Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2008

Blog do ano 2008: Ouriquense

Ultimo dia do ano, dia certo para escolher o meu blog do ano. Não é o blog da semana, nem o do mês – é aquele que marcou o meu ano 2008, e não necessária nem essencialmente por ser actual, diário, em cima do acontecimento.

Nada disso: a minha escolha resulta da soma de critérios que decidi aplicar este ano. Escolhi um blog anónimo – para contrariar a ideia dos blogs anónimos cobardes e mentirosos. Este é anónimo e sério. Escolhi um blog só de texto – para voltar à origem e tudo fazer sentido. Escolhi um blog onde a língua portuguesa, a imaginação, e a criatividade mandam e orientam tudo o resto.

Escolhi, então, como blog do ano da Janela Indiscreta da Antena 1, o blog “Ouriquense”. Podem encontrá-lo em ouriquense.blogs.sapo.pt/.  Um blog que começou assim, em Julho passado: “Entrei no cacilheiro de bicicleta e fiz a travessia do rio ainda de madrugada, sem olhar sequer uma vez para Lisboa. Quem voltou a não apreciar esta minha dimensão teatral foi o meu irmão, a quem pedi que me levasse os pertences de carro. Pedalei até Alcácer do Sal, onde cheguei já de noite. Aí pernoitei, fazendo-me à estrada ao raiar do dia. Consegui chegar  à vila ao fim da tarde, isto é, ontem. O meu irmão já lá não estava, mas deixou-me os pertences na casa que aluguei, incluindo o computador e a ligação wireless. Eremita ma non troppo.”.

Este eremita, falso ou verdadeiro, não me interessa, olha o mundo a partir de Ourique desde esse dia de Julho. É de lá que vê Portugal, o mundo, e a si próprio também. O Ouriquente pensa e sente assim: ”Por mais que viva, não sei se o meu tempo se estende até ao antigamente. Não me lembro de ver o largo como o centro do mundo. Pode ser que Ourique não seja como Santiago do Cacém. Não havia um centro, mas dois ou três. E hoje o centro social da vila fica mesmo à entrada - para quem prefere interpretar o facto como um sinal de boas vindas - ou à saída - interpretação que aponta para um desejo de emigrar sublimado. Mas se o largo nunca chegou a fazer de largo, antigamente a cozinha era mesmo o centro do mundo”. O Ouriquense “é da província e luta contra a hegemonia dos blogues de Lisboa, do Porto e também contra Vital Moreira, esse provinciano não assumido. Quanto ao número de visitas, o blogue falhou, mas o seu autor alimenta a convicção profunda de este ser o seu projecto mais maduro desde que se iniciou na blogosfera”. O Ouriquense, por fim, reconhece que “Falta a Ourique dimensão. Não me refiro à massa crítica para atrair os agentes culturais, mas a um conjunto de ruas grande o suficiente para funcionar como um labirinto e albergar uma diversidade de ofícios  - porteiros, prostitutas, polícias, paquetes e pornógrafos - que permitam a um homem perder-se e ter encontros fortuitos que o distraiam, como em After Hours”.

Ainda assim, e desconfiado de que o Ouriquense vive numa terra maior do que Ourique e tem horizontes mais largos do que os que dominam a terra alentejana, não tive duvidas em confirmar que aquele é o blog do ano. Por tudo – mas especialmente por esse quase nada que é o talento raro para criar, imaginar, e viver o que na verdade não se vive mas parece que se pode viver. Melhor é impossível. E venha então o tal do 2009...

publicado por PRD às 10:27
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Terça-feira, 30 de Dezembro de 2008

2008 (Parte II)

