Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

Blog da semana: A Um Metro do Chão

O nome do blog diz tudo. A um metro do chão. O que é? É um “blogue é sobre o mundo visto pelas crianças. Só isso”. Só isso, não – tudo isso. Inês Teotónio Pereira, jornalista e mãe, abriu este mês o seu blog – e os primeiros textos prometem um blog obrigatório para pais e mães.

Alguns exemplos, este tem exactamente oito dias e o titulo é:

Do capítulo das coisas estranhas e inexplicáveis do mundo dos brinquedos

Diz assim: “Os brinquedos a pilhas são vendidos sem as pilhas. Sempre.

O número de arames que prendem os brinquedos às caixas é quase sempre desproporcional ao tamanho dos brinquedos e à sua fragilidade, servindo apenas para fazer gailolas ou outra coisa qualquer que precise de muito arame. Os cabelos dos bonecos da Playmobil não são preso à cabeça dos bonecos, por isso perdem-se com muita facilidade e os bonecos ficam com um buraco na cabeça. As instruções para a montagem dos castelos, barcos e afins de qualquer marca são mais difíceis de perceber que o manual de instruções de uma nave verdadeira da NASA,  (ou pelo menos quase tão difíceis de perceber)”.

Outro exemplo, desta semana: “Do capítulo das perguntas do século passado

O meu filho perguntou-me o que é uma cassete.”

Ora bem, pela amostra temos algo a meio caminho entre um babyblog e um blog que observa o mundo das crianças bem perto delas, bem á sua altura, obviamente com a maturidade e a inteligência de um adulto, nomeadamente quando reflecte assim, afirmando que acordou a pensar no assunto: “Quando uma criança mente, há esperança que não o volte a fazer; quando um adulto mente, de certeza que o volta a fazer.”

O blog está em aummetrodochao.blogs.sapo.pt, é a minha escolha desta semana, também porque lá se podem ler os textos de jornal de Inês Teotónio Pereira. Num deles, recente, escreve: “As crianças têm uma noção claríssima dos direitos, liberdades e garantias e do alto da sua meia dúzia de anos acham que só os super-heróis são exemplo dessa trilogia. Os polícias - pensam eles - multam e prendem. Só os maus? Não: a mãe deles e outros crescidos de renome também são multados com frequência. Por isso, escondem-se no banco de trás. Dizem algumas vozes doutas que o desrespeito dos mais novos pela autoridade é um problema de educação. Não concordo: eles respeitam e admiram quem tem autoridade, como o Senhor Incrível ou o Homem-Aranha. Para as crianças o mundo é injustamente preto e branco e a verdade é que os super-heróis protegem as árvores, os mais fracos e desde o Lucky Luke que não fumam. Quanto aos polícias, já tive de lhes explicar a diferença entre um GNR e um empregado da Prosegur: um passa multas, o outro não”.

Como se vê, ler este “A Um metro do Chão” promete. É o meu blog desta semana.

publicado por PRD às 01:36
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Quinta-feira, 28 de Maio de 2009

