Quinta-feira, 30 de Abril de 2009

Blog da Semana: Grand Monde

"Nestes últimos cem anos, a história da arte, cujo sentido tem escapado ao entendimento dos especialistas tem sido a história daquilo que pode ser fotografado." – esta frase de André Malraux podia ser o mote do blog que constitui a minha escolha da semana. Foi lá, de resto, que encontrei a frase, e nestes dias que envolvem feriados, e em que muitas vezes ficamos em casa sem saber o que fazer, um blog pode transformar-se numa viagem, ou mesmo em múltiplas viagens. É o caso deste Grand Monde, Grande Mundo, cujo endereço é mesmo http://grandmonde.blogspot.com/.

Trata-se de um profundo e consistente blog de fotografia e sobre fotografia. De fotografia porque a reproduz, e a revela, e a edita na medida em que escolhe autores, exposições, obras, estilos, e há uma clara escolha de imagens e de ideias.

Mas também um blog sobre fotografia – análise, pensamento, uma profunda ligação à História. No editorial do blog diz-se um pouco mais: “Este espaço pretende ser de opinião e entretenimento. “Grand Monde da imagem e da fotografia em Portugal” porque o mundo da imagem e da fotografia é muito grande e com a blogosfera esse mundo está cada vez mais, literalmente, nas nossas mãos. Vou tentar escrever sobre fotografia e imagem. Vou também publicar outras postagens mais dispersas que pelo facto de estarem inseridas noutras temáticas, que não da imagem e da fotografia, nem sempre chegam ao nosso conhecimento. Eu sou a Ângela Camila Castelo-Branco e o Grand Monde é o mundo da imagem e da fotografia”.

E lá está: com a precisão e a dedicação da apaixonada, Ângela trata a fotografia com amor e carinho, e quando percebe que faz sentido explorar um tema em profundiade, não hesita. O blog, graficamente, é de uma extrema simplicidade, o que permite com facilidade passear pelas imagens e pelas histórias que contam.

Na zona final do blog, que é todo construído de cima para baixo, encontram-se links para os mais relavantes espaços mundiais dedicados à fotografias, sejam galerias, museus, centros de imagem, arquivos, até algumas empresas e sites pessoais.

Tudo escolhido por quem evidentemente sabe da matéria. É por isso um espaço precioso para quem gosta de fotografia – isto é, para quem gosta de imagem muita para lá das fotos de fim de semana em família. Para essas, bom, estão aí três dias, é aproveitar...

 
 

publicado por PRD às 17:11
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Quarta-feira, 29 de Abril de 2009

Bloco central

É verdade que uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade e a Internet é pasto fácil desta propagação, mas neste caso parece que a blogoesfera não é tão culpada. Porque é verdade, como bem cita Daniel Oliveira no Arrastão, que Manuela Ferreira Leite disse na SIC Noticias: “Eu sentir-me-ia confortável com qualquer solução em que eu acredite, em que eu acredite que a conjugação de esforços e, especialmente, a conjugação de interesses, interesses no sentido do país, são coincidentes”.

Daniel comenta, depois da líder do PSD desmentir e fazer um diz que não disse, que “ao contrário do que muitos pensam, é indispensável, em política, saber usar a língua materna”. Um dos que diz que não disse foi Pacheco Pereira no seu blog Abrupto: “Não é segredo para ninguém que uma das etiquetas que sempre se quis colar a Manuela Ferreira Leite e ao PSD é a do "bloco central", no mesmo exacto sentido pejorativo que o Bloco de Esquerda dá a essa expressão. Diga o que disser, basta a mais pequena possibilidade de se fazer uma "interpretação forçada" e viciada, e lá vai tudo pela interpretação atrás para criar um "caso". A patrulha nos jornais e nos blogues seguirá o rebanho, igualmente a dizer "eu sempre disse que..." Pois disse, só que Manuela Ferreira Leite nunca o disse e tem-no sempre negado com vigor. Mas com ela há sempre uma fábrica de "casos", não há jornalismo”.