Basta observar as páginas de opinião dos jornais para se perceber o fenómeno. Se há alguma renovação nos nomes que assinam colunas de opnião, alguma mudança, algum fio que junte esses novos cronistas, a palavra que os une é mesmo “blog”. O mundo dos blogues constitui hoje o tubo de ensaio, o laboratório, dos novos colaboradores da imprensa, comentadores de televisão e de rádio. Nalguns casos, no dia em que se estreiam na imprensa, deixam o blog de lado – e nessa medida, o caso exemplar é o de Alberto Gonçalves, sociólogo que escrevia em blogues até ao dia em que é descoberto pelo Diário de Notícias e pela revista Sábado. O humilde blogger sem pretensões a sair do seu cantinho a norte passou rapidamente ao estatuto de figura de referência e, claro, esqueceu o mundo dos blogues. Junta-se ao generoso conjunto de autores que pretendem ser os Vascos Pulidos Valentes do século XXI, não se desse o caso do talento não poder ser objecto de copy-paste. Será, portanto, mais uma cronista de imprensa no vasto universo que temos. E neste domínio, perdoem-me o apontamento pessoal, saudades mesmo tenho do Fio do Horizonte, de Eduardo Prado Coelho, que terá sido o primeiro blog português que nunca chegou a ser um blog. Mas adiante...

Pessoalmente, em 2008 não deixei de ler os autores cujo prazer e liberdade radicam nas suas páginas de internet: Maradona ou Rogério Casanova, Vasco Barreto ou Besugo, Ana de Amesterdam, Hugo Gonçalves, Sofia Vieira, Rodrigo Moita de Deus, Medeiros Ferreira, Eduardo Pitta, Filipe Nunes Vicente, e tantos, tantos outros que não vou listar para não parecer que faço um top ten.

Não faço qualquer top. Tendencialmente, estou de acordo com Pedro Mexia, que no seu blog Estado Civil, escolheu os melhores blogues do ano. São os seguinte:

A causa foi modificada
Cruel vitória
E Deus criou a mulher
Irmão Lúcia
Tame the Kant / Life and Opinions of Offely, Gentleman
Melancómico
Ouriquense
Pastoral portuguesa
Vontade indómita
Voz do deserto

Todos, excepto o Cruel Vitória e o Tame the Kant, estão nos meus favoritos. Muitos mais podiam estar nesta escolha. Para o mal ou para o bem, decidi escolher um único blog do ano 2008. Mas essa noticia fica para amanhã. Para hoje, fica uma frase de Miguel Marujo no blog Cibertulia que, de alguma maneira, descreve o estado virtual em que vivemos: “Na idade em que estamos permanentemente em contacto, refugiamo-nos em sms, e-mails... ou posts. Dizemo-nos à distância, parabéns”. E assim chegamos ao final de 2008...

 

publicado por PRD às 18:23
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Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008

2008

Estamos no tempo de todos os balanços, de olhar o ano e ver o que foi, como foi. Olhar 2008 pelos olhos da blogoesfera é como olhar um espelho côncavo ou convexo – isto é, um espelho deformado. No mundo dos blogues, a relevância de um tema não é proporcional à relevância nacional, e quase diria que há uma agenda própria, paralela, que domina o debate. Generalizar é sempre perigoso num universo onde a variedade e a individualidade são as mais-valias dominantes, ainda assim é possível fazer algumas considerações.

Por exemplo, dizer que a crise económica internacional foi debatida pelos mais interessantes autores dos nossos blogues não tanto pelas perspectiva imediata, género “o que é que vai acontecer?”, mas antes pelo que a crise nos trouxe de novo ao debate ideológico: o capitalismo acabou? Marx pode voltar, está perdoado? O liberalismo é compatível com um estado forte e interventivo?

Perguntas destas, e teorias que lhes dão respostas, dominaram a blogoesfera num ano obviamente marcado pelas eleições americanas. No terreno puramente nacional - e além dos óbvios picos desportivos, seja na liga ou nos Jogos Olímpicos -, o tema do ano terá sido mesmo o da educação.

Se se fizesse um levantamento do universo de blogues portugueses face à profissão dos seus autores, estou convencido que os professores e os jornalistas disputavam o primeiro lugar – não espanta, portanto, que a politica do Governo PS e a guerra travada pelos professores domine o debate. Do mesmo modo, tudo o que envolve comunicação social ganha foros de primeira análise – seja a concessão do 5º canal ou os debates de segunda-feira na RTP-1, seja o projecto de um novo jornal ou os modelos de financiamento do serviço público.