Eleições europeias - parte 2

Ainda as eleições europeias e a campanha em curso – na verdade, se pusermos de lado as tricas do dia a dia, falta uma reflexão mais profunda sobre o que está em causa – a Europa. Eduardo Pita tem, por isso, toda a razão, quando no seu blog “Da Literatura” escreve “O modelo das campanhas está esgotado. E atingiu o seu ponto alto na agenda do deputado Nuno Melo, cabeça-de-lista do CDS-PP, que (num dia) teve duas reuniões à porta fechada: uma com o Sindicato dos Guardas Prisionais, (...) e outra com agentes da PSP em Santa Maria da Feira. Parece anedota? Pois parece. Dizem os media que foi queixar-se aos guardas e polícias das “leis brandas” que temos. Por este andar ainda o veremos a ter reuniões com magistrados “pressionados”, um tema eminentemente europeu... Como é que esta gente pode ser levada a sério?”. Eduardo Pita acredita que “metade do país vai mandar o escrutínio às urtigas”, encontrando-se com a opinião de Pacheco Pereira que pode ser lida no blog Abrupto: “Falta (...) debate e muito. Debate interno, interior, dentro das baias da aceitação do "europeísmo" dominante, pouco me interessa. Debate que tenha a coragem de vir de fora, que diga as verdades que precisam de ser ditas sobre uma Europa que caminha a passos largos para destruir o adquirido comunitário”. Pacheco Pereira pede debate europeu, Sofia Loureiro dos Santos complementa com o seu olhar sobre a campanha: “Nada que tenha a ver com a Europa, política europeia, tratado de Lisboa, Parlamento Europeu, federação de Estados, Turquia, etc., tem sido totalmente eclipsado pelo ataque à política do governo PS, a crise, cartazes horrorosos, demagogia e populismo quanto baste. (...) Ninguém está minimamente interessado nas eleições europeias. O resultado das eleições de Junho será interpretado como o primeiro round e uma sondagem à boca das urnas para as legislativas”. No seu Fio de Prumo, Helena Sacadura Cabral também reconhece “pobreza” nos debates eleitorais: “Custa a perceber que se esteja a debater a Europa, as suas instituções, a sua política. De propostas nem vislumbre. Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado nosso. Nem quero pensar no que vai ser a abstenção, partido em que me filiaria, não fossem outros valores mais altos a levantarem-se. O mais grave é que não é por acaso que isto acontece. Cada um de nós anda cansado. De si, dos outros, do próprio país. Como é que não andará cansado duma Europa que cada vez se afasta mais do portuga, agora que os fundos, mal aproveitados, deixaram de aparecer?”.

A verdade é que, com ou sem fundos, no meio de uma crise profunda, as eleições confundem-se e confundem-nos. Tem razão a Helena, claro que sim, mas é inevitável esse olhar que acaba por morrer na praia aqui do rectângulo... Até ao dia do voto, pode ser que ainda o país e os candidatos acordem para o que está em causa na eleição – mas se tal não suceder, como ela diz no blog, “Tudo o resto é, infelizmente, paisagem”. Ou melhor, será paisagem no dia seguinte ao dia do voto.

 

publicado por PRD às 01:34
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Quarta-feira, 27 de Maio de 2009

Eleições europeias, parte 1

Vamos então começar a olhar as eleições europeias, agora que a campanha começa a aquecer, ainda que o entusiasmo dos eleitores se não sinta por aí muito forte.

Sou tentado a concordar com Ana Cláudia Vicente no Delito de Opinião quando escreve: “Tenho  visto alguns debates, lido algumas entrevistas e reportagens, mas para lá das habituais palavras de ordem e desta fixação  oportunista e centrífuga nas questões da governação nacional, estou para saber o que pretendem aprovar ou reprovar os candidatos a parlamentares europeus durante os próximos cinco anos”. E humildemente pergunta: “afinal  a partir de que dia da campanha  passaremos a conhecer alguma coisa em concreto do que pretendem fazer os candidatos ao Parlamento Europeu?”. Eis uma pergunta que também me ocorre, assim como a citação oportuna de Mário de Carvalho: “era bom que  trocássemos umas ideias sobre assunto. Ainda vamos a tempo”.

Navegando por pontos diversos desta campanha, noto que Laurinda Alves transformou o seu blog em sede de campanha. Ontem mesmo falava sobre o financiamento do Movimento Esperança Portugal: “O MEP, escreve, não recebe um único cêntimo do Estado e para dizer que eu própria não ganho dinheiro nenhum. Sou apenas uma entre milhares que contribuem para a existência deste novo partido com trabalho, empenho e muita alegria”. E de seguida publica já as contas da campanha, o preço do autocarro, e até os 45 mil euros gastos em cartazes de rua... Tudo no blog, tudo transparente.

