Segunda-feira, 31 de Março de 2008

Vídeo & realidade

O mundo virtual da Internet tem destas coisas: aparece um vídeo no You Tube, dado que as imagens são chocantes a televisão pega nelas, o país acorda e de repente está tudo em pé de guerra com a geração mais rasca de todas.

Mas depois as coisas podem mudar.
Vou citar um post de Francisco José Viegas, ontem, no blog “Origem das Espécies”:

“Ponto final. Ponto final mesmo. Como estive fora uns dias não reparei neste fragmento de uma notícia do Público e do Correio da Manhã: «Numa das reuniões do conselho executivo, a professora Adozinda Cruz confirmou que autorizou os alunos a manterem os telemóveis ligados, permitindo-lhes que ouvissem música. Patrícia terá extravasado a ordem atendendo uma chamada da mãe.»
“O que isto significa?”, pergunta o Francisco, e responde: “Que estão bons uns para os outros. Ponto final. Uma pessoa vê as notícias, lê os relatos e ouve testemunhas; forma uma opinião, não só porque a opinião é barata mas porque tem de ter opinião ou então não vale a pena andar por cá. E de repente, faz-se luz: estão bem uns para os outros. Bom proveito e, como diz o João Gonçalves, parabéns à prima. Vão pentear macacos”.

Ora bem: afinal, o vídeo que chocou Portugal tinha uma pequena história por trás que, não retirando carga à atitude da aluna, ainda assim torna o cenário bem diferente. É sobre isso, aliás, que no blog escrevem os comentadores do Francisco:
Júlia Martins, professora, escreve: “A quem passará pela cabeça confiscar um telemóvel, depois de ter autorizado a sua utilização em sala de aula (...)? Perdoe-me a frase feita: nesta como noutras situações, mais eficaz do que o combate é a prevenção. Definir e fazer cumprir regras com rigor e sensatez é o melhor caminho para o sucesso educativo e (...) para a formação integral dos alunos”
Outro leitor, JC Maia, confessa que também ficou “de boca aberta”, e JC Catarino confirma o que suspeitara: “Desconfiei desde o início de gato escondido. É que 32 anos de ensino e muitos Conselhos de Turma Disciplinar que tive de gramar (...) convenceram-me de que a culpa está quase sempre repartida pelos dois lados, embora normalmente apenas um seja punido”.
Ora, o que resulta deste episódio é já um clássico no mundo da Internet e agora muito ampliado pela existência de blogs: é muito fácil comentar o óbvio. Difícil é esperar que se percebam as imagens para que os comentários façam sentido.
Ana Maria Bettencourt no blog Inquietações Pedagógicas, escrevia este fim de semana que “Quase todos – partidos, sindicatos, opinion makers - tentaram encontrar “culpados”. (... Mas...) Mais do que encontrar culpados para a cena visionada pelo país (...) há que tentar compreender as circunstâncias que a tornaram possível e criar condições para que cenas como esta não se reproduzam”.
Em face do que se sabe agora, prevenir neste caso seria fácil: não ceder, não facilitar. Mas agora é tarde para dar palpites depois de tanta tinta pelos vistos mal gasta...

publicado por PRD às 19:17
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Sexta-feira, 28 de Março de 2008

Blog da Semana: Rita Redshoes

É um dos nomes que promete dar cartas na música pop em 2008: Rita Redshoes, a cantora dos Atomic Bees, que acabou por ficar mais conhecida por integrar, há quase cinco anos, a banda de David Fonseca. Aliás partilhou mesmo com ele o tema “Hold Still”. Bom, Rita chega finalmente ao disco a solo, “Dream On Girl”, dez anos depois de ter começado a sua aventura nos palcos. Uma imagem poderosa, uma voz fora do comum – e, bom, se vos falo dela, não é porque a Janela Indiscreta se tenha tornado uma crónica musical mas porque, claro, há blog ali à vista. Na verdade, há mesmo dois blogs...