Aliás, a televisão mantém ainda o primeiro posto como plataforma inspiradora de posts – basta que haja uma entrevista a um político, um debate, uma gaffe, qualquer coisa que a televisão passe, e logo se sente o impacto no mundo dos blogues. De alguma maneira, há aqui um lado complementar entre meios e plataformas de comunicação que marca este tempo de passa. Por isso, na primeira de 3 crónicas de balanço do ano, não posso deixar de sugerir uma visita ao blog do escritor José Luís Peixoto, para ler o texto Televisão a preto e branco. De que deixo este bocadinho delicioso:

“Hoje, o meu filho e as minhas sobrinhas têm televisão por cabo. Têm canais que só passam desenhos animados. Há muitas telenovelas diferentes. Às vezes, no Natal, conto-lhes a história de como, quando eu era da idade deles, tinha uma televisão a preto e branco com uma tela azul de plástico. Nem o meu filho, nem as minhas sobrinhas sabem a minha idade ao certo. Um dia, os meus filhos saberão que, hoje, ainda sou novo. Nesse dia, o meu filho e as minhas sobrinhas contarão as histórias de hoje a crianças que não conhecerei. Talvez nesse dia eu esteja, na cozinha, com as minhas irmãs, os meus pais e a minha avó a ver a nossa televisão a preto e branco”.

A cores ou a preto e branco, a caixinha inspira. Os blogues não lhe escapam.

publicado por PRD às 18:20
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Quarta-feira, 24 de Dezembro de 2008

Natal

24 de Dezembro, véspera de Natal, para muitos ainda um dia de stress, compras de última hora, preparativos, uma ultima viagem, uma última corrida. No mundo dos blogues, começa a baixar a produção de posts, o debate abranda, há outras prioridades. Ainda assim, consigo encontrar um bom relato desta lufa-lufa da época. Escreveu Tiago Moreira Ramalho no Corta-Fitas:

“Gente atulhada de sacos a correr de um lado para o outro, olhos cansados, pernas tremendo, braços doridos. no hipermercado, mulheres a vasculhar numa gaiola sem tampo, quais abutres, buscando o pijama tamanho L que estava na promoção leve 3 pague 2. Enervado, saí dali em busca de um faminto pão com chouriço (...) e no caminho de alguns metros consegui fazer a padeira de Aljubarrota revirar-se no caixão com tanta porrada que dei. Depois apareceu uma velhinha com a conversa do há tanto tempo e do tempo que passa rápido. Rapidamente fugi novamente para a carne e depois para as bananas. No fim, um pedacinho de felicidade no meio de tamanho inferno: uma estante com montes de DVD's antigos a 1,59€, comprei uns cinco. Finalmente, Casa”.

Outro stress, encontro no blog Riscos e Rabiscos, de uma professora primária: “As crianças andam todas excitadíssimas devido aos preparativos para o Natal. É a realização de enfeites para decorar a escola, são os ensaios para a apresentação da festa de Natal da escola e a troca de prendas entre si. (...) Tenho andado atarefadíssima com os preparativos da festa de Natal do colégio. É que como se não bastasse andar feita barata tonta a ensaiar as cinco turmas, ainda andei a ver testes até às duas da manhã e a fazer avaliações até há uma hora atrás”.

Talvez para contrariar o espírito, vale a pena seguir a profissão de Natal que José Mendonça na Cruz assinou no Risco Contínuo. E diz assim:

“O Natal não é quando um homem quiser, foi quando Deus quis, no dia em que nasceu Jesus Cristo. Podem ficar com os Outubros de 1917, os 1 de Janeiro das Sierras suas mãezinhas, e os 31 de Janeiro e outras datas aziagas.  O 25 de Dezembro não levam.

O Natal não é a festa da família, como os limpos heróis da Primeira República sugeriam ao povo, enquanto tosquiavam padres e lhes penduravam símbolos em gestos precursoramente nazis. O Natal é a celebração do nascimento de Cristo. Foi exactamente por isso que juntou tantos”.