Falando dos pequenos partidos, Pedro Correia anda a ler os programas dos diversos concorrentes. Dá para rir, por exemplo, a síntese das propostas do Partido Operário de Unidade Socialista:

“- Proibição de todo e qualquer despedimento

- Renacionalização dos bancos e todos os outros sectores estratégicos da economia

- Ruptura com a União Europeia

- Construção das bases de uma União Livre das Nações Soberanas de toda a Europa”.

Comenta Pedro com graça: “O POUS enganou-se de ano. Estamos em 2009, não em 1975”.

Aliás, e já que ando por anos idos, aterro no Canal memória que Bernardo Pires de Lima escreve no blog União de Facto:

“Lembro-me bem quando o Dr. Cavaco andava em campanha eleitoral para chefe de governo e as ruas eram inundadas de propaganda laranja. Nessa altura havia até uns autocolantes por todo o lado com a cara do actual presidente. Na altura, o país devia ter muito, mas muito dinheiro, para estas práticas. Hoje, o Dr. Cavaco apela à contenção na campanha. Podia ter apelado à mesma quando no país entravam milhões por dia. Não o fez. Agora acho que já não o levo a sério”.

É o começo da campanha, ainda dispersa no mundo dos blogues. Leio no entanto, via Vasco Campilho no 31 da Arma,a que Paulo Querido, um dos observadores militantes deste universo, que "o PSD está a ter melhor blogosfera". É a Geração Maizena, diz Campilho, que nota que “Do lado socialista, não há geração Maizena”. Mas fala de uma “geração boyseana”. Com muitos boys e presumivelmente muitos jobs. A primeira troca de galhardetes. Daqui até ao dia 7 a coisa promete aquecer e eu cá estou para ver...

publicado por PRD às 01:33
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Terça-feira, 26 de Maio de 2009

A festa do FC Porto

Vamos então ao futebol, ou melhor, ao balanço da época, que terminou no fim-de-semana. Bem escreveu Elisabete Proença citada por José Nunes no blog Linha Avançada: «A festa do FC Porto é como a Páscoa. Acontece todos os anos, só não se sabe em que semana». No domingo foi a segunda volta da festa, e o percurso entre a Ribeira e a Avenida dos Aliados constituiu a chamada “Via Tetra”, que motivou o elogio de João Saraiva no blog Reflexão Portista: “É verdade que a varanda do Dragão é na nossa casa, e festejando ali estávamos a festejar em casa, em família, que é bonito, mas acho que é curto. As nossas vitórias mais que vitórias do Futebol Clube do Porto, são vitórias do Porto. E festejar na baixa é partilhar a vitória com a cidade. É extender a nossa matriz desportiva à nossa matriz social”.

Assim foi realmente. A norte festeja-se, em Lisboa nem por isso: “um frustrante terceiro lugar”, escreve D`Arcy no Tertúlia benfiquista: “Época terminada, silly season iniciada (...). Como de costume, enterramos as frustrações de uma época mal conseguida e, quer queiramos, quer não, deixamos que a esperança se renove a cada nova época”.

Os benfiquistas bem precisam de esperança, mas os do Sporting não lhes ficam atrás. E no blog leão da Estrela, o elogio que lá encontro não é à equipa e ao clube, mas a uma “Antiga glória”: “Manuel Fernandes conseguiu hoje levar a União de Leiria à I Liga Portuguesa. Manuel Fernandes pegou na equipa leiriense quando esta se encontrava junto da chamada "linha de água" (...) mas foi o treinador responsável por uma recuperação notável”.