Rainbowmaker é o blog central, inicial, aquela que alimenta há mais tempo, dois anos, e onde se pode descobrir o retrato da artista através das suas escolhas: letras de canções que vão de Nick Cave a Elis Regina, vídeos que vão de Nat King Cole a Transvision Vamp, para dar só uma pálida ideia da abertura musical da artista. Além dos vídeos e das letras, há imagens soltas ligadas quase sempre à música, enfim, eu diria que é como se entrássemos no quarto de Rita e pudéssemos vasculhar os seus discos, DVD’s, álbuns de fotografias. Textos, quase nada – só agora, mais recentes, apelando ao concertos, chamando a atenção para o disco. Por lá se pode saber, por exemplo, que amanhã, sábado, Rita Redshoes apresenta “Dream on Girl” na FNAC de Braga.

Mas, como vos disse, há outro blog: Rita_redshoes.blogs.sapo.pt. Este será, parece-me, o blog oficial da cantora e arrancou agora com um texto promocional onde se conta a sua vida desde o grupo de Teatro Ita Vero até ao primeiro projecto a solo, Photographs. No blog ficamos a conhecer também as ligações ao Myspace, ao HI5, enfim, a uma artista totalmente integrada nesta era de musica sem matéria, isto é, de música solta pelo espaço virtual. Já aqui tinha falado do blog de David Fonseca, um dos mais poderosos neste âmbito que mistura de alguma forma a promoção da música com o lado mais intimo e pessoal do autor, Rita acaba por seguir o mesmo percurso, embora de uma forma mais simples, menos dedicada. Na escolha da semana, prefiro o blog original, rainbowmaker.blogspot.com, que é mesmo um bocadinho dessa mundo secreto de Rita Redshoes, agora que o nome dela deixa de ser de culto para uns tantos e vai entrar na grande roda da notoriedade e da popularidade. Boa viagem , é o que lhe desejo – e que não deixe de ser ela própria, nem que seja apenas na escolha de um vídeo para o seu blog.

publicado por PRD às 18:33
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Quinta-feira, 27 de Março de 2008

O IVA

Se o Governo não baixasse impostos, que malandro era o Governo porque pode baixar e não baixa. Agora baixou o IVA, e que malandro é o Governo por estar a baixar o imposto...
É mais ou menos assim que os blogues por onde navego reagem à notícia do dia. É claro que, como faz Rui Castro no 31 da Armada, alguns começam por citar José Sócrates no passado dia 14, ou seja, há 10 dias apenas: quem fala em baixar impostos demonstra "leviandade e irresponsabilidade", disse o primeiro-ministro. Agora, já não diz.
Uma socialista, Sofia Loureiro dos Santos, no blog Defender o Quadrado, nota que “José Sócrates cansou-se de ser previsível e de governar à direita, como o acusam os mais esquerdistas do PS. E como o tempo urge, (...) resolveu tomar medidas que contentem a classe média e Manuel Alegre”. Mas a mesma Sofia não deixa de olhar a oposição: “O que não me surpreende é ouvir aqueles que têm vindo a exigir redução de impostos há meses se estejam agora a esforçar por demonstrar como esta medida é má e eleitoralista. Nada de novo, portanto, no reino da oposição”.
Assim fala, por exemplo, Daniel Oliveira no blog Arrastão: “Como sempre: primeiro sacrifícios, depois campanha eleitoral, depois sacrifícios de novo”. Ou Carlos Abreu Amorim no Blasfémias: “Deve ser irresistível – os momentos pré-eleitorais provocam ânsias aos políticos profissionais capazes de os fazer esquecer o que juraram e os anátemas que lançaram a quem dizia que eles deveriam fazer aquilo que acabam sempre por fazer”.

Reconhecendo que “estas são objectivamente boas notícias”, Paulo Marcelo, no Cachimbo de Magritte, conclui três coisas: “Primeira. Hoje começou a campanha eleitoral. Segunda. Se nada de anómalo acontecer, o PS vai ganhar as eleições legislativas de 2009 (...). Terceira.