E juntando tantos, junto-me eu também - fecho a janela e vou dedicar-me ao bacalhau, aos sonhos, às broas, ao peru e seu recheio. E volto depois, provavelmente um quilito mais gordo. A crise fará com que emagreça mais tarde, seguramente. Entretanto, boas festas...

publicado por PRD às 00:18
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Terça-feira, 23 de Dezembro de 2008

O "professor" Mário Nogueira

Terá sido o último momento político do ano no que toca à educação: A Plataforma Sindical de Professores entregou ontem no Ministério da Educação "o maior abaixo-assinado de sempre" de professores, contra o processo de avaliação de desempenho e o fim da divisão da carreira em duas categorias. Terão sido recolhidas e entregues cerca de 70 mil assinaturas. João Pinto e Castro, no blogexisto, acha que os professores baixam a fasquia com isto do abaixo assinado, visto que “Já tiveram a maior manifestação de sempre e a maior greve de sempre. (...) Assim de repente, ocorrem-me outros records. Por exemplo: Mário Nogueira é o professor há mais tempo sem dar aulas de sempre. E a contagem dos manifestantes e dos grevistas foi o maior logro informativo de sempre. Finalmente, o movimento vai saldar-se pela maior derrota sindical de sempre. Para se consolarem, entrarão sem dúvida para o Guiness”.

Mário Nogueira também não é muito querido a Tomás Vasques, que lhe nota uma “voz inconfundível de delegado sindical da construção naval dos anos 70”. E José Simões, no blog Der Terrorist, espera que Mário Nogueira entre para o Guiness: “Não exerce a profissão há já mais de 20 anos mas ainda assim continua a progredir na carreira; organiza a maior e a 2.ª maior manifestação de sempre; organiza a maior greve de sempre; faz o maior abaixo-assinado de sempre. (...) Estão à espera do quê?”

No Ponto blog, mais a sério, Jorge Reis nota esmorecimento na luta: “Os professores começam a esmorecer, escreve. Os números das reacções diminuem. Os que não apoiam uma greve sem prazos são muitos, a avaliar pelo que se lê nos blogues. Os Conselhos Executivos estão "domesticados" porque não querem perder os tachos. Temo que o Ministério consiga os seus objectivos”. No Corta-fitas, Tiago Moreira Ramalho fica perturbado, por outro lado, com a “falta de pensamento democrático” do Ministério da Educação: “Uma plataforma que reúne onze sindicatos apresenta um abaixo-assinado com setenta mil assinaturas e o Secretário de Estado Adjunto Jorge Pedreira desvaloriza-o, dizendo que pode estar falsificado. Ainda estou à espera que apareça uma estrelinha em Belém que venha guiar esta gente, porque senão, não sei onde é que isto vai parar”.

Entre os números sempre fortes que os professores exibem e estas tendências que noto no mundo dos blogues, parece-me que a época de natal, as férias, o fim do ano, desmobilizam naturalmente os professores e permitem leituras apressadas do estado das coisas. Em Janeiro se verá o que sucede...

Deixem-me, no entanto, fechar o dia, em época natalícia, saudando a graça de João Távora, no Risco Continuo, que comentou o facto de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto disponibilizar mensagem de Natal no YouTube. Chamou-lhe o “bispo dois ponto zero” e tenho a certeza que a alcunha vai pegar. Além de ser quando um homem quiser, Natal é também quando a internet deixar...

publicado por PRD às 00:16
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Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2008

O campeão de Inverno

Daqui a uma hora, mais ou menos, entra em campo o Benfica para jogar com o Nacional e fechar as contas desta primeira parte da superliga, mas na verdade o fim de semana foi fraco para Porto e Sporting. António Boronha, no blog com o seu nome, chamou-lhe “Bodo de Natal” e escreveu: “Depois do 'sporting', hoje foi a vez do 'fc do porto' 'oferecer' ao 'benfica' a possibilidade de um natal mais tranquilo. Vejamos o que é que o 'nacional' da madeira terá preparado para deixar (...) no sapatinho encarnado...”