As despromoções, descidas e subidas, ocupam parte generosa deste balanço de época. Tó, no blog Mesa Redonda, lamenta o caminho do Boavista: “Este exemplo devia-nos fazer pensar muito bem sobre o futebol que temos e se devemos ou não continuar com este modelo de dirigismo (...)! O Boavista era um clube que devia neste momento estar ao nível de um Braga, Guimarães, Nacional e é o que se vê!”. Outra descida que custa, a do Belenenses: Nuno Dias da Silva fala de “um ano de travessia no deserto” mas salvaguarda que pode haver “um malabarismo no defeso, decidido, bem à portuguesa, na secretaria, que recuperaria o clube de Belém para a Liga Sagres. O Estrela da Amadora pode ser um dos candidatos à extinção”. O benfiquista Miguel Teixeira, no Insurgente, é mais romântico: “Hoje, "vesti" a camisola dos azuis do Restelo, na expectativa de ver um clube que sempre apreciei tornear a espectável descida à II.ªLiga. (...) Volvidos onze anos, o Belenenses regressa a uma divisão secundária que não condiz com a (sua) história, pergaminhos e capacidades”. Na Dieta de Rochembach Daniel opta pela ironia: “A febre publicitária que rebaptizou os nossos campeonatos de futebol tem, pelo menos, uma vantagem: quando lemos que Belenenses e Trofense foram despromovidos da Liga Sagres para a Liga Vitalis, percebemos imediatamente que há ali um castigo violento, uma privação de festa, um ano inteiro a água”. E Henrique Raposo tem também muita graça quando escreve: “Para o ano, o campeonato terá dois bravos Leixões: o Leixões e o Olhanense”. Claro que este “para o ano” é rotundo exagero: o futebol volta daqui a uma dúzia de semanas...

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Segunda-feira, 25 de Maio de 2009

Guedes versus Pinto

Já é segunda-feira, há eleições europeias, há o balanço da época futebolística, eu sei isso tudo, ao futebol prometo ir amanhã, hoje não posso deixar de recuperar a noite de sexta-feira e o momento protagonizado pelo Bastonário Marinho Pinto e a jornalista Manuela Moura Guedes, na TVI. Marinho Pinto sentiu-se atacado pelo tom da apresentadora, e partiu a loiça toda – basicamente, disse-lhe que o jornalismo que ela apresenta é vergonhoso...

Nuno Ramos de Almeida, no 5 Dias, salta em defesa de Manuela: “O que incomoda muita gente no noticiário da TVI, não é o estilo da apresentação, mas o conteúdo das investigações. Era tudo tão simpático quando uma notícia podia acabar com um simples telefonema...”. No Arrastão, Daniel Oliveira coloca a coisa num ping pong de quem escolhe quem: “No confronto Manuela Moura Guedes versus Marinho Pinto quem escolhe? Manuela Moura Guedes, Marinho Pinto, uma martelada no dedo mindinho ou adora os dois e tenho a certeza que foi tudo um mal entendido”... Ironias à parte, o mesmo Daniel já tinha escrito, referindo-se ao Bastonário: “pena que que não tenha sido alguém com credibilidade a dizer o que tinha de ser dito”. No Corta-Fitas, Francisco Almeida Leite acha que “Só um País muito doente tem um homem daqueles a representar milhares de advogados (...). O que se passou ontem foi uma total falta de categoria em directo e ao vivo. (...) A pivot da TVI fez o que tinha a fazer”. Maria João Marques, no Insurgente, concorda: “A peixeirada esteve toda do lado do bastonário”. Filipe de Arede Nunes, no Risco Contínuo, vai mais longe: “O degradante espectáculo que o Dr. Marinho Pinto deu (...) foi a gota que fez transbordar o copo de muitos. Não só se colocou numa posição vergonhosa, como conseguiu perdeu um debate com a Manuela Moura Guedes, o que é quase inédito!”

Na defesa de Marinho Pinto encontro, por exemplo, Carlos Barbosa de Oliveira: “Seria interessante saber as razões que levam a TVI (...) a fazer campanha contra Marinho Pinto. Por mim, ficaria satisfeito se viessem mais 5 Marinhos Pinto. Não aprecio heróis. Gosto mais de gente corajosa (…) O corporativismo mental é um dos cancros da nossa democracia”. Também Bruno Pires, no Corta-fitas, saúda o Bastonário: “Confesso que não (...) tinha grande apreço por Marinho Pinto, mas hoje começou uma nova era. Depois do ataque letal que desferiu a Manuela Moura Guedes, admito que o bastonário dos advogados entrou directamente para o meu coração. Disse o que todos pensam, mas que poucos têm coragem de o dizer”. Mais ou menos o mesmo que pensa Nuno Dias da Silva no Civilização do Espectáculo: “O homem passou-se dos carretos e neutralizou o «rottweiller» da televisão portuguesa. Manuela ouviu o que muitos portugueses desejariam dizer-lhe na cara e não podem”.

