Sexta-feira, 21 de Outubro de 2011

...

Mais um momento "ai, ai, coisas que eu sei...": depois da reunião Trovante 2011, vem aí um disco que junta os talentos de João Gil e Luís Represas. A dois. Está gravado.

publicado por PRD às 02:49
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Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2010

Blog da Semana: As Penas do Flamingo

“Jam session, pilates sem personal trainer, e desenho de modelo nu” - assim se subtitula o blog As penas do Flamingo. É o meu destaque desta semana, encontra-se em aspenasdoflamingo.blogs.sapo.pt/, e é um blog assinado por dois jornalistas, um deles no activo, o outro mais ligado nos últimos anos à comunicação empresarial: Luís Naves, do Diário de Notícias, e João Vilallobos.

A razão que me leva a escolhê-lo resulta das circunstancias dos seus dois autores: tanto Luis Naves como João Vilallobos escreveram já noutros blogues colectivos, como o Corta Fitas ou o Prazeres Minúsculos, em registos mais próximos da actualidade, do comentário politico e social.

Aqui, nas Penas do Flamingo, ambos dão largas às suas veias poéticas, de ficcionistas, de escritores. Aliás, Luís Naves tem um percurso paralelo na ficção em livros como O Silêncio do Vento e Territórios de Caça.

O blog é então um espaço privilegiado para separar as águas – o jornalista e comentador usa outros patamares para o exercício profissional, e reserva para esta cantinho o gosto pela ficção, pela poesia. A amizade que liga Luís Naves e João Vilalobos talvez explique este encontro sob as Penas do Flamingo.

Lendo o blog, parece-me ver nele também um poiso de ensaios sobre a escrita de cada um dos autores – como se pudéssemos ter ali rascunhos de textos futuros, experiências, pequenas ousadias.

Nem por acaso, há poucas semanas, um post-poema de Luís Naves:

 

É difícil falar do amor

Parece fácil falar de amor

E há outros temas bem mais urgentes

planeta a sufocar, crises emergentes

o mar a subir, o excesso de calor

 Pensar nas paixões, quis eu supor

daria versos pouco exigentes

ideias banais, algo incoerentes

poesia sem chama e sem ardor.

 Soube então o que falhara em entender:

a água passada é como um rio imenso

que se impõe ao presente, temível, denso

 Um desgosto corre sempre assim, penso

e recordá-lo de menos é esquecer:

ter amado não é ter vivido, é ainda viver

 

Nestas palavras está, de alguma forma, a essência do blog e a lógica de o destacar. Estamos ainda nos primeiros dias do ano, talvez a ideia de um espaço onde livremente deixamos crescer o potencial escritor ou poeta que há dentro de nós, dizia, talvez essa ideia inspire os ouvintes da Janela Indiscreta e daqui resultem novos blogues, mais escrita, mais talento à vista.

publicado por PRD às 02:46
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Quinta-feira, 7 de Janeiro de 2010

Outra vez o casamento entre pessoas do mesmo sexo...

É incontornável voltar ao casamento entre pessoas do mesmo sexo – a lei chega amanhã ao Parlamento, vai ao mesmo tempo ser debatida e votada uma petição para um referendo. E na blogoesfera os ânimos agitam-se e escaldam. No blog Jugular, Isabel Moreira irrita-se: “Cada vez que se lê uma piadola no 31 da armada, eu agradeço. Porque me recordo que há uma razão essencial para acabar com a homofobia legal. É que a homofobia existe. E cabe à lei, no caso de discriminações injustificadas, dar o sinal à sociedade, esse sinal que se chama inclusão. Se a lei vier a ser promulgada, o Estado deixa de estar ao nível da ofensa gratuita que as palavras do Manuel Castelo-Branco encerram. E como essas, tantas que foram escritas no 31 da Armada, com as caixas de comentários devidamente escancaradas e permissivas a todo o tipo de insulto pessoal, à homofobia mais furiosa”.