Pois veremos sim senhor, mas entretanto vamos olhar o estado dos clubes que se deixaram ficar para trás. No blog Direito de Opinião, António de Almeida viu o jogo do Porto com o Marítimo e acha que “os dragões ficaram a dever a si próprios este resultado, tantos foram os lances de perigo não concretizados junto da baliza do guarda-redes Marcos”. No blog Kontrastes, João Ferreira Dias acha que, para variar, o problema esteve no árbitro: “OS ÁRBITROS EM PORTUGAL (...) relembram-me os miúdos que desejam ser polícias-sinaleiros, sempre com o apito para cima e para baixo, a importunar a vizinhança. Os árbitros cumprem esse papel na perfeição, sempre a empatar o trânsito de jogo. (...) A fraca qualidade do futebol português tem nos árbitros grande quota de responsabilidade”. Rocha, no Livre Indirecto, nota que o Porto “vinha de quatro triunfos seguidos para o campeonato, mas esbarrou na defensiva do Marítimo (...) e falhou o pleno nos jogos dos meses de Novembro e Dezembro”. Acrescenta: “Assim, quem esfrega as mãos de contentamento é o Benfica, que passará a quadra natalícia no topo da classificação”. No Sportblog, João Miguel Pereira faz uma boa crónica/relato do jogo e acha que o porto “imitou o Sporting” -  que não é nada poupado no blog Centenário Sporting: “Nada pode justificar, a não ser má preparação, que se jogue como o Sporting jogou no primeiro tempo, sem conjunto, sem alma e sem ambição. Mas também no segundo tempo, embora a diferença de qualidade entre os jogadores se tenha notado, faltou àquele grupo a força anímica de que necessitava para atingir a vitória, algo que fizesse acreditar que seria capaz.
Esta equipa do Sporting CP continua a ter fantasmas que ninguém consegue exorcizar”. Razão tem portanto RFF no blog Hipocrisias Indígenas quando diz que este jogo deixou “a massa adepta com uma azia muito pouco natalícia”.

Do outro lado da segunda circular, tranquilo, Darcy na Tertúlia Benfiquista deixa o contraponto da época: “Aconteça o que acontecer, passaremos o ano confortavelmente instalados no primeiro lugar da Liga. Pescadores, viscondes do Lumiar e andrades fizeram o obséquio de nos proporcionarem esta pequena satisfação. Mas seria ainda melhor se amanhã (ou seja, hoje) conseguíssemos a vitória, para assim nos podermos sentar numa almofada pontual ainda mais confortável. Para além de vir interromper uma recente tendência negativa para as nossas cores, viria ainda despejar um balde de gelo sobre os outros, que já andavam a ficar demasiado exaltados”.

O futebol exalta, claro – mas agora é deixar o Benfica jogar e entrar em período de tréguas. Até 2009 começar, claro.

publicado por PRD às 00:14
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Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008

Blog da Semana: O Velho Blitz

Para os leitores de jornais que gostam de música, o nome Blitz soa bem – soa ao jornal português dedicado à música popular que maior sucesso e maior longevidade teve no nosso pequeno mercado.

Hoje, o Blitz é a Blitz, já não é jornal semanal, é revista. Mas apesar de resistir como revista e estar integrada no maior grupo de media nacional, não apagou a memória do Blitz, do jornal, nascido em 1984 sob a direcção de Manuel Falcão, e depois de Rui Monteiro, Sónia Pereira, Pedro Gonçalves. Pelo Blitz passaram nomes como os de António Duarte, António Pires, António Sérgio, João Afonso, João Filipe BarbosaLuís Pinheiro de Almeida, Luís Vitta, Manuel Cadafaz de Matos, Pedro Pyrrait, Rui Neves, Rui Pego, Miguel Esteves Cardoso. Ficaram famosas as suas primeiras páginas muito gráficas, as páginas de noticias sempre recheadas de informação, e a secção “Pregões e Declarações”, um primeiro exemplo do que podia ser interactividade entre um jornal e os seus leitores.