Se o PSD de Menezes continuar neste rumo inconsistente vai entregar a maioria absoluta numa bandeja a José Sócrates”.
No fundo é assim: todos reconhecem que a descida do IVA é de aplaudir, muitos vêem-na, no entanto, como arranque de campanha eleitoral. O que leva por exemplo David Dinis a escrever no blog O Insubmisso: “Para mim a conta está feita: um ponto de IVA a menos é igual a um voto a menos”.

No caso de Vital Moreira, se pudesse seria um voto a mais. Feliz no blog Causa Nossa, pois ele próprio já tinha defendido esta redução do IVA. Agora vai mais longe: “continuo a defender que a descida do IVA deveria ser acompanhada de medidas eficazes para combater a grande evasão ao imposto, como sucede nos sectores dos serviços, da restauração etc.

Não percebo por que é que em Portugal não é possível tornar efectivamente obrigatória a emissão de factura fiscal na aquisição de todos os bens e serviços”.
Uma ideia que fica para dar corpo a um mais efectivo cumprimento fiscal – e às tantas uma ponte para o futuro, se pensarmos que o IVA pode voltar a descer mais um bocadinho. O debate fica em aberto...

publicado por PRD às 18:29
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Segunda-feira, 24 de Março de 2008

Vídeo... vigilantes

Não houve Páscoa que amainasse o debate na blogoesfera sobre o vídeo do telemóvel. Não encontrei alguém que defendesse a aluna ou a indescritível cena, mas nas causas e consequências do episódio há ideias muito diferentes. Decidi fazer um caminho de zigue-zague pelas divergências entre autores...
Francisco José Viegas, na Origem das espécies, acha que “Tirar conclusões sobre o sistema de ensino a propósito” do caso “é, manifestamente, exorbitar”.
Mas um professor, Miguel Pinto, no blog Outro olhar, vê aqui exemplo: “Esta Escola está esgotada. (...) O episódio da Carolina Michaelis, como os milhares de episódios mais ou menos semelhantes (...), são expressões de um desajustamento da organização escolar”.

Rui Bebiano, pelo seu lado, no blog Terceira Noite, sentiu mudanças nos últimos anos nas salas de aula: “Começaram a chegar às escolas superiores estudantes com uma quase nula formação cívica (...). E, pela primeira vez, eu e muitos colegas (...) começámos a ter problemas: alunos que conversam sistematicamente (...), que chegam atrasados todos os dias, que entram e saem sem uma palavra, que não desligam o telemóvel, que se dirigem ao professor de forma impertinente”. Ou seja, parece que o problema vai crescendo e subindo na escala.
Talvez por isso, Miguel Abrantes, no blog Câmara Corporativa, prefira também comparar passado com presente para dizer que no seu tempo “os professores “sem pulso” não se punham a medir forças com os alunos. Chamavam o auxiliar administrativo — ou o responsável da escola. É por estas e por outras, defende, que o modelo de gestão das escolas tem de ser alterado. A direcção das escolas tem de ser confiado a alguém que tenha força para se impor”.

João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos, é mais terra a terra:

“Devia ser proibido (...) assistir a aulas com telemóveis ligados. Ao primeiro toque, o telemóvel deveria voar pela janela e o seu proprietário ser posto na rua. Depois, como no caso visionado, o energúmeno levaria duas competentes bofetadas no focinho só podendo sair da sala com elas bem dadas. Finalmente, e caso tivesse pais ou gente "responsável" pela sua educação, estes seriam informados da expulsão do estúpido monstro ou, no mínimo, da sua suspensão. (...) Os professores representam a autoridade e a disciplina dentro da sala de aula. (...) Os portugueses não pagam impostos para assistirem bovinamente a cenas destas. O lugar da canalha não é na escola”
Parecendo que lhe responde, José Luiz Sarmento, no blog As minhas leituras, escreve: “Se esta professora falhou, falhou com mérito. Se na escola de hoje a doçura é vício e a dureza virtude, então o falhanço é honroso e o «sucesso» que nos exigem é vergonha”.
Mantendo o zigue-zague, leio o politicamente incorrecto Tomás Vasques no Hoje há conquilhas recordar as formas pouco ortodoxas de que se revestem as manifestações dos professores contra o Governo e escreve: “Os alunos sabem de tudo (...) e comentam entre eles. O respeito e a autoridade não são servidos de bandeja, conquistam-se. Quem não se dá ao respeito, dificilmente será respeitado”.
E poderia continuar, pois tinha aqui no desktop qualquer coisa como 25 mil caracteres de textos sobre o caso do telemóvel. Sempre neste tom: uns a pensarmos no sistema de ensino, outros nos professores, outros nos filhos que andamos a educar. Ou a não educar, pois claro. Conclusões, cada um tira a sua – todos só podemos tirar uma: há qualquer coisa que é preciso mudar. E depressa.

publicado por PRD às 19:03
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Quinta-feira, 20 de Março de 2008

...

Passaram cinco anos sobre a invasão do Iraque e a efeméride foi devidamente assinalada um pouco por todo o mundo. Na blogoesfera nacional, encontro números. Números, por Casimiro, no blog Mentes Inquietas: “Só entre Março de 2003 e Julho de 2006 morreram mais de 600 mil que não teriam morrido se a guerra não tivesse acontecido”
Encontro números também no blog Arrastão, com Daniel Oliveira:
“3987 soldados americanos mortos no Iraque
4295 soldados mortos no Iraque (...)
5,1 milhões (...) de iraquianos deslocados. Apenas 20% recebe alguma ajuda de agências da ONU ou de ONG.
2,2 milhões de deslocados no Iraque
1,2 milhão de refugiados na Síria
500 a 600 mil refugiados na Jordânia
43% dos iraquianos vivem com menos de um dólar por dia
12 horas de electricidade por dia na capital de um dos maiores produtores de petróleo do Mundo
(...)
Armas de destruição em massa descobertas: 0”
Também há quem defenda a intervenção americana. Paulo Pinto de Mascarenhas, por exemplo, no blog Atlântico, escreve: “Apesar (...) de não se ter comprovado a existência de armas de destruição massiva (...) existiam razões de sobra para atacar aquele regime pária liderado por um tirano que reprimiu o seu povo e ameaçou anos a fio a comunidade internacional, fazendo gato sapato das Nações Unidas e do Direito Internacional. A História julgará um dia quem foram os mentirosos, mas não deixa de ser curioso verificar que os dois principais países europeus que estiveram então contra a intervenção aliada sejam hoje governados por dirigentes claramente pró-americanos: refiro-me à França de Sarkozy e à Alemanha de Merkel”.
Portanto, o debate continua em aberto e em vésperas de fim de semana de Páscoa não sou eu quem vai espicaçar mais o ambiente. Mas justamente através do Paulo Pinto Mascarenhas descubro que Luís de Castro, o jornalista da RTP, tem desde há dois dias um blogue escrito justamente a partir do Iraque, onde se encontra em serviço de reportagem. Os textos e a sua experiência podem ser lidos e seguidos diaramente no blog “Cheiro a Pólvora”, que se encontra em cheiroapolvora.blogs.sapo.pt. O jornalista regressa, assim, ao terreno, para perceber a realidade iraquina cinco anos depois da invasão. No primeiro texto do blog Luís de Castro reproduz um diálogo com um policia na alfandega de Bagdad a que diz: “é a sexta vez que venho ao país dele. À pergunta se não tenho receio, respondo-lhe que mente quem disser que não tem medo. Eu tenho uma ligeira vantagem: já sei ao que venho”. E a primeira conclusão que tira num rápido olhar sobre o país é esta: “os americanos perceberam que não conseguirão construir a paz sem os que fizeram parte do regime de Saddam Hussein”. Vale a pena seguir o cheiro a pólvora do jornalista, que seria o meu blog da semana - mas não será, porque amanhã a santa Janela estará fechada...
publicado por PRD às 18:16
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Quarta-feira, 19 de Março de 2008

"Que espera o PSD para sair do PSD?”