Entre um lado e o outro, ou vendo a coisa com outra serenidade, Pedro Correia no Corta-Fitas faz a pergunta que fecha o debate: “Se eu tiver "vergonha" de certa jornalista, que "viola sistematicamente o código deontológico", e mesmo assim aceitar ser entrevistado por ela num telediário que faz "julgamentos sumários de pessoas", deverei ter vergonha de mim próprio?”

publicado por PRD às 01:31
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Sexta-feira, 22 de Maio de 2009

Blog da Semana: Museu de Arte Popular

Comecemos por citar Manuel Falcão no blog Esquina do Rio:”O Museu de Arte Popular, em Belém, está encerrado há cerca de três anos e o seu espólio foi transportado em caixotes para o Museu de Etnologia, onde permanece fechado em caixotes e inacessível do público. O edifício original, o único que restou da Exposição do Mundo Português, está agora ameaçado por um projecto de adaptação que o ameaça tornar irreconhecível. (...) Apesar de tudo isto, na semana passada o Conselho de Ministros aprovou naquele local a instalação do Museu da Língua e o processo de concretização desta transformação foi entregue à Sociedade Frente do Tejo SA, uma entidade que parece estar destinada a ficar para a História como coveira de Lisboa”.

Ora, por causa de mais este atentado à nossa cidade, nasceu um blog justamente chamado Museu da Arte Popular. Fica em www.museuartepopular.blogspot.com  e teve sua primeira expressão pública no domingo passado, com uma iniciativa dos seus autores: “bordar um Lenço dos Namorados em versão gigante declarando a (...) estima por este museu que, mais uma vez, permanecerá fechado na data em que todos os outros comemoram o Dia Mundial dos Museus”.

Assim foi realmente: Rosa Pomar, Teresa Pinto e Catarina Portas são as mentoras deste blog, e deste projecto: “Desde 2006, diversas pessoas de vários quadrantes políticos ou até sem quadrante nenhum escreveram, em nome individual, sobre a decisão de encerramento do Museu. Mas, até hoje, nenhum partido se pronunciou sobre a questão. Eu, escreve Catarina Portas, pensava que os partidos também serviam para interrogar decisões políticas e arbitrárias deste tipo mas, pelos vistos, enganei-me. Até a Papa Maizena parece ter aos olhos partidários maior relevância que a destruição de um Museu único no panorama português”.

E depois Catarina Portas explica: “A verdade é que o MAP é um museu incómodo para muita gente, de esquerda e de direita. Mas faço minhas as palavras recentes e certeiras de Sara Figueiredo Costa no seu blogue (…): “Sabemos que a Exposição do Mundo Português se realizou durante a ditadura de Salazar, mas se isso é suficiente para se destruir um Museu que não se dedica à ditadura de Salazar e sim à produção, ao imaginário e às vivências de um país, então destruamos tudo o que se ergueu durante os anos negros do fascismo. Será isso solução para lidarmos com a nossa memória colectiva?”. 
Perante os factos, só há silêncio – ou pior, a ideia peregrina de um Museu da Língua. Catarina Portas remata: “Face ao silêncio dos partidos que nos representam e diante da ausência de justificações do Estado, em quem deveríamos confiar para preservar a nossa história e património, resta-nos a nós, cidadãos, agirmos”. Lá está então o blog para ajudar a manter acesa essa chama que pede que o Museu da Arte Popular não se perca nas pretensas modernidades destes dias. E é esta, também, a minha escolha da semana.

publicado por PRD às 17:27
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Quinta-feira, 21 de Maio de 2009