Tudo isto a propósito da minha escolha desta semana, que prova bem que um blog pode ser, em rigor, o que o seu autor quiser.

Pois bem: o anónimo autor do blog O Velho Blitz, que fica em ovelhoblitz.blogspot.com, dedica-se a digitalizar e disponibilizar as páginas integrais do jornal Blitz desde o seu primeiro número.

Página a página, sem excepção, e sem comentários nem texto. Uma espécie de blog minimalista que se propõe digitalizar todo o primeiro ano do jornal, estamos a falar de 1984/85– qualquer coisa como 832 páginas de jornal, à média de 16 páginas por edição.

Já aqui há tempos houve outro blog que se dedicou à revista K – mas nesse blog o autor escolhia os artigos de quem gostava e copiava o texto, às vezes com uma ou outra foto, e não reproduzia o grafismo da revista nem as páginas.

Aqui, a coisa é simples e eficaz: página a página, o velho Blitz. Basta clicar na página e ela amplia para um tamanho que permite ler perfeitamente o texto.

Um arquivo digital original que, a ser concluído, constitui um contributo importante para a História da música e da cultura popular urbana da década de 80 e, se se prolongar, 90. Boas razões para a escolha que aqui fica.

publicado por PRD às 02:01
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Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008

O CDS, o PP e o CDS/PP

O mundo politico anda entretido com o PS, o PSD, Manuel Alegre e a nova esquerda – e com isso acaba por ficar para segundo plano a guerra que abala o CDS/PP. Parece que há militantes e quadros a abandonar o partido em dose generosa e que Paulo Portas tem dificuldade em unir toda a gente. A face visível da guerra é José Paulo Carvalho, deputado que agora está na Assembleia mas já não é do CDS, é de ninguém, é dele próprio...

João Távora, no Risco Continuo, acha que é da “mais basilar ética política que José Paulo de Carvalho abandone o lugar que ocupou no grupo parlamentar do CDS. Apenas porque no actual sistema eleitoral aquela cadeira não lhe pertence”. O mesmo escreve AJBarros, no Blog Nortadas, sob o titulo “Voto Roubado”: “Sou eleitor no Porto e quando votei no CDS não votei especificamente nele para me representar. Aliás, só foram eleitos 2 deputados por este círculo, sendo ele o 4º. Perante a sua atitude, questiono-me agora se ele acha que o resultado que o CDS obteve no Porto se deve à sua presença num lugar não elegível, ou se, por outro lado, as pessoas votaram no CDS sob a liderança de Paulo Portas”.  Mas a crise é mais vasta e envolve mesmo facções do Partido que se sentem enganadas pelo líder. Noutro post no mesmo blog, e alargando a análise à crise do CDS, AJ Barrosmanifesta sentimento: “É sempre com tristeza que assisto à saída de pessoas do CDS. Mas é com mais tristeza ainda que vejo sair do CDS algumas pessoas que (...) têm um valor inquestionável, como são os casos, nomeadamente, do João Anacoreta Correia e do João Luís Mota Campos. No entanto, sair, “abandonar o barco”, deixar de ter uma posição activa, não são nem nunca foram soluções (...). O CDS não é só o seu líder, tem um passado escrito na história, um presente, mas também terá certamente um futuro. Desta forma, (...) os presidentes impõem no seu tempo o seu cunho mas o partido terá sempre uma posição mais intemporal”.