Já se sabe que os partidos políticos são o bombo da festa do debate politico na blogoesfera – mas o PSD tem estado mais na berlinda do que os outros. Por razões de fundo. Já com alguns dias, encontro uma análise muito interessante e que dá que pensar de João Pinto e Castro no Blogexisto. É algo que começa a sentir-se na blogoesfera e que passa pela ideia de um novo partido saído do descontentamento actual do PSD. Para começar, a pergunta que abre o texto:
“Que espera o PSD para sair do PSD?”
E a seguir: “A cena da apresentação do novo logo, com Menezes a comparar-se a Obama, deve ter dissipado as dúvidas a quem ainda as alimentasse: o homem tem um parafuso a menos. Sucede, porém, que o controlo que está a criar sobre o partido tornará muito difícil, senão impossível, a sua remoção (...). Estou consciente de que as declarações de preocupação de alguns dirigentes do PS acerca do estado a que chegou o PSD não passam de hipocrisia mal embrulhada num simulacro de sentido de Estado (...). Mas é um facto que em democracias formais como o México, o Japão e a Índia a supremacia de um só partido permitiu a sua perpetuação no poder por meio século ou mais. O mesmo pode vir a suceder em Portugal (...). Que esperam aqueles que, dentro do PSD, se escandalizam com o actual estado de coisas, para tomarem a iniciativa? (...) O caminho da criação de um novo partido parece cada vez mais inevitável, e este é capaz de ser o momento ideal. É claro que as próximas eleições estão perdidas. Mas o prestígio (...) de que os dissidentes (...) desfrutam na opinião pública deverá assegurar ao novo partido uma votação entre os 12 e os 15%, valor mais que suficiente para (...) prepararem uma candidatura com legítimas pretensões no horizonte de 2013. Cheira-me que é agora ou nunca”
Noutro patamar, Ana de Amsterdam acha que a guerra já começou, ou seja, a hora das decisões terá chegado. Escreve: “A guerra foi declarada. É melhor assim. É preferível a guerra aberta às guerrilhas partidárias que se fazem em surdina, por corredores e bastidores, manipulando este e aquele, congregando esforços, pedinchando apoios. (...) Nada poderia ser pior para o PSD do que continuar a viver num clima de paz podre em que a mediocridade do líder, e dos seus cães de fila, se desculpa, a cada disparate, pelo facto de ter sido legitimamente eleito”
Ora, enquanto isto sucede José Medeiros Ferreira nota no seu blogue que “Primeiro foi Freitas do Amaral, depois José Miguel Júdice e Maria José Nogueira Pinto.Agora chegou a vez de Proença de Carvalho prestar vassalagem a José Sócrates. E ainda se admiram que a direita esteja em crise...”
Crise, não senhor: a direita está à beira de uma mudança. Um novo partido? Uma revolução no PSD? Alguma coisa vai acontecer – e se a blogoesfera constitui uma montra de tendências futuras, parece óbvio que vem aí um novo partido Ou melhor: um PSD que sairá do PSD.
publicado por PRD às 23:12
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Terça-feira, 18 de Março de 2008

Os caminhos de um link

Aqui há dias estava num debate sobre a blogoesfera e ouvi o autor de um livro sobre o tema, Luís Carmelo, do blog Miniscente, falar da linguagem dos blogues como algo sempre incompleto, cortado ás postas pelos links que dentro dos blogues se fazem de um lado para o outro. E hoje decidi preguiçosamente seguir esta ideia cortada aos bocados.
Estou a ler Francisco José Viegas no Origem das Espécies. Ele diz assim: “Está tudo dito. Mesmo para mim, que odeio piercings. Esta é a notícia sobre a guerra aos piercings”.

