parece comedida a forma como os jornais analisam as sondagens que vão chegando - e até o debate, no Prós e Contras de segunda-feira, foi tranquilo e muito cordato.
O engraçado é que essa memória recente acaba por atraiçoar a análise actual. Ontem, no Insurgente, André Azevedo Alves interrogava-se sobre os resultados dos últimos estudos: “Ou existiu «correcção técnica» na forma como eram feitas as sondagens, do que não fomos informados, ou então as previsões para o CDS-PP (bastante mais elevadas que em sondagens para actos eleitorais anteriores) indicam poder estar a ganhar o voto útil à direita”.
Ou seja, à duvida anterior temos agora uma nova duvida. Por mim, sugiro sempre uma visita ao blog margem de erro, de Pedro Magalhães, cuja leitura dos números é quase sempre muito sensata e sem segundas intenções.
Curiosamente já esta semana, no Cachimbo de Magritte, Pedro Pestana Bastos decide fazer um exercício em cima do exercício de Pedro Magalhães. O que fez o autor do Margem de Erro: juntou todas as sondagens recentes, fez a média dos seus resultados, e concluiu que o PS pode ganhar as eleições.
É um exercício teórico. Pedro Pestana Bastos foi um bocadinho mais longe: comparou este resultado com os erros de amostras das sondagens do passado, e na diferença entre ambas chegou a outras conclusões – neste caso, apurou uma vitória do PSD com 30,6%, seguido do PS com 26, Bloco de Esquerda com 11,9, CDS com 10,4 e CDU com 9.7.
Ou seja: ele admitiu que os erros das empresas de estudos de mercado seriam os mesmos, e que a correcção real seria tb a mesma. E então teríamos este quadro que vos dei.
Se quiserem brincar também às apostas e aos palpites sobre os resultados, têm agora um novo blog, o Trocas de Opinião, que se anuncia como um “mercado de previsões, baseado numa moeda fictícia, onde os participantes exprimem a sua opinião sobre acontecimentos sociais e políticos, comprando ou vendendo contratos a um preço que traduz, em cada momento, a probabilidade desse acontecimento ocorrer”.
Funciona como uma bolsa gratuita online, é caucionada pelo mesmo Pedro Magalhães da Católica, e a funcionar há pouco tempo já tem lá um possível resultado eleitoral, bem diferente dos que circulam por ai. Nesta bolsa de apostas, o PS ganha com 38.15, o PSD tem 33.25. O CDS é que volta a ser penalizado: 8% dos votos. Pedro Magalhães, cuidadoso, comenta: “com estas cotações, é difícil ignorar o facto de que, naturalmente, os resultados das sondagens são uma das informações agregadas pelo próprio mercado”.
Dito isto, esperemos pelas sondagens e se quisermos brincar, é só fazer o registo no Trocas de Opinião e entrar no jogo da compra e venda de resultados eleitorais. Faltam 4 dias para as eleições.
Já se calculava que alguma cabeça havia de rolar desde o dia em que se soube que tinha havido comunicação entre Belém e o jornal Publico por causa das presumíveis escutas do Governo á Presidência. Rolou ontem a cabeça do mais fiel assessor de Cavaco desde há 24 anos: Fernando Lima, ele próprio um jornalista, convêm nunca esquecer.
As reacções aí estão: Carlos Abreu Amorim, no Blasfémias, diz que a decisão do Presidente “dificilmente poderá obstar à péssima impressão que Cavaco Silva deixa em todo este imbróglio. Pelo contrário, este gesto desmente a versão das escutas a Belém e os intentos do anúncio da vistoria ao palácio em busca dessas escutas perdidas. (...) Cavaco e os seus aprendizes de feiticeiro talvez tenham acabado de garantir a vitória de Sócrates. Eleitoral e – pasme-se – moral também”. Paulo Pinto Mascarenhas concorda: “Sócrates e o PS são, à primeira vista, os beneficiados”. Pedro Marques Lopes, no União de Facto, deixa a pergunta singela: “E, já agora, como é que fica a claustrofobia? Já se respira melhor?”.
À esquerda, no Arrastão, Daniel Oliveira deixa a duvida: “Ainda me lembro de um mail em que se dizia que o assessor passou a informação por ordem de Cavaco. Será falso ou o nosso Presidente é daqueles que prefere culpar o mordomo?”. Tomás Vasques olha mais para a frente: “seja do presidente, do primeiro-ministro ou de ministros, com esta demissão, muitas «fontes» vão secar e muitas «encomendas» vão ficar pelo caminho. É uma boa notícia”.