E pronto, o mensageiro é culpado, como é do agrado dos polticos, e de Pacheco Pereira em particular. Com o advento dos blogues, há cada vez mais mensageiros. Paulo Morais, no Blasfémias: “Ferreira Leite quer fazer passar a ideia de que viabilizará um Bloco Central, mas dizendo que não o fará OU Ferreira Leite quer fazer passar a ideia de que não viabilizará um Bloco Central, mas dizendo que o fará. Se é a isto que chama Falar Verdade…”

Outro mensageiro da catástrofe, Bernardo Pires de Lima no 31 da Armada: “Não quero ser desagradável, mas acho que foi mau de mais. "Se perder, perdi". "Se ganhar, ganhei". (...) falta de garra. Eu diria mesmo, de vontade. (...) Este filme não é para a Dra. Manuela. Tirem-na deste filme”.

Realmente, o filme não é feliz. No Delito de Opinião, Pedro Correia diz o óbvio: “Manuela Ferreira Leite voltou a meter os pés pelas mãos”. E explica: “É um clássico, desde que a ex-ministra das Finanças ascendeu ao posto supremo do partido: os seus apaniguados tremem cada vez que abre a boca. Confirma-se: a senhora não é fadada para estas lides. O PS só pode agradecer ao PSD. Espero sinceramente que Sócrates não seja ingrato”. E o próprio Pedro Correia, depois de ler Pacheco Pereira, acrescenta com ironia e graça, ajudando-me a fechar o circulo: “Curiosa, cada vez mais curiosa, a simetria entre José Sócrates e José Pacheco Pereira. Um queixa-se da 'campanha negra' contra ele, o outro queixa-se da 'campanha 'contra a líder dele. Desta vez, ao menos, Pacheco dispara contra "os jornalistas" em geral, sem fazer discriminações: a 'conspiração' é global. Aqui entre nós, que ninguém nos ouve, isto anda tudo ligado. E o Elvis não morreu: foi raptado por marcianos”.

publicado por PRD às 19:10
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Terça-feira, 28 de Abril de 2009

O regresso de Salazar

Leio na net: Sem discursos, mas com cerveja, porco assado no espeto e música popular, foram inauguradas no centro histórico da cidade de Santa Comba Dão, as obras de requalificação do largo Salazar. Ora, o tema tem dado pano para toda a polémica, dado que a inauguração da obra foi marcada para o dia 25 de Abril.

Vítor Pimenta, no blog Avenida Central, acha que estivemos perante “um valente golpe de marketing para chamar peregrinos do Estado-Novo à capelinha do Presidente do Conselho. O Bloco de Esquerda, sem querer, só caiu na esparrela de lhe dar cobertura ao correr para censurar (...) a iniciativa. Devia ter tratado a coisa com mais sentido de humor”...

Ora, humor é ainda palavra difícil quando se fala de Salazar, ou quando se fala de quem mexeu com o país, como sucedeu com Otelo Saraiva de Carvalho. João Gomes de Almeida no Risco Continuo concorda com João Pereira Coutinho que escreveu que, sendo Salazar filho de Santa Comba, "a terra que se entenda com ele", e remata: “Não vamos apagar nem branquear a história - há coisas mais importantes para pensarmos do que a promoção a coronel do Otelo e o largo Salazar”. Já Emídio Fernando no blog Correio Preto chama-lhe mesmo uma “ironia da História”: “Na mesma altura que um grupelho de gente pretende homenagear um ditador, (...) Otelo Saraiva de Carvalho é promovido a coronel”.