Está lá o link, clico, vou parar à noticia: “PS entregou hoje no Parlamento um projecto de lei que regula o funcionamento dos estabelecimentos que fazem tatuagens e aplicam “piercings”, passando a ser proibida a sua aplicação na língua”.
O Fracisco continua: “como me faltam palavras, peço para ler a Teresa Ribeiro, o João Gonçalves, o Paulo Gorjão, Ana Margarida Craveiro e o Rui Carmo. Às vezes, o absurdo toma conta de tudo, e de tal maneira, que é muito difícil convencer as pessoas de que vivem rodeadas de gente absurda”.
Agora é fácil, vou clicar em cima dos nomes de que fala o Francisco José Viegas, e tenho um olhar sobre esta questão dos piercings...
Teresa Ribeiro, no Corta-Fitas, acha que se deve ir mais longe: “Para arrumar de vez com os maus hábitos dos portugueses eu propunha que se fosse até ao fim e interditasse também:

1 - O acesso às praias entre as 11h e as 16h

2 – A venda de chupa-chupas, gomas e rebuçados às crianças

3 – O consumo de álcool
4 – O consumo de fast-food
5 – O consumo de tabaco

Também veria com bons olhos a proibição de noitadas e da venda de sapatos com o salto demasiado alto a senhoras com excesso de peso”.
João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos é agreste e seco: “O PS, mesquinho e asséptico, obcecado com a saúde, quer à viva força "normalizar" o português desde pequenino. (...) Se dependesse desta estranha "esquerda moderna", andávamos todos de calções ao sábado de manhã, logo às sete horas, a correr como desalmados. Só falta mesmo estender o bracinho”
Continuo a seguir o link de Viegas, aterro no Cachimbo de Magritte e leio Paulo Gorjão: “Agradeço que o PS apresente um projecto de lei tão breve quanto possível sobre um assunto que me tem tirado o sono. Refiro-me, como já perceberam, ao tipo de corta-unhas que posso utilizar. Por exemplo, gostaria de saber as cores, dimensões e material do corta-unhas perfeito”.
Ainda Ana Margarida Craveiro, no blogue Atlântico: “Só posso assumir que os critérios sejam estéticos, e que o partido maravilha do jogging nos quer todos iguais, porque é idiota demais dizer que um piercing na língua é um risco de saúde pública”. 

E fecho no O Insurgente, com Rui Carmo, que remata o seu post com a pergunta fatal: “Estes zelotas não têm mais nada com que se entreter?”
E assim se faz a leitura na blogoesfera: num só blog, A Origem das Espécies, encontrei ligações para outros cinco blogues, além da noticia original, e fui atalhando a leitura de uns para os outros, e de passagem lendo outras ideias, outros temas. E assim cheguei aqui. Confesso: sem um só piercing...

publicado por PRD às 19:16
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Segunda-feira, 17 de Março de 2008