Manuel Castelo-Branco responde:  “O seu post insultuoso, fundamentalista e quase histérico é típico dos cristão novos que tanto querem renegar o seu "legacy" ou a sua herança, que se tornam mais "papistas que o papa". O mesmo aconteceu recentemente na administração Bush com os neo cons, com os resultados que se viu. (...) O seu problema Isabel, é uma total falta de humor, e curiosamente uma enorme dificuldade em entender a diferença e viver com ela. A vida é feita de humor e os blogs de provocação, mas para si a vida é tão séria e cinzenta que deve ser uma chatice Deve-se viver com alguma capacidade de encaixe, que a Isabel parece não tem”. Paulo Pinto Mascarenhas junta-se, no ABC do PPM, e acha que Isabel Moreira “não parece entender é que a sua opinião é a mais homofóbica das opiniões: nunca ninguém se lembrou de pedir aos heterossexuais que assumam seja o que for”.

Isto é polémica – e deixo o exemplo avulso para se perceber como os ânimos podem aquecer e ferver. Mas também há quem mantenha a compostura. Por exemplo, João Pinho de Almeida, deputado do CDS, no blog Da Ultima Fila: “Para enquadrar a posição que já manifestei sobre o casamento e a adopção por pessoas do mesmo sexo, deixo aqui um excerto da minha declaração de voto na Revisão Constituicional de 2004”. E deixa mesmo, manifestando que " todo o debate relativo a direitos dos homossexuais deixa de fazer sentido, uma vez que estes, como os heterossexuais não têm direitos e deveres em função da sua orientação sexual mas em função da sua condição de cidadãos.". Michael Seufert, no mesmo blog: “Tem sido muito assim no passado: aborto, casamento, eutanásia... Parece que estes temas voltam sempre que o país menos precisa deles, e se substituem na agenda política e mediática ao desemprego, à dívida pública ou ao estado da justiça”.

No meio, entre quem discute de forma acesa e quem se mantém no patamar do debate meridiano, encontro Pedro Santana Lopes: “É lamentável que determinados Partidos ignorem uma petição de mais de 90.000 pessoas para que se realize um referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Só vale essa vontade quando é paraa interrupção voluntária da gravidez?”

É assim que o tema anda – entre a exaltação, a calma e o protesto com algum sentido...

 

publicado por PRD às 02:44
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Quarta-feira, 6 de Janeiro de 2010

Em dia

Temas diversos de agenda para pôr em dia, comecemos com uma constatação de facto, que encontro no 31 da Armada pela mão de Vitor Cunha: “Lisboa é neste dia 5 de Janeiro de 2010 um enorme monte de lixo. Uma cidade modelo da Venezuela. Os passeios, onde há passeios, estão inundados de folhas que tresandam a podre por força da água que cai e não as leva. Os buracos na rua rasgam pneus. O lixo acumula-se por todo o lado, num misto de caos público e miserável desleixo privado. A selva veio para a cidade  e ameaça manter-se neste Inverno que é um contente descontente”.

Basta andar pela cidade capital para dar razão ao blogger e pedir explicações: o que se passa nesta cidade?

Outra constatação que diz muito do estado das coisas, leio-a assinada por Nuno Dias da Silva: “Mais de metade dos 20 programas mais vistos da televisão pública em 2009 foram jogos de futebol (…) Já em 2008, nos 20 programas mais vistos da RTP, apenas um não era um jogo de futebol: a final do Festival Eurovisão da Canção. (…) Os três pilares do regime salazarista, «Fado, Futebol e Fátima», convertem-se, com o passar dos anos, num «F» único”.

É o futebol, claro. Por estes dias, junta-se outro tema escaldante, que é o dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Tema muito debatido e explorado aqui na Janela, não resisto porém a trazer o post de João Miranda ontem mesmo: “A diferença fundamental entre a união registada do PSD e o casamento gay do PS é que a primeira exclui adopção e a segunda também. Tanta treta sobre o princípio da igualdade e contra a discriminação com base na orientação sexual para se acabar a aprovar um casamento de segunda para os gay”.