Sobre o tempo e o CDS bem escreve Daniel Arruda no Troll Urban0: “Houve em tempos um partido que em tempos se chamava Centro Democrático Social que teve como líderes homens como Adriano Moreira, Freitas do Amaral ou Lucas Pires e que foi rebaptizado de Centro Democrático Social - Partido Popular nos tempos de Manuel Monteiro. Depois este partido morreu e ficou só o Partido Popular. Mas mesmo este não teve grande Futuro pois o PP de Partido Popular rapidamente se confundia com o PP de Paulo Portas. Assim se conta em poucas linhas a história de um partido que ninguém quer realmente liderar e onde o único que o faz, mesmo que por narcisismo, não é aceite como líder. “

Na verdade, Paulo Portas tem dificuldade em aguentar o Partido e talvez João Gonçalves tenha razão quando o acusa de tratar o CDS “como o seu brinquedo pessoal. Parece que alguns militantes não estão disponíveis para continuar a fazer de parvos”. E assim se aproxima o CDS do ano fatal das eleições – e assim verificamos que, na verdade, só mesmo o PCP parece estar em paz – porque do PS ao PSD, do CDS à Nova Democracia, anda tudo às turras e ninguém se entende. Assim vai a politica em Portugal...

publicado por PRD às 01:59
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Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2008

Mais uma vida, mais uma corrida

(Já que os meus amigos Sapos puseram o blog em destaque, então eu retribuo oferecendo em ante-estreia a crónica que só vai para o ar na Antena 1 logo mais, às 18:20...)

 

O tabu chegou ao fim - Pedro Santana Lopes vai ser candidato à câmara de Lisboa pelo PSD de Manuela Ferreira Leite. Mal a noticia foi conhecida, muitos blogues se apressaram a reproduzir o bocadinho de entrevista da líder social-democrata na revista Sábado em Maio passado. Pergunta o jornalista:

- Votou Santana Lopes nas eleições de 2005?

Responde Manuela Ferreira Leite:

- Votei no PSD. Se estivesse lá o nome dele não votava.

Em sete meses, Ferreira Leite mudou radicalmente de ideias. José Morgado, no blog Atenta Inquietude, chama-lhe “Despudor” e escreve: “Poderia dizer que estou surpreendido, mas não. Lamentavelmente, a política no Portugal dos Pequeninos já não nos consegue surpreender. Depois do que foi a trapalhada com o governo do menino guerreiro, do estado em que as finanças da Figueira da Foz ficaram, do que foi a gestão lisboeta, (...) a indigitação "pacífica e entusiasmante" do Dr. Santana Lopes (...) é representativa do que mais negativo existe na luta pelo poder, sem princípios, sem memória, sem pudor ético, enfim, sem vergonha”.

Volta então o menino guerreiro, a quem António de Almeida, no blog Direito de Opinião, reconhece pelo menos a atitude: foi “o único a não virar a cara à luta, goste-se ou não do homem, há que louvar-lhe a coragem”. Jorge Ferreira, no Tomar Partido, também vê a candidatura com bons olhos: “Eis uma boa oportunidade de corrigir a má imagem que deixou da sua breve experiência governativa. Neste caso não se aplica o ditado que nunca se deve voltar a um sítio onde se foi feliz porque verdadeiramente (...) Santana Lopes não teve sequer tempo de ser feliz em Lisboa”

Ainda no apoio, vejo o entusiasmo cheio de pontos de exclamação de Rodrigo Saraiva no Câmara de Comuns:

“Lisboa precisa de um Presidente de Câmara que faça obra! E Pedro Santana Lopes já demonstrou que faz! Lisboa precisa de um Presidente de Câmara que não faça os "jeitinhos" ao Governo. E Pedro Santana Lopes defenderá, em primeiro lugar, a Cidade!” E por aí fora, um verdadeiro manifesto eleitoral.

Mais sereno e sensato, Eduardo Pitta no blog Da literatura diz que, do anuncio desta candidatura, “decorrem três evidências: 1. Santana Lopes é o melhor que o PSD tem para candidatar ao lugar; 2. A campanha de António Costa não vai ser um passeio (...); 3. Manuela Ferreira Leite, eleita contra tudo o que Santana Lopes representa, atirou a toalha ao chão”.