O desmentido que chegou antes da notícia

O facto blogoesférico do fim-de-semana tem a ver, mais uma vez, com a velocidade que um blog pode ter a reagir a um facto.
O facto é este: no Expresso de sábado, o empresário Abel Pinheiro diz numa entrevista que terá doado a Pacheco Pereira 1000 contos para a campanha eleitoral de Loures em 1989. Isto no meio de uma conversa sobre financiamento dos partidos, pressão, lobby e CDS/PP.
Ora bem: à meia-noite e três minutos desse sábado, ainda o Expresso não estava fisicamente à venda, José Pacheco Pereira já tinha desmentido Abel Pinheiro no blog Abrupto. Escreveu: “Tal é completamente falso. Primeiro, porque vi Abel Pinheiro um vez na vida, num almoço para que José Miguel Júdice me convidou no Ritz, que penso, se a memória me não falha, nem sequer foi contemporâneo da campanha de Loures (...). Nesse almoço, Abel Pinheiro queixou-se de Jardim e de uma questão qualquer que tinha com Jardim, que já nem me lembro bem qual e a que não prestei muita atenção. Ouvi, agradeci o almoço e vim-me embora. Se Abel Pinheiro deu dinheiro ao PSD, nacional ou de Loures, desconheço em absoluto e, se o soubesse, certamente que lhe agradeceria porque tínhamos muito pouco dinheiro para a campanha e tal era totalmente legal à época. Mas reafirmo o meu completo desconhecimento deste caso, que evidentemente só se destina a querer meter gente séria no saco de gente pouco séria, para ver se na balbúrdia todos ficam sujos. É tudo o que tenho a dizer sobre o assunto, penoso como se imagina, porque fica sempre algum "fumo" no ar, mas que não me demoverá de dizer o que sempre digo e de combater o que combato. Há gente aí a trabalhar profissionalmente para lançar estas calúnias, mas comigo têm pouca sorte”.
Repare-se o patamar em que estamos: quando o jornal Expresso está nas bancas, sábado de manhã, já foi desmentido, quase 8 horas antes, pelo próprio visado. Ou seja, a notícia de jornal, dada pelas palavras de Abel Pinheiro, morreu antes de nascer e o comentário no blogue ainda lhe acrescenta uns pós.

Seguem-se, é claro, as opiniões dos leitores do Abrupto, que Pacheco Pereira exibe:
”Como acontece muitas vezes nos jornais, é vítima do título e não do facto. Junta-se a muitos outros a quem acontece o mesmo”, diz um, logo seguido de outro: “faço questão de me solidarizar expressamente. Solidarizar-me com estes danos colaterais que está a sofrer. E como já uma vez disse, "que nunca lhe doam as mãos com o que escreve"! Pode acreditar que nada disso cai em saco roto”. E ainda mais um, por acaso conhecido analista Carlos Magno: “Escrevo-te só para te dizer que tens a minha total e incondicional solidariedade”.

Esta é o poder da blogoesfera ou, se quisermos ser rigorosos, o caminho que leva a informação no século XXI. Velocidade na rede – à espera que o papel impresso repense de uma vez por todos o seu lugar na paisagem...

publicado por PRD às 22:12
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Sexta-feira, 14 de Março de 2008

Blog da semana: I Love Bimby

À sexta, um blog fora do contexto, ou seja, fora dos blogues que cobrem a actualidade e que vou citando por aqui todos os dias. Pois bem: a blogoesfera é palco privilegiado para paixões e manias. Já aqui revelei alguns blogues de apaixonados pela cozinha, pela culinária, pela gastronomia, hoje apuro ainda mais a escolha, refino a busca, e vou parar ao blog “I Love Bimby”. O nome diz tudo: um espaço onde convergem receitas, truques, dicas, ensinamentos, tudo virado para essa máquina de cozinha que entrou na moda e é hoje um sucesso de mercado verdadeiramente extraordinário, com mais de 30 mil aparelhos vendidos em Portugal.
A Bimby é um sofisticado robot de cozinha muito fácil de usar, o que faz com que seja útil para quem não sabe cozinhar, e pode fazer com facilidade pratos de toda a espécie, e muito útil também para quem gosta de cozinhar e usa a máquina como um auxiliar de cozinha.