Assinalados três pontos fortes da agenda do dia, deixo para o final a agenda da própria blogoesfera: saúdo um novo blog, “Da Ultima Fila”, cuja origem é, no mínimo, original. Está lá explicado: “Na última fila da bancada do CDS-PP sentaram-se no primeiro dia, por acaso ou providência, os quatro deputados mais novos da bancada. Juntam-se virtualmente neste espaço para continuar as discussões após o fim dos trabalhos”. Cecília Meireles Graça, Filipe Lobo d´Ávila, João Pinho de Almeida e Michael Seufert são os quatro deputados que vamos seguir de perto a partir de agora.

Com o começo de 2010, logo no dia 1, nasceu o novo blog de Joana Amaral Dias e José Medeiros Ferreira, chama-se Cortex Frontal e além dos posts inéditos, encontra-se por lá toda a vasta produção de imprensa e televisão de Joana Amaral Dias, que andava dispersa pelos diversos lugares onde têm tempo de antena.

E hoje, dia 6, dia de Reis, abre o novo blog colectivo, muito alargado, Albergue Espanhol, que junta nomes que vão de António Nogueira Leite e Carlos Abreu Amorim a Filipa Martins, José Fialho Gouveia, José Adelino Maltez, Nilton, Nuno Saraiva, enfim: de tudo para todos os gostos.

São os primeiros sinais de mais um ano bem vivo no mundo dos blogues.

publicado por PRD às 02:42
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Terça-feira, 5 de Janeiro de 2010

Lhasa de Sela

A cantora americano-mexicana Lhasa de Sela, 37 anos, morreu na sexta-feira, vitima de cancro. O anúncio foi feito apenas ontem, mas desde o dia 1 que a noticia corria. Não corria nos jornais – corria na rede, uma vez mais à frente da informação dita oficial. No blog Bitaites conta-se que “As primeiras notícias surgiram no Twitter. Horas depois, a editora que representa a cantora desmentia: «Por respeito para com Lhasa, ficaremos muito agradecidos se acabarem com esse rumor». (...) A editora precipitara-se no desmentido e provavelmente sabia tanto como nós. A notícia difundida no Twitter correspondia à verdade. Ontem, o site oficial de Lhasa confirmou o desaparecimento desta belíssima cantora”.

Cantora de culto, com muitos admiradores entre nós, o seu obituário acabou por se estender no tempo, ou ser antecipado pelos rumores – um sinal dos tempos, quando é justamente na rede que a notícia começa a circular. Bom, deixemos o facto onde ele deve ficar, vamos à morte de Lhasa: “Diz-se que é sempre cedo de mais para se morrer. Mas, por vezes, acontece que a frase não é apenas uma frase feita. Aconteceu hoje” – isto escreveu Ana Vidal, no Delito de Opinião. No Sound and Vision, o jornalista e critico Nuno Galopim traça-lhe o retrato artistico: “Gravou apenas três álbuns. Mas entre eles um dos mais marcantes títulos da discografia dos anos 90. Chamou-lhe La Llorona e, nesse 1998, o disco colocava em cena o nome de Lhasa de Sela. O disco, não sendo um auto-retrato, acabava por traduzir passos e espaços de uma vida de invulgar nomadismo. Lhasa nasceu numa pequena cidade do estado de Nova Iorque em 1972, filha de um mexicano e de uma americana. Viveu a infância habitando o espaço de uma carrinha de escola transformada, num quase ziguezague entre o Méxicio e os EUA, na verdade nunca muito longe da fronteira. Essas memórias, vivências e sons ganharam forma em La Llorona, o álbum de estreia que imediatamente conquistou atenções mundo fora”.
No 5 Dias, Renato Teixeira sintetiza: “Apesar da curta carreira a sua memória tem muitas pautas onde ficar guardada e muitas paragens para recordar”. E sobre recordações, o desbafo de Miguel Marujo no Cibertulia: “A morte, malvada, só não nos tira a música”.

Fecho com a memória de Fernando Moreira de Sá no blog Aventar, muito sentidamente: “Sinceramente, faltam-me as palavras, as palavras certas para descrever tudo o que senti quando ouvi, pela primeira vez, as suas músicas, o seu canto profundo, vindo das profundezas da alma. Uma voz assombrosa de uma mulher do Mundo mas cuja estética musical é, claramente, mexicana e só os Deuses sabem como tão bem tratam a