Ainda as eleições europeias e a campanha em curso – na verdade, se pusermos de lado as tricas do dia a dia, falta uma reflexão mais profunda sobre o que está em causa – a Europa. Eduardo Pita tem, por isso, toda a razão, quando no seu blog “Da Literatura” escreve “O modelo das campanhas está esgotado. E atingiu o seu ponto alto na agenda do deputado Nuno Melo, cabeça-de-lista do CDS-PP, que (num dia) teve duas reuniões à porta fechada: uma com o Sindicato dos Guardas Prisionais, (...) e outra com agentes da PSP em Santa Maria da Feira. Parece anedota? Pois parece. Dizem os media que foi queixar-se aos guardas e polícias das “leis brandas” que temos. Por este andar ainda o veremos a ter reuniões com magistrados “pressionados”, um tema eminentemente europeu... Como é que esta gente pode ser levada a sério?”. Eduardo Pita acredita que “metade do país vai mandar o escrutínio às urtigas”, encontrando-se com a opinião de Pacheco Pereira que pode ser lida no blog Abrupto: “Falta (...) debate e muito. Debate interno, interior, dentro das baias da aceitação do "europeísmo" dominante, pouco me interessa. Debate que tenha a coragem de vir de fora, que diga as verdades que precisam de ser ditas sobre uma Europa que caminha a passos largos para destruir o adquirido comunitário”. Pacheco Pereira pede debate europeu, Sofia Loureiro dos Santos complementa com o seu olhar sobre a campanha: “Nada que tenha a ver com a Europa, política europeia, tratado de Lisboa, Parlamento Europeu, federação de Estados, Turquia, etc., tem sido totalmente eclipsado pelo ataque à política do governo PS, a crise, cartazes horrorosos, demagogia e populismo quanto baste. (...) Ninguém está minimamente interessado nas eleições europeias. O resultado das eleições de Junho será interpretado como o primeiro round e uma sondagem à boca das urnas para as legislativas”. No seu Fio de Prumo, Helena Sacadura Cabral também reconhece “pobreza” nos debates eleitorais: “Custa a perceber que se esteja a debater a Europa, as suas instituções, a sua política. De propostas nem vislumbre. Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado nosso. Nem quero pensar no que vai ser a abstenção, partido em que me filiaria, não fossem outros valores mais altos a levantarem-se. O mais grave é que não é por acaso que isto acontece. Cada um de nós anda cansado. De si, dos outros, do próprio país. Como é que não andará cansado duma Europa que cada vez se afasta mais do portuga, agora que os fundos, mal aproveitados, deixaram de aparecer?”.
A verdade é que, com ou sem fundos, no meio de uma crise profunda, as eleições confundem-se e confundem-nos. Tem razão a Helena, claro que sim, mas é inevitável esse olhar que acaba por morrer na praia aqui do rectângulo... Até ao dia do voto, pode ser que ainda o país e os candidatos acordem para o que está em causa na eleição – mas se tal não suceder, como ela diz no blog, “Tudo o resto é, infelizmente, paisagem”. Ou melhor, será paisagem no dia seguinte ao dia do voto.