Ironias diversas

Ontem comentei por aqui, com blogs por perto, a história da professora de Espinho que fez afirmações de carácter sexual graves, numa sala de aula perante crianças de 11 e 12 anos, entretanto apanhei uma opinião diferente que vale a pena registar. Foi Filipe Nunes Vicente no blog Mar Salgado quem escreveu: “Agora gravam-se aulas sem o consentimento dos professores. Muitos do que assistiram com satisfação à denúncia talvez não achassem tanta graça se fossem apanhados - gravados - a gabar-se do que fariam à mulher do chefe ou à filha da colega. A liberdade tem muitos preços. Teria sido mais difícil incomodar a professora recorrendo a meios legais e honrados? Talvez, mas será certamente isso que desejamos para nós, não é?”

Aqui está - outra forma de ver o problema, outro olhar. Essa é a virtude maior do mundo dos blogues que aqui revejo todos os dias, e que hoje me leva por caminhos diversos, procurando pérolas dos dias que correm. Adolfo Mesquita Nunes,blog Arte da Fuga, sob o titulo “País de faz de conta”:

“Quem regula não regula. Quem pressiona não pressiona. Quem investiga não investiga. Quem tem de explicar não explica”.

Notável retrato dos noticiários de todos os dias, sem duvida. Retrato a que podíamos acrescentar o post que Emídio Fernando deixou no Correio Preto sobre como os tempos mudam as vontades: “Paulo Portas defendeu (...) a demissão de Lopes da Mota do cargo que ocupa no Eurojust. E à opinião adicionou-lhe um conselho moralista: "Eu teria saído logo na abertura do inquérito...". Quem pensa assim e aconselha assim, é precisamente o mesmo homem que foi ministro da Defesa ao mesmo tempo que estava a ser investigado por causa da Universidade Moderna (...). Na altura, o que fez Portas? Demitiu-se mal soube da abertura do inquérito? Pediu a exoneração do cargo quando choveram suspeitas sobre ele? Não. Manteve-se firme no cargo. E, já agora, é bom recordar a posição do PS: pediu a demissão do ministro, com declarações inflamadas feitas à comunicação social (...). E com o próprio secretário-geral, Ferro Rodrigues, a fazer ultimatos. Outros tempos, outros tempos... “

Se eu quisesse agora fazer também um pouco de ironia, diria que as receitas que servem a uns não servem a outros em diferentes momentos. Não é que Paulo Portas ou Ferro Rodrigues sejam incoerentes e demagógicos... é que nem sempre as palavras se aplicam. Como nem sempre os produtos têm o efeito desejado. Por exemplo, “ O cantor espanhol Enrique Iglesias confessou ter fumado cannabis para tentar «melhorar» a sua música. Em declarações ao Daily Mail, Enrique revela que a droga não teve o efeito desejado.” Sobre esta noticia,  PedroVieira comenta no blog Arrastão: “Uma coisa é reconhecer-lhe as capacidades terapêuticas, outra é contar com ela para fabrico de milagres”.

E com esta me fico, que já são ironias a mais para um dia só...

publicado por PRD às 19:26
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Quarta-feira, 20 de Maio de 2009

Num mundo perfeito...

Há dias em que um só blog diz tudo. Hoje é um desses dias. A história é aquela que circula pelos media desde ontem: . Uma professora de História sa Escola Básica 2,3 Sá Couto, de Espinho, fez afirmações, insinuações, considerações de carácter sexual graves, muito graves, dentro de uma sala de aula perante crianças de 11 e 12 anos. Uma aluna gravou tudo, a pedido da mãe, a quem tinha feito queixa, e essas gravações tornaram-se publicas. É mais um daqueles inexplicáveis casos que deixam tudo em aberto sobre a resposta a esta pergunta: a quem confiamos os nossos filhos?