No meio do episódio, do folhetim, há quem peça já a cabeça do próprio Presidente, como Vítor Pimenta no Avenida Central: “Em vez de desfazer equívocos no mesmo dia em que o Público lançou a "encomenda", Cavaco Silva arrastou a paranóia a corroer o que restava da imagem do Governo e da Democracia Portuguesa. Se isso pode não dizer nada da neutralidade do Presidente da República, diz muito da sua incapacidade política. Com Fernando Lima a sair, resta saber o que Cavaco Silva ainda está lá a fazer”. Paulo Guinote, na Educação do meu Umbigo, pede a Cavaco Silva que se explique e JC no Gato Maltês escreve que, ao demitir o seu assessor, o Presidente “está a admitir as responsabilidades (...) por aquele que é, talvez, o acto mais grave alguma vez praticado em Portugal por um orgão de soberania”. O que de alguma forma leva M. Silva no blog Politico Gratuito a escrever: “Agora só mesmo a demissão de Cavaco Silva permite assegurar que o clima de conspiração permanente em que Belém se ocupa, chega ao fim”.
O que começou por ser um disparate de Verão ameaça influenciar os votos do próximo domingo. A reflexão que daqui resulta é simples: se em tempo de guerra não se limpam armas, como podemos achar que no resto do tempo as coisas são diferentes. Não devem ser, parece-me. Faltam cinco dias para as eleições.
Já cá faltava a lição que vinha do Império Romano: em face de mensagem negativa, vamos lá matar o mensageiro. Jornais, rádios, televisões, não escapam a este olhar que pretende matar as notícias da forma mais óbvia: eliminando quem as transmite.
Querem exemplos. Olhem este, de Carlos Barbosa de Oliveira no Delito de Opinião: “A notícia de primeira página do "Expresso" sobre os PPR de Louçã é do mais ridículo que alguma vez li. Quando um semanário "de referência" faz notícias deste jaez, não faz mais do que confirmar o que venho dizendo há muito: o jornalismo em Portugal está pelas ruas da amargura.”
A saber: Louçã fez dos benefícios fiscais dos PPR um odioso roubo aos cidadãos – e um jornal descobre que, ao mesmo tempo, ele investiu dinheiro em PPR’s. Noticiar tal facto é andar nas ruas da amargura? Não consigo perceber.
Observe-se agora um post de Pedro Santana Lopes no seu blog: “Pacheco Pereira escreve hoje um excelente artigo no Público. Cheio de "verdades que nem punhos" sobre o que se passa no dia-a-dia da nossa Imprensa. Por exemplo, ainda agora assistimos a "directos" da intervenção de Manuel Alegre no comício do PS em Coimbra. Mas da intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa, no comício do PSD, na mesma cidade, à mesma hora, não consegui encontrar nem um... Porque será?”
Outro exemplo, outro olhar, Francisco José Viegas na origem das espécies: “O Diário de Notícias quis ser o provedor do Público. Não conseguiu. Só entregou a encomenda, queimando a reputação.”
E como estes poderia citar João Miranda, no Blasfémias, falando sobre a polémica das escutas e escrevendo que “a reputação só tem valor se puder ser usada em momentos cruciais. O DN decidiu queimar parte da sua a uma semana das eleições”.
Ou ainda Pedro Picoito no Cachimbo de Magritte, quando deixa esta pergunta no ar: “Se o Público, que Sócrates nomeou como inimigo num congresso partidário, vê a sua correspondência interna chegar à concorrência, torpedeando assim uma investigação incómoda para o Primeiro-Ministro, quem nos garante que outros inimigos de Sócrates não são alvo de idênticos processos?” No Sound and Vision, João Lopes observa os media dizendo que numa campanha o que os eleitores fixam e elegem “envolve dois efeitos correntes da televisão mais despudoradamente populista: o “apanhado” e o pitoresco. O “apanhado” porque, quase sempre, as câmaras seguem os políticos para tentar fixar (...) o acidente mais ou menos anedótico: o beijo inesperado, a frase solta, o bebé, a peixeira, etc... O pitoresco porque, de acordo com tais reportagens, não há elemento do povo que não seja caricatural ou ridículo: e se puder dizer qualquer coisa para a câmara em tom mais ou menos gritado, tanto melhor. Chama-se a isto estereótipo.”
E é disso que falamos quando apontamos ao mensageiro passando ao lado da mensagem. Nessa matéria, os jornalistas têm as costas mais largas da raça humana. E faltam 6 dias para as eleições
Continuando a olhar a campanha eleitoral através das janelas que se abrem no mundo dos blogues, vale a pena parar um bocadinhos nos 3 mega-blogues colectivos criados especificamente para este período eleitoral. O Simplex é um blog de apoio ao Partido Socialista que reúne gente do partido mas também muitos independentes: “homens e mulheres, jovens e menos jovens, gente consagrada e por consagrar, gente divertida e sisuda, oriunda das mais diversas áreas profissionais e políticas, sem outra afinidade que não uma declaração de voto comum: nas próximas eleições legislativas vamos todos votar no Partido Socialista”.