Daniel Melo, no Peão, indigna-se com o facto de “uma praça atada ao nome dum dos ditadores mais lapa de sempre” possa ser “objecto de festividades no dia dedicado à Liberdade em Portugal”: “Parece um fado geográfico. E histórico: (o autarca de Santa Comba) diz agora que o cromo «faz parte da história»: nesse caso, revolucione-se a toponímia, há mais tiranos na caderneta. No fundo, no fundo, está tudo na imaginação dos homens. Ou melhor, na falta dela”. Na mesma linha segue Rui Pedro Nascimento, no Loja das Ideias, que até sugeriu uma ligeiríssima mudança: “talvez fosse mais lógico inaugurarem a dita praça no dia 24, fazendo um minuto de silêncio às 22h55m e começando o luto às 00:20m de dia 25”.

“Passámos da pura e simples manifestação de um saudosismo salazarista para o campo da provocação”, escreve José Carlos Guinote no Pedra do homem: “O autarca - do PSD registe-se - mostra de forma clara quais são as suas preferências. Em boa verdade esta coisa de ser eleito pelo povo não lhe agrada muito, o que ele preferia mesmo era ser nomeado pelo senhor Presidente do Concelho”.

Caminhamos para o dia do trabalhador e vamos deixando Abril para trás. Fechemos então com mais uma nota de ironia, que encontro no blog Brutális: “Não haja dúvidas que o ilustre autarca da mais ilustre terra que nos deu o mais ilustre governante que tivemos até hoje tem todo o direito de escolher o nome que bem entender para a praça (...). Claro que se eu fosse autarca e tivesse um aterro sanitário sem nome, uma das primeiras escolhas cairia sobre um dos ilustres supracitados, tanto o autarca como o senhor presidente do conselho...”

 

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Segunda-feira, 27 de Abril de 2009

35 anos depois

“Reparei que este ano houve mais rendições políticas à data do 25 de Abril, ou mais reconhecimentos da sua importância” – José Medeiros Ferreira reparou, eu também reparei. E voltou a haver debate e ideias. Por exemplo, Paulo Pinto Mascarenhas recupera a data para a direita: “Se há coisa que a direita nunca deveria ter permitido é que alguma esquerda se apropriasse das ruas e do golpe de estado, aliás assumido e oficializado por alguém que nada tem a ver com a esquerda, o general Spínola. Ninguém é dono de Abril".

João Távora responde a Paulo no Risco Contínuo: “sou dos que vivem neste dia um sentimento ambíguo, algo melancólico até. Se por um lado lhe reconheço o significado pela conquista (...) da liberdade de expressão, o 25 de Abril traz-me inevitavelmente à memória os sequentes meses de inglório combate por essa liberdade que nos ia sendo usurpada pela esquerda totalitária”.

No Insurgente, Miguel prefere reflectir sobre a própria ideia de democracia. Ele nota que nestas ocasiões “muitos dizem-se desiludidos com a subsistência de pobreza, iliteracia ou desigualdades várias. É frequente a conclusão que a “democracia não foi cumprida”. Um desiderato que considero absurdo. (...) Considero um erro grave, e potencialmente perigoso, atribuir ao sistema democrático objectivos que mais não são que escolhas democráticas. Como lembra o Miguel Morgado “o povo troca com facilidade a liberdade por pão”. Qualquer dia já não conseguimos separar o processo democrático do socialismo iliberal que nos empobrece e infantiliza diariamente”.

Por entre reflexões mais ou menos profundas, há quem escolha a data simplesmente para lembrar o ano de 1974 e responder à pergunta clássica: e onde estava no 25 de Abril? Ana Vidal, no Delito de Opinião, sentiu o que seguramente muita, mesmo muita gente, sentiu: “Esse dia, fulcral para a minha vida futura (...) foi vivido por mim como uma alucinante ficção, uma aventura inesperada numa qualquer twilight zone que eu desconhecia em absoluto, conduzida por um guião que podia ter saído da pena dos Monty Python. As razões desta alienação? É simples: em minha casa não se falava de política, pelo que eu e as minhas irmãs estavámos completamente a leste do paraíso. Aprendi no curso intensivo das ruas, da rádio e da televisão, nas semanas que se seguiram, tudo o que até aí me fora ocultado. Mas no "dia D", confesso, não percebi nada, a não ser que alguma coisa muito estranha se estava a passar à minha volta. E gostei da confusão, da alegria das pessoas, como qualquer adolescente que vê um turbilhão de novidades agitar a rotina, ainda que elas pareçam absurdas. (...) Os meses que se seguiram foram trepidantes, e quase tudo o que eu tinha como garantido até ali, deixou de sê-lo e mudou irreversivelmente. Para muito melhor, sei-o hoje. Mas a verdade é que a minha geração foi criada e educada para habitar um mundo que lhe desapareceu debaixo dos pés de um dia para o outro. Teve de apagar toda a matéria dada e seguir em frente, com nova cartilha”.