O PSD classificou a escolha de entusiasmante, mas Afonso Azevedo Neves no blog Atlântico pergunta-se: “Uma escolha entusiasmante... para quem?”. E imagina “o entusiasmo transbordante dos membros da direcção do PSD, destacados fãs de Santana, as piruetas felizes de Pacheco Pereira, os sorrisos de satisfação dos que votaram convictamente em Ferreira Leite. Todos assim unidos, aconchegados na certeza de que a escolha feita é mesmo uma boa escolha, que o PSD não vai pagar caro esta decisão”. “Meio estouvado”, como escreve JCS no Lóbi, Santana está de volta. Com apoios e críticas. Como os gatos, ele tem muitas vidas. Aí vem mais uma...

publicado por PRD às 12:43
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Terça-feira, 16 de Dezembro de 2008

Mais esquerda à esquerda?

Não se fala de outra coisa por aí, dentro e fora do mundo dos blogues: vai haver mais esquerda além da esquerda que existe? Manuel Alegre acendeu o fósforo e fogueira arde. Manuel Jorge Marmelo não vê fogo, vê antes umas “reuniões Tupperware” e sugere que elas sirvam para “ir preparando uma esquerda verdadeira e mais realista, que se contente em ser oposição e que, sendo oposição, seja capaz de ser também influente e de defender aí os que necessitam de ser defendidos”.

Paulo Gorjão, no blog Vox Pop, não se entusiasma e avisa: “o futuro clarificará o passado”. Mas depois analisa com a sua lucidez habitual: “Não vejo como é que Sócrates poderá descalçar esta bota sem grandes danos políticos. A ruptura de Alegre é um desastre, na medida em que muito possivelmente inviabilizará em definitivo a maioria absoluta. A retenção de Alegre no PS tem igualmente custos muito elevados, uma vez que implicará profundas cedências de agenda (...). Como fazer a quadratura do círculo? Sócrates irá seguramente gerir o tempo político e adiar até ao limite decisões definitivas”. No Insurgente, Bruno Alves vê a coisa mais maquiavélica: para ele, Alegre quer “apenas explorar essa crescente fragilidade para, em cima das eleições, se juntar de novo a Sócrates (impondo-lhe determinadas condições, claro)”. João Gonçalves chama ao socialista “o bardo”, “o chato”, e percebe os comunistas: “Não é por acaso que o PC marcou distâncias. Não é "histórico", mas chateia”.

Este debate em torno na nova esquerda dá para tiros em todas as direcções. Reparemos: Pedro Correia, no Corta-Fitas, considera que “2009 ainda não arrancou e já tudo começa a mudar na cena política portuguesa. Agora é a vez da esquerda, não tardará a chegar a vez da direita”. Jorge Ferreira, no Tomar Partido, ao contrário, vê na nova esquerda um caminho para o PS: “o eleitor comum, pouco dado à ideologia e ao médio prazo, tenderá a ver em Sócrates um verdadeiro líder de direita. Ao que isto chegou”. No Insurgente, André Azevedo Alves concorda: “Nada como um Fórum de Esquerdas com Manuel Alegre, bloquistas e comunistas a discutir “projectos políticos totais” para ajudar o PS de Sócrates a consolidar o eleitorado ao centro”. Carlos Abreu Amorim, no Blasfémias, acha que tudo seria diferente se à direita houvesse liderança: “caso o PSD fosse liderado por gente com um talento político mínimo, estou convicto, Sócrates poderia estar em vias de perder as Legislativas”.

Mas, mais do que debater a esquerda e a nova esquerda, parece que todos estão basicamente interessados em saber como vai Sócrates lidar com mais este caso. Cá para mim, o líder do PS ri baixinho. Mas entretanto eu também rio quando leio Miguel Abrantes, no blog Câmara Corporativa, imaginar um Governo saído deste Fórum das Esquerdas, onde Boaventura Sousa Santos seria primeiro-ministro, Helena Roseta seria “ministra do Bem-estar Social, das Comunidades e da Locomoção não Poluente”, Carvalho da Silva seria “ministro para a Alegria no Trabalho” e Manuel Alegre, bom, Alegre seria, claro,
“vice-primeiro-ministro e ministro da Cultura, Pesca e Caça”.

publicado por PRD às 12:41
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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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Seis anos já cá cantam.

Na melhor revolução cai a...

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