Há depois o Jamais, e apoio ao PSD, que se define pelo popular Jamais do ministro Lino, “Interjeição muito usada por um povo de dez milhões de habitantes de um certo cantinho europeu, orgulhoso do passado mas apreensivo com o futuro, hospitaleiro mas sem paciência para ser enganado, solidário mas sobrecarregado de impostos, com vontade de trabalhar e meio milhão de desempregados, empreendedor apesar do Estado que lhe leva metade da riqueza, face à perspectiva terrível de mais quatro anos de desgoverno socialista”.
E há ainda o Rua Direita, que apoia o CDS e que afirma “Esta rua não é uma federação dos bloggers do CDS devidamente apadrinhada por dirigentes do CDS. É uma rua de eleitores que aqui chega por vontade própria. Aliás, a maior parte de nós não tem sequer qualquer ligação institucional ao CDS e apresenta-se pela primeira vez na blogosfera como votante neste partido”.
Ora bem: os 3 blogues, que reúnem nomes relevantes, de João Gonçalves a Inez Dentinho, de Eduardo Pitta a Pacheco Pereira, de Miguel Vale de Almeida a Vasco Graça Moura, de Leonel Moura a Paulo Rangel, enfim – nomes que obviamente enriquecem qualquer blog ou site ou mesmo jornal... pois bem, estes nome acabam asfixiados pelo sectarismo a que os blogues não conseguem resistir.
Na verdade, lê-se com gosto o Eduardo Pitta no seu blog Da Literatura, onde escreve muito sobre politica. Mas o mesmo texto, integrado no blog colectivo, perde força, relevância e interesse.
Se as ideias destes blogues era apenas ocupar espaço mediático e marcar o dia a dia da campanha, tudo bem – mas se a ideia era ir mais longe, promover o amplo debate das grandes questões que diferenciam os partidos, promover um diálogo rico entre esquerda e direita, então paciência: o processo não passa pelos blogues de apoio a este ou aquele partido ou candidato.
Ontem, no blog Rua Direita, Francisco de Almeida fazia o balanço dos debates na televisão e escrevia: “Fico preocupado com a aparente ausência de rumo para o futuro deste país. Os mais importantes candidatos ao cargo parecem não conseguir delinear uma estratégia clara que permita a Portugal romper com o distanciamento face aos congéneres Europeus, e entrar decisivamente na Europa do século XXI”.
Ora, eu fico preocupado é quando entro num blog e em vez de pessoas encontro chavões e frases-feitas. Assim, mais vale entregar isso mesmo aos partidos, e deixar o debate correr onde ele corre melhor: entre blogues que nasceram independentes de qualquer timming eleitoral. Aliás, essa é a natureza da blogoesfera – e assim será, em Outubro, logo que esta maratona termine. E faltam 11 dias para as eleições.
Daqui até ao dia 27 dificilmente esta Janela se abrirá a outros temas que não a politica, tanto mais que, em plena campanha, há no mundo dos blogues espaço para reflexões relacionadas com o momento, porém laterais aos espaços de campanha. Vamos olhar alguns desses olhares laterais, que incluem noticias, ou pelo menos rumores, como este que encontro no blog de José Paulo Fafe: “CORRE POR aí que PS e PSD dispõem de sondagens bastante credíveis que dão uma vantagem de cerca de 7 pontos de José Sócrates sobre Manuela Ferreira Leite (...) ... Mas nem uns nem outros estariam muito interessados em "tirá-las da gaveta": os social-democratas porque os números são mais do que desalentadores; e os socialistas porque já aprenderam a "lição das europeias", quando um exagerado optimismo baseado em sondagens (...) levou a que muito do seu eleitorado ficasse em casa e outros resolvessem dar uma "ajuda" ao Bloco de Esquerda. Citando o dr. Portas, "cautelas e caldos de galinha(...)"...
Fica por confirmar. Confirmado está o interesse dos eleitores pelos debates televisivos, quase sempre e quase todos acima do milhão de espectadores. Sofia Loureiro dos Santos, no blog Defender o Quadrado, também achou este serie de debates “muitíssimo interessantes. (...) Houve uma grande atenção aos debates, o que demonstra que as pessoas estão interessadas e preocupadas com o desfecho destas eleições, (...) que há um regresso à disputa ideológica entre direita e esquerda tendo todos os protagonistas procurado explorar e acentuar os pontos de divergência. Outro aspecto muito importante que esteve presente em toda a pré-campanha, antecedendo até estes meses eleitorais, foi a discussão da honestidade, do carácter, da seriedade e da credibilidade política dos líderes partidários e da forma como os seus partidos se posicionam em termos éticos”.
