Música, hoje vamos para a música – a minha escolha da semana recai sobre um blog muito especial. É um espaço pessoal, assinado, em muitos momentos íntimos. Mas, também um blog autobiográfico onde, em episódios soltos, se está a fazer a História de um bocadinho da melhor música popular portuguesa.
A saber: o blog chama-se Holoteta mas a morada é diversa: neladeiras.blogspot.com
Isso mesmo: o blog da cantora e compositora Ná Ladeiras, a voz que marcou a Brigada Victor Jara, a Banda do Casaco, a voz a sol de Sonho Azul, a voz da mulher que, num percurso nem sempre linear, juntou alguns dos melhores e mais valiosos talentos da nossa cultura popular: de Miguel Esteves Cardoso aos Heróis do Mar, de Ricardo Camacho, de Rui Veloso a Luís Cilia. São muitos anos de musica e de canções, e o blog reflecte isso mesmo.
É que, além dos apontamentos pessoais da autora, muitas vezes poéticos, e além das fotografias e dos registos inimistas, aparecem aqui e ali história do seu rico passado. Por exemplo, a sua ligação a Miguel Esteves Cardoso: “Não parava de compor e o Miguel de escrever. Assim surge Hotel Ámen, que de um lado era carne e do outro espírito. Grandes planos! A editora, a meu pedido, concordou que fosse gravado no Mosteiro dos Jerónimos e, para isso, fez deslocar o seu estúdio móvel até Belém. A produção, desta vez, ficava a cargo de Carlos Maria Trindade. Não me lembro quantos dias se passaram. Sei que tudo acabou abruptamente. Ou porque achavam que não ia ser comercial, ou porque não se chegava a acordo sobre algumas situações, Hotel Ámen faliu. (...) Nestas coisas não há só um culpado, eu assumo que a pressão deu cabo de mim. Fiquei cansada e deprimida. Abandonei o "palco" onde se desenrolava a tragédia e afastei-me. Fiquei magoada com todos, incluindo o MEC. Saí de Lisboa, recolhi-me em Alhur. Decidi dedicar-me a plantar ervas de cheiro e toda a espécie de chás curativos”.
Noutro passo do blog, a História da edição do notável “Sonho Azul”, onde quiseram mudar o nome à cantora: “Quiseram ir a fundo e a sério com o lançamento da minha pessoa e para começar nada melhor que modificar o meu nome. (...) A questão prendia-se com “Né Ladeiras”. Não era nome para uma cantora quando atingisse os 40 anos...
- “Mas eu ainda só tenho 23!!!! - protestei - "Além de que este é o meu nome, sempre foi. Né, diminutivo de Nazaré, Ladeiras, apelido paterno. Sempre fui Né Ladeiras (...) Atónita e a pensar que algo de muito errado (...) se passava, assisti a uma cena irreal, que consistia em 2 listas telefónicas nas mãos do promotor e do produtor com a respectiva avaliação dos nomes alternativos para o novo baptismo”.
Baptismo que não existiu – Né Ladeiras é ainda hoje Né Ladeiras. Deixei dois exemplos de histórias desconhecidas, inéditas, que estão naquele espaço - mas o seu blog é tudo isto e mais a sua alma, o seu génio, o seu talento, Palavras, imagens, bocados da vida. Vale a pena conhecer esta outra musica, esta outra vida...