E a este respeito, socorro-me de Sílvia Oliveira no blog Fim de Partido. Escreve ela:

“Num mundo perfeito, só seria professor quem quisesse e sentisse uma enorme vocação. Num mundo mesmo perfeito, nenhum professor teria dúvidas no momento de escolher a sua profissão. Seria uma coisa espontânea, como dizem que é o chamamento divino. E num mundo ideal, ninguém teria que ser professor para escapar à crise e ao desemprego. Mas como o mundo não é nada disto, somos confrontados com episódios como o da professora de história da Escola Básica (...) de Espinho. Andou 12 anos na escola, mais quatro na faculdade, fez dois anos de estágios, dois anos de pós-graduação e mais um de especialização para nada. A gravação áudio de uma aula desta professora é só mais um motivo de inquietação. E as dúvidas voltam: como são hoje feitos os nossos professores? Fazem uma licenciatura e depois especializam-se. Aprendem a manusear a estrutura de um programa curricular, as teorias educacionais para tentar transmitir aos alunos da melhor forma possível o conhecimento, e estudam sociologia e psicologia da educação para se perceberem a si próprios e aos outros. E a seguir ainda fazem um estágio pelo qual são avaliados. Não parece ser fácil. Então porque é a professora da escola de Espinho entrou na sala de aulas e acabou por se revelar uma péssima professora? As razões podem ser muitas e vão desde a mais pura inaptidão até uma situação de absoluta perturbação psicológica. É verdade, estas coisas acontecem. Indesejavelmente e infelizmente porque os professores têm um papel importante na vida das crianças. É por isso que a formação, o controlo, a denúncia e a punição devem ser exemplares, neste e noutros casos. A sala de aulas é um espaço público mas fechado e as crianças, por mais insuportáveis e violentas que sejam, não são adultos. É também para isto que deve servir o processo de avaliação dos professores: para garantir que um professor nunca se transforma numa criança”.

O post de Sílvia Oliveira acaba por deixar o essencial sobre este caso. Mas, na verdade, ele acaba por fazer rebentar de novo a polémica que a pergunta de Diogo Belford Henriques no 31 da Armada claramente espelha: “Como é que alguém ainda acha que o melhor é serem as escolas a dar educação sexual?”

Eu preferia que esta pergunta não tivesse razão de ser. Infelizmente, desde ontem, ela faz mais sentido do que que eu desejava...

publicado por PRD às 19:25
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Terça-feira, 19 de Maio de 2009

Paulo Rangel 2.0

O convite foi assim: “Como blogger com funções suspensas e como interveniente atento da blogosfera, sei e tenho visto que grande parte do debate político de fundo sobre a Europa e o país passa por esta plataforma. Por isso, na qualidade de candidato às eleições para o Parlamento Europeu (...), venho pessoalmente convidá-lo/a a participar na tertúlia de blogues e bloggers, a que demos o nome de BLOGOTÚLIA SOBRE A EUROPA E O INTERESSE NACIONAL, na próxima 2.ª feira, no Café Nicola, em Lisboa. Será uma oportunidade para debatermos, num ambiente aberto e informal, algumas das questões que se levantam sobre o futuro da Europa. (...) Um abraço do Paulo Rangel” E assim foi: ontem à noite, vários blogues cobriram e transmitiram em directo e em vídeo o encontro entre o cabeça de lista do PSD às eleições europeias e um conjunto generoso de bloggers que foi colocando questões, opinando, debatendo. Como houve essa possibilidade de transmitir o debate em vídeo, a cobertura em texto foi menos visível. Ainda assim, por exemplo, Rui Castro foi publicando algumas notas bem humoradas no Blogue de direita da revista Sábado, destaco uma nota: “Rangel diz que deve ser a única pessoa em Portugal que se afirma federalista. João Gonçalves acrescenta o Dr. Soares. Rangel confirma e diz que já o felicitou por isso. João Gonçalves diz que o Dr. Soares também já felicitou o Paulo Rangel por esse motivo e que é aí que reside o problema”. Ficamos a saber no blog da Sábado que João Gonçalves, do Portugal dos Pequeninos, apoia o candidato do PSD “não por razões programáticas - onde discorda em absoluto do candidato -, mas por razões pragmáticas”. No Cachimbo de Magritte, Maria João Marques comenta: “Estamos a regressar ao espírito da Idade Média: contam mais as relações pessoais do que as relações territoriais. Criticam-se os alargamentos à pressa e fala-se de federalismo. (...) Paulo Rangel mostra várias reticências à entrada da Turquia na UE, sem dizer que sim mas recomendando um plano B... vamos a ver se o Henrique Raposo se fica. Paulo Rangel garante-me que está na direita do PSD. Estou comprada”. Noutro momento do debate, e no blog O Insurgente, Rodrigo Adão da Fonseca conta que “Paulo Rangel defende uma prioritária integração na União dos Balcãs; de imediato, a Croácia, quando possível, a Bósnia e a Albânia (...). Rangel recorda que na sua essência a UE serviu para consolidar a paz na Europa, e que, desta forma, se poderia patrocinar, a prazo, uma pacificação da única região que viveu um cenário de guerra, no continente, após a 2.ª Guerra Mundial”. Assim vou acompanhando, noite dentro, este encontro ao vivo no Nicola entre a Europa do PSD e os blogues - encontro onde Paulo Rangel, citado pelo ABC do PPM, reconheceu uma verdade incontornável: “Os blogues são a prova provada que a política de massas desapareceu”. O PSD toma a dianteira nesta coisa da campanha 2.0...
publicado por PRD às 00:24
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Segunda-feira, 18 de Maio de 2009