A cartilha, afinal, com a qual vivemos hoje, 35 anos mais tarde...

 

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Sexta-feira, 24 de Abril de 2009

Blog da Semana: “Quero andar a pé! Posso?”

“Quero andar a pé! Posso?”

A pergunta, gritada, exclamada, indignada, encontra-se no endereço passeiolivre.blogspot.com.

Do que se trata? Pois bem, trata-se de uma iniciativa de um grupo anónimo de cidadãos que, farto de ver o império automóvel tomar conta dos passeios, afinal dos espaços dos peões, decidiu agir. Criou um autocolante amarelo, bastante visível, que diz assim:

“Não pense só no seu umbigo. Respeite os peões ao estacionar”. E apela ao civismo dos condutores. O cartaz, é de um cartaz que se trata, está no blog – e quem quiser copia, imprime, e o blog sugere que cole no vidro dos carros que encontra mal-estacionados. A coisa é bem pensada e melhor feita: há regras para a colagem, onde se diz que “O autocolante só deve ser usado quando um veículo está estacionado no passeio, num local onde o estacionamento no passeio não esteja explicitamente autorizado pela sinalização, numa passadeira de peões, ou num local de passagem de peões”,

“deve ser colocado no vidro lateral do veículo (...), nunca no frontal, porque os restos do autocolante podem dificultar a visão do condutor, se o autocolante não for devidamente retirado”. E vai por aí fora com outras recomendações e conselhos.

O blog, lá está: o blog é o repositório de desabafos e contribuições de quem viu carros mal estacionados e fotografou, de quem andou a colar os autocolantes, de quem quer ser solidário com a ideia.

E a ideia tem esse efeito: chegarmos ao nosso carro e termos um papel amarelo colado no vidro e gritar “não pense só no seu umbigo”, bom, pelo menos envergonha...

O próprio blog esclarece que “pretende, através da utilização do autocolante já conhecido, clamar pela consciência cívica dos condutores e pela actuação das autoridades competentes na defesa de direitos reconhecidos na lei, não pretendendo de forma alguma apelar a qualquer tipo de dano nos veículos infractores”. Eu repito a morada para quem quiser imprimir o papel amarelo: passeiolivre.blogspot.com/

É a minha escolha da semana, com a respectiva declaração de intenções que por lá encontro:

“Os peões nas nossas cidades têm visto o seu diminuto espaço constantemente usurpado por veículos estacionados ilegalmente. Passeios totalmente ocupados, passadeiras bloqueadas e logradouros totalmente rodeados de carros estacionados impedem a passagem dos peões. Até carros a circular nos passeios são situações relativamente banais. Perante o laxismo dos cidadãos e a ineficácia conivente das autoridades, tentaremos alertar para cidades que envergonham”.

E lá está: “Quero andar a pé! Posso?”

publicado por PRD às 00:07
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Quinta-feira, 23 de Abril de 2009

Mais anos de escola

É seguramente uma boa notícia, mas em ano de eleições só lhe conseguem ver segundas intenções: o Governo anunciou ontem o aumento da escolaridade obrigatória para os 12 anos. Podemos gostar ou não gostar da politica de educação, mas é indiscutivelmente uma boa noticia. Jorge Ferreira, no Tomar Partido, chama-lhe um coelho saído da cartola e não concorda: “poderia ser uma boa medida se o sistema de ensino fosse outro, isto é, se ensinasse. Mas neste estado de coisas, trata-se apenas de um prolongamento da agonia educativa dos 9 anos anteriores. E tem uma enorme vantagem, oportunista, aliás, nestes tempos de crise. Atrasa a entrada de mais uns milhares no mercado de emprego durante três anos”.