Sublinhe-se que eu falo por experiência própria, não tenho qualquer relação ou interesse na empresa.
Tudo para dizer que o blog I Love Bimby fui justamente criado em 2006 por uma agente da marca, que entretanto deixou de trabalhar na empresa mas não deixou de gostar da máquina. “Apoiar, partilhar e aconselhar amigos, clientes e todos aqueles que como eu, têm paixão pela culinária e utilizam a Bimby”, foi o objectivo da autora, que disponibiliza mais de 50 receitas para a máquina, além de truques diversos. Aceita sugestões e comentários, outras receitas dos leitores, e tem tudo organizado de forma a ser fácil encontrar o que se procura.
Ou seja, mais do que um blog, temos aqui um verdadeiro Manual da famosa Bimby. A marca não gosta muito de quem invente receitas não autorizadas e passa a vida a dizer que só as receitas oficiais é que valem, mas a autora do blog foi clara: “Acredito que a informação não deve possuir dono e deve estar ao alcance de todos os que a procurem”. Por isso nem hesitou: deixou a empresa e assim é livre de manter o blog. E bem, pois um dos aspectos fascinantes deste robot culinário é exactamente a possibilidade que nos dá de criar novas receitas, de inovar. O blog é, por isso, muito louvável.

Encontra-se em ilovebimby.blogspot.com e é então a minha escolha da semana – para quem usa o robot, ou para quem o queira conhecer.

publicado por PRD às 19:10
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Quinta-feira, 13 de Março de 2008

Posto de vigia

Não há duvida que a blogoesfera se assumiu, nestes últimos anos, como mais um posto de vigia avançado sobre a sociedade. A blogoesfera em si não existe – mas os bloggers, aqueles que com a sua intervenção marcam a actualidade, acabam por constituir-se uma espécie de provedores permanentes da realidade.
Nesse sentido, os meios de comunicação social são agora monitorizados, fiscalizados, permanentemente avaliados pelos milhares de blogues que andam por aí.
Julgo que não me engano se disser que hoje os jornalistas escrevem com mais atenção, têm mais cuidado quando publicam, com receio desse olhar perspicaz, atento e imediato que pode vir da rede. E é por aí que vou hoje, com m caso único. Leio no blog Terapia metafísica um post curto assinado por Filigrana que diz assim: “Quando Ferreira Fernandes plagia é porque já está tudo escrito e, naturalmente, a culpa não é dele”.
O post deixou-me curioso e fui à procura do link. Encontrei uma crónica do jornalista Ferreira Fernandes que reza assim:
“Há uns dias, li um artigo no El País em que se lembrava que os chefes de Governo espanhóis tinham sempre um "Z" no nome, e Rajoy não o tinha. Ideia com piada, guardei-a no cantinho do cérebro onde guardo essas coisas, com o fito de usá-la, se desse jeito. As crónicas são feitas de saberes avulsos - que não são sempre citáveis (...) - mas o resultado deve ter uma personalidade própria e única. Quando Rajoy perdeu, usei a história do "Z" (...). Ontem, ao voltar a Portugal, deitando fora notas e papeladas, reli o longo texto do El País (...), o tal do "Z". Concluí, sem dúvidas, que me limitara a condensar o que Unzueta havia escrito. Esta é a questão: quem tivesse lido Unzueta não precisava de me ler, eu não acrescentava nada. Eu fiz um plágio. E não é porque sou o primeiro a dizê-lo que deixa de o ser. Tenho a consciência tranquila, mas não a subconsciência”.
O jornalista contou bem a sua história. Mas mais do que contá-la, ele antecipou-se a algo inevitável: um blog iria descobrir as semelhanças entre o texto do El Pais e o texto de Ferreira Fernandes e iria fazer de um erro, que pode acontecer a qualquer um de nós, um escândalo nacional.
Noutros tempos, sem blogues e sem net, duvido que o jornalista se apressasse a reparar o erro. Talvez o fizesse, se alguém algum dia o incomodasse. O que dificilmente aconteceria. Se a Internet mudou a nossa forma de aceder à informação, os blogues mudaram a nossa maneira de interpretar, pensar e vigiar a informação.
E obrigaram os media clássicos a redobrar cuidados e atenção no seu trabalho diário. Não sei se é bom ou mau – mas é a verdade.

 
publicado por PRD às 20:04
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Pesquisar blog

 
Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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