O problema agora é que a ética fica em geral á porta da campanha eleitoral. Paulo Gorjão no seu Vox Pop lembra aos eleitores para não se esquecerem de levar “garrafa de oxigénio”. “Manuela Ferreira Leite desvalorizou o optimismo manifestado por José Sócrates com os mais recentes indicadores económicos, considerando que “estamos todos debaixo de água, mas ele entende que é igual morrer afogado a 12 metros de profundidade ou a 13 metros. Para mim não é tudo igual. Não quero é morrer afogada.” Enfim, o que dizer disto? Não há muito para dizer. Vão ser 12 dias divertidos. Pouco sérios, mas divertidos. Afinal, já se sabe há muito tempo que em tempo de guerra a verdade é a primeira vítima”.
Saindo então da verdade para o espectáculo, palavra a Nuno Dias da Silva que observou no seu blog a estreia do Gato fedorento em campanha entrevistando José Sócrates na SIC: “Na conversa com Ricardo Araújo Pereira, (...) Sócrates marcou pontos, sabendo ele que estava a ser visto por uma audiência mais ampla do que a que assistiu aos debates e, mais importante, por um eleitorado mais jovem, muitos deles que votam pela primeira vez, e que necessitam de ser convencidos. O estilo cool e sem gravata também ajudou. Irrepreensível, dizemos. Porreiro, pá!”. Hoje à noite, é a líder do PSD que responde às perguntas do Gato Fedorento. E faltam 12 dias para as eleições
Campanha eleitoral na estrada, o arranque foi dado oficialmente depois do encontro na TV entre Sócrates e Ferreira Leite. Um debate a que a esmagadora maioria dos comentadores não atribui vencido ou vencedor, porque os dois líderes conseguiram prestações equilibradas, uma ou outra gaffe, nada de especial. Ainda assim, consigo encontrar notas e sublinhados no mundo dos blogues que vale a pena trazer à Janela.
Por exemplo, Maria João Marques, no Insurgente, repara que “Sócrates não gosta nada da maledicência nem daqueles políticos que passam o tempo a criticar os outros. (...). Foi por isso que passou todo o debate (...) a criticar e maldizer as propostas reais ou inventadas do PSD”.
Nuno Dias da Cilva, no Civilização do Espectáculo, prefere olhar Manuela Ferreira Leite, a quem chamou de Padeira de Aljubarrota: “protagonizou um dos momentos mais vivos no debate de ontem, com consequente eco na imprensa espanhola,(...). E nem se pode invocar que foi apenas o jornal dos socialistas em Espanha que pegou no assunto. O periódico da direita do país vizinho foi até mais contundente e a declaração de que «Portugal não é uma província de Espanha» é uma das notícias mais lidas no «El Mundo». Proponho que a primeira visita oficial de Ferreira Leite ao exterior, depois de eleita, como «deseja» e «espera», seja a Espanha para fazer as pazes com os empresários e o poder político espanhol”.
Sobre este tema, Carlos Manuel Castro no Câmara de Comuns escreve “que a líder do PPD é de um vazio político atroz, quando disse que Portugal não era província de Espanha e que os espanhóis se queriam aproveitar de fundos comunitários´para fazer o TGV. Como se o mesmo não se aplicasse a Portugal, beneficiando de patrocínio europeu para as redes transfronteiriças”.
No fundo, e afinal, onde se vê ou analisa o debate de sábado é mesmo nos pormenores, nas nuances que tudo mudam. Afonso Azevedo Neves, no 31 da Armada, repara neste pormenor interessantíssimo: “Sócrates quando irritado perde sempre a razão, Manuela Ferreira Leite quando irritada ganha a razão que não consegue fazer passar quando se esforça por se manter calma”.
Daniel Oliveira, no Arrastão, prefere olhar o tema pelo lado da estratégia e não hesita na vitória de Sócrates neste confronto: “Sócrates usou neste debate a mesma estratégia que aplicou aos anteriores: passar ao ataque e ser oposição à oposição, usando os programas dos outros. (...) A estratégia põe os opositores à defesa, que é sempre a pior forma de estar num debate. E, perante as dificuldades oratórias e políticas de Ferreira Leite, garantiu uma vitória sem discussão. Mas uma coisa é ganhar debates, outra é ganhar as pessoas. E quando Sócrates concentra nos opositores, nos seus programas e no seu passado, está, ele próprio, a diminuir os seus últimos quatro anos de governo. A sua estratégia dá vitórias mas não mobiliza. Dificilmente convence indecisos”.
No fim, como no princípio, sem ser Daniel, poucos ousam atribuir uma vitória clara. Paulo Pinto Mascarenhas acaba por fazer uma boa síntese: “Estão de igual para igual. Esperava mais de Sócrates que, como diziam os especialistas, tem jeito para isto. Mas o jeito não está a dar para ganhar”. E faltam 13 dias para as eleições.