No 31 da Armada, Carlos Nunes Lopes diz que “assim, tal como foi anunciado, de forma isolada, é um erro clamoroso que trará prejuízo ao nosso ensino. A Lei de Bases da Educação tem de ser revista de forma aprofundada, onde a escolaridade obrigatória de 12 anos esteja integrada de forma coerente e harmoniosa. Anunciar 12 anos de escolaridade obrigatória para 'amanhä' é uma irresponsabilidade”. Mas há quem discorde por motivos no minimo originais: António de Almeida, no Direito de Opinião, depois de reconhecer que também o PSD defende esta medida, escreve o seguinte: “A liberdade pressupõe o respeito por alunos que legitimamente não queiram estudar, mas o Estado teima em decidir o que é melhor para nós. Infelizmente não faz o que deveria, aumentar o grau de exigência necessário para concluir os diferentes ciclos com aproveitamento”. Já Tiago Moreira Ramalho, no corta-fitas, acha a medida incoerente porque, escreve, “No nosso país, a partir dos 16 anos é possível trabalhar e ser responsabilizado pelos actos cometidos. Ora, o grau de responsabilização que a sociedade dá a um jovem de 16 anos é incompatível com este paternalismo que exige que esse mesmo jovem tenha de estudar”

No blog O Insurgente, a critica de Miguel vai noutro sentido: “Num governo que governa para as estatisticas e que acha que cosegue mudar comportamentos por decreto, é perfeitamente natural que ache que a extensão da escolaridade obrigatória para 12 anos nos vai tornar mais “educados” e “competitivos”. As escolas e o sistema de ensino vão ser os mesmos (...). Se já é difícil garantir a disciplina de criancinhas mais novas, imaginem o que vai acontecer com criancinhas maiores (com mania que já são adultos) e que não desejam e/ou têm vocação para o estudo?”

Curiosamente, os blogues ligados à educação, sempre tão reactivos em matérias desta natureza, e sempre prontos a disparar contra o Governo, estão prudentemente em silêncio. Por coincidência ou não, hoje João Carvalho, no Delito de Opinião, assina uma espécie de estado geral da nação educativa e este parágrafo diz muito do que temos vivido neste domínio: “Em 35 anos de regime, Portugal teve 28 ministros da Educação, dos quais só três levaram uma legislatura do princípio ao fim: Marçal Grilo, Roberto Carneiro e (por antecipação) Maria de Lurdes Rodrigues. Esta instabilidade, como é evidente, espelha bem o insucesso da Educação”. É isso mesmo 35 anos, 28 ministros. Estamos conversados.

publicado por PRD às 00:06
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Quarta-feira, 22 de Abril de 2009

Sócrates na TV

Sócrates na RTP – como diria o anuncio do café, que mais poderia ser?

Difícil encontrar quem o elogie, fácil encontrar quem o critique. João Gonçalves, no seu tom habitual, recorda-se de “um cliché proferido num célebre debate entre dois candidatos presidenciais franceses quando um diz "o senhor é um homem do passado" e o outro responde "e o senhor é um homem do passivo." Sócrates, o admirável líder, consegue ser tudo ao mesmo tempo. Do passado, do passivo”. No Delito de Opinião, Pedro Correia começa pelas perguntas: “a administração pública funciona melhor? Há menos corrupção? A saúde melhorou? A educação conheceu grandes progressos? A justiça progrediu?”. Por aí fora, para responder: “Ninguém pode ter dúvidas quanto às respostas negativas - a todas estas questões ou grande parte delas. Lembrei-me disto enquanto ouvia a entrevista de José Sócrates à RTP, em que o primeiro-ministro exibiu a arrogância de sempre: não proferiu uma só palavra a reconhecer que errou, neste ou naquele domínio. Como se vivesse num mundo de ilusões”.