Passado & presente

O passado, ou a memória, por uma vez - 3 blogues diferentes permitem-me esta crónica hoje. Permitem-me ir ao passado vero presente: «O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Nao há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia».

Pensam então que são palavras de ontem ou de hoje num qualquer blog? Nada disso, são palavras de Eça de Queirós, em 1871, recuperadas por Nuno Dias da Silva, no blog A Civilização do Espectáculo, e retiradas do livro «Perceber a crise para encontrar o caminho», de Vítor Bento.

Curiosamente, é de novo a Eça de Queiroz que vou parar com Paulo Tunhas no blog ABC do PPM. Por causa de uma coluna que escreve, Paulo lembrou-se de “uma cena óptima d’Os Maias. Quando Ega e Cruges vão a casa de Dâmaso Salcede (...) e deparam-se, na sala, em cima de um contador, com um feminino sapatinho de cetim. A razão da extravagância de ele lá estar é típica do Dâmaso. Ele ouvira um dia Carlos da Maia dizer que “em todo o quarto de rapaz deve aparecer, discretamente disposta, uma relíquia de amor…”. E vai daí pespegou com o toque da passagem feminina à vista de todos, para que não houvesse dúvida. A exibição da intimidade é, na maior parte dos casos, ridícula, e, nos que sobram, pior. E o “sapatinho de cetim” pode não ser exactamente, é claro, um “sapatinho de cetim”.

Para bom entendedor, meia palavra basta – e daqui sigo para o Delito de Opinião e Teresa Ribeiro, que sobre isto da exposição e da intimidade escreve um brilhante post sobre o seu gosto pelas autobiografias e vai buscar de novo o melhor de todos os passados: “Sobre o seu diário Conta-Corrente, Vergílio Ferreira escreveu: "Que me leiam um romance não me perturba, mas não que me leiam a mim". Esta ambivalência que os leva a expor-se mas sempre em esforço torna tudo muito mais interessante. Não me é, pois, indiferente enquanto leitora que uma autobiografia seja assinada por um homem ou por uma mulher. Se é verdade que a persona do autor é que determina a decisão de o ler, o seu género (ou deverei dizer sexo?) irá condicionar a forma como o leio”.

E volta mais à frente a Vergílio Ferreira: "O desejo de desabafar", diz ele, "não é propriamente sublime". Et voilà! Fica explicado. Eduardo Prado Coelho chamava à escrita diarística "um devir feminino". A escrita confessional não é, pois, coisa de machos, dizem eles. Tanto melhor para nós. Porque quando eles cedem são irresistíveis”.

E hoje fico assim – no passado, a ver o presente o futuro bem à minha frente...

publicado por PRD às 00:23
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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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