Outras ideias soltas, Nuno Dias da Silva no Civilização do Espectáculo destaca o elogio de Sócrates ao director do Diário de Noticias: “o comovente elogio”, como lhe chamou, “no seguimento do artigo que João Marcelino escreveu a "malhar" no telejornal das sextas-feiras da TVI. (...) Processa um jornalista do jornal da Avenida da Liberdade, que alegadamente o difama e, logo a seguir, elogia perante milhões de portugueses o director do mesmo jornal. Desconcertante”.

Remexido, no blog A Toca do Remexido, prefere observar a performance do governante: “Engane-se quem pense que Sócrates está acossado e cansado. Demonstra uma tenacidade e uma capacidade de combate invejáveis. Goste-se mais ou menos do Homem (...), há que reconhecer que, neste momento, não parece haver rival que se lhe iguale em termos de combate político”

A Blondewithaphd, desta vez também se dedicou à política. Para dizer: “arrepiam-me até à medula declarações como "o que os cidadãos esperam das lideranças políticas é que as guiem e as conduzam" (...). Talvez pela minha ascendência germânica, mas lembro-me sempre que em Alemão existe um verbo "führen" de que procede um substantivo, agora maldito, "Führer", guia, condutor. Eu como cidadã não espero que me conduzam. Inversamente, espero das lideranças políticas soluções para problemas partilhados no plano social, espero ideias de progresso, leis que garantam liberdades e garantias cívicas, representação. Condução não”.

E conduzindo a crónica para o final, fecho com Henrique Raposo no

 Clube das Republicas Mortas. Analisa a entrevista ponto a ponto, mas para variar dos temas já falados, escolho o ponto 6: “Sinal do nosso atraso económico e da falência do nosso modelo económico: passou-se imenso tempo a falar de auto-estradas, como se a auto-estrada fosse a nossa salvação. As auto-estradas podem dar jeito às construtoras, mas já não dão jeito ao país. Já chega”.

O que fica desta olhar rápido é uma ideia de desgaste politico, de desgaste de imagem. Ainda assim, nada que mude o essencial do país politico que temos: a alternativa, nem se vê onde está.

publicado por PRD às 00:05
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Terça-feira, 21 de Abril de 2009

De viagem até Bruxelas

Foram 18, no total, todos eles bloggers, nem todos muito conhecidos, que aceitaram o convite do eurodeputado social-democrata Carlos Coelho para conhecer o Parlamento Europeu. Ou seja, entendeu o PSD que os autores de blogues deveriam ser tratados como os jornalistas, que são frequentemente convidados para este tipo de programas. Parece-me um excelente principio e lá foram até Bruxelas nomes como André Abrantes AmaralAna Margarida CraveiroIsabel GoulãoJoão GonçalvesJoão VillalobosLeonel Vicente  e João Távora, entre outros.

Tive a curiosidade de ver como cada um fez face a este convite, como o descreveu, como sobre ele escreveu quando escreveu.

E confesso que terminei esse trabalho com um sorriso irónico: na verdade, é muito fácil estar num blog a dar palpites, opiniões, ideias, a criticar os jornais e as televisões. Mas no fundo somos todos mais iguais do que parecemos, e acabamos a cometer muitas vezes os erros que criticámos.

Rua Castro, no blog da direita da Sábado, fala do “extraordinário programa preparado para nós em Bruxelas” mas prefere seguir o instinto do estômago e conta o “aliciante roteiro gastronómico da viagem”. Se isto fosse publicado num jornal, ai Jesus que estava tudo comprado pelos pecados da gula... Aliás, ele próprio diz: “parte do sucesso da viagem passou também pelo estômago”. Leonel Vicente, no blog Memória Virtual, leva a coisa mais a sério e relata os encontros todos que a delegação teve. Confesso que os relatos são um pouco entediantes, por isso poupo essas passagens. Do blog Blasfémias foi Gabriel Silva, que de alguma forma resumiu a intenção da excursão: “os deputados europeus estão preocupados com a fraca imagem, senão mesmo irrelevância, que o Parlamento Europeu tem junto do eleitorado”. Carlos Coelho, o anfitrião, falou de «deficite de informação». Gabriel responde: “creio bem que em política nunca existe tal deficite. Não é por o próprio orgão entender ser tão relevante que o mesmo se terá, a bem ou a mal, de tornar relevante também para os cidadãos”.

Num dos textos sobre a viagem, no Corta-fitas, João Villalobos duvida das intenções da coisa: “duvido que consiga conduzir alguém a uma urna, excepto aquando da cremação de algum parente”. E Carla Hilário Quevedo, a bomba Inteligente, reduz os três dias a um “Adorei, adorei, adorei”. Já a Miss Pearls, Isabel Goulão, junta-se a Pedro Lomba nesta observação: "(...) A primeira oportunidade de uns minutos à porta fechada com a eurocracia. Sempre achei que só há uma maneira de desmistificar o poder: passar algum tempo com ele. Os políticos são iguaizinhos a nós. Os políticos, em rigor, não existem. Existe o sr. João e o sr. Avelino. Políticos esforçados e relapsos, aconselháveis e desaconselháveis. Não os julguem em grupo mas sim um a um”.

Se calhar devia dizer o mesmo dos bloggers – mas na verdade, leio os relatos da viagem dos 18 e só consigo esboçar um vago sorriso. Ou como diz o outro: “falam, falam, mas eu não os vejo a fazer nada...”

publicado por PRD às 00:04
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Segunda-feira, 20 de Abril de 2009

Marido e mulher

Andam aí recadinhos entre São Bento e Belém, e os atentos observadores da blogoesfera não dormem na forma. Cavaco falou, Sócrates terá respondido. Paulo Pinto Mascarenhas vê aqui “Sinais de fogo”. Cita o primeiro-ministro: “o que o país não precisa é da política do recado, do remoque, do pessimismo, do bota-abaixismo, da crítica fácil”. E depois comenta: “O debate político e institucional em Portugal é um jogo de adivinhas feito por códigos que só os jornalistas especializados parecem conseguir decifrar. Depois não se queixem de a abstenção estar a crescer”. Paulo Jorge Vieira, no Cinco dias, pede ajuda: “Alguém me explica o que significa a “política de recados”? Estará Sócrates a referir-se às intervenções de Cavaco? Mas estes recados não são o habitual entre São Bento e Belem? Não tem sempre sido assim, nas relações entre governos e os presidentes?”.

No Delito de Opinião, Cristina Ferreira de Almeida prefere uma análise mais detalhada: “O Presidente só disse coisas certas, mas disse-o fora de tempo, a meu ver. Deveria ter dito tudo muito mais cedo”. Desenvolve depois um raciocínio que teria conduzido, em tempo útil, à demissão do Governo e, adivinhando comentários, antecipa-se: “Já sei outra coisa em que estão a pensar: não se demite o governo numa altura de crise porque não se pode ficar sem governo o tempo necessário para novas eleições. Mas para isso há também uma solução. Chama-se governo de iniciativa presidencial. Não cai bem? Pois, mas acredito que o Bush também nunca terá pensado que um dia ia fazer nacionalizações. A verdade é que, para grandes males, é preciso grandes remédios, e não grandes palavras”.

Nem toda a gente observa as trocas de cromos entre Cavaco e Sócrates da mesma maneira. Maria João Marques, por exemplo, no cachimbo de Magritte, até pensa que “O país precisa de recados - vulgo comunicações ao país do Presidente da República a evidenciar o desnorte governativo - e seria muito bom que o (des)governo os escutasse”. Vai directa ao primeiro-ministro: “Atacar Cavaco Silva é uma estratégia suicida de Sócrates. (...) Numa altura em que as sondagens penalizam Sócrates e o PR continua confortável, parece-me que comprar uma guerra com Belém só pode ser prejudicial. Ou está tudo de cabeça perdida neste (des)governo ou Sócrates sente-se tão fraco e sem alternativas que sabe que qualquer estratégia que tente lhe fará dano e resolveu disparar em todas as direcções”.

No meio de opiniões tão diferentes, acabo por sorris com Tomás Vasques porque titula um post com a feliz designação “Canal História” e cita uma frase dita por Ramalho Eanes há mais de 20 anos: “Isto do Presidente e do Governo é como marido e mulher na lide da casa. Mesmo que o marido diga isto ou aquilo, na casa é a mulher que manda”.

Passados tantos anos, a razão continua do lado do General...

publicado por PRD às 00:02
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Sexta-feira, 17 de Abril de 2009

Blog da Semana: Duas ou Três Coisas

Começou assim, no dia 2 de Fevereiro deste ano: “Por que diabo se lembrou o embaixador de Portugal de criar um blogue (...)? Imagino que essa deva ser a pergunta, de legítima curiosidade, de quantos chegam a este primeiro texto, publicado no dia da minha chegada a Paris. Pois bem, a resposta é simples: porque entendi que poderia valer a pena testar esta via como forma de dar a conhecer, a quantos considerem minimamente interessante sabê-la, a minha perspectiva sobre factos que, de certo modo, se liguem à actividade que actualmente exerço, bem como sobre diversos aspectos da vida e da actualidade portuguesa ou luso-francesa (...) que entenda valer a pena sublinhar aos potenciais leitores. E algumas notas pessoais, que me pareça curioso deixar expressas. Que fique bem claro que este não é um portal oficial: para isso, a Embaixada tem os seus veículos próprios de informação e de diálogo”.

Assim ficou clara a ideia do embaixador Francisco Seixas da Costa quando abriu o blog “Duas ou Três Coisas”, um espaço que rapidamente se transformou numa plataforma de ideias, informação, noticias mesmo, sob esse titulo: “Notas pouco diárias do embaixador português em França”. É o meu destaque da semana, que podem encontrar em

duas-ou-tres.blogspot.com, e que obviamente reflecte a personalidade viva do seu autor, um diplomata mas também um politico, pertenceu a dois governos de António Guterres, e um homem que está profundamente ligado aos assuntos europeus, nomeadamente a alguns dos seus mais relevantes Tratados. Foi embaixador de Portugal no Brasil e agora representa o nosso país em França.

Para que se perceba que o blog é bem mais rico do que se fosse uma voz oficial da diplomacia, e já que a Janela Indiscreta passa a uma hora de trânsito intenso e filas paradas, deixo este remate final com uma história que leio no blog de Francisco Seixas da Costa:

“Uma longa "seca", ao final da tarde de ontem, numa auto-estrada que conduz a Paris (...) dá-me ensejo para relatar uma historieta que ouvi, há dias, durante um jantar. Era na Polinésia francesa, numa ilha cujo nome me escapou, mas que teria alguns quilómetros de auto-estrada. O meu conviva contou que conduzia a boa velocidade por essa via quando, de repente, começou a observar que os automóveis iam abrandando, até pararem mesmo no meio da própria auto-estrada. Surpreendido, até porque não havia nenhuma razão aparente para esse movimento colectivo, estacou também o seu carro e dirigiu-se ao condutor da viatura que seguia à sua frente, inquirindo sobre a razão de tão estranho procedimento. A resposta sintetiza toda a história: "Sabe, nós cá na ilha paramos sempre para ver o pôr-do-sol"!”.

A ideia seria boa, a esta hora da tarde, se não fosse diária com sol ou com chuva. Mas demonstra bem como é este “Duas ou Três Coisas” do embaixador português em Paris: diplomático mas cheio de interesse. Vale a pena segui-lo de perto.

publicado por PRD às 18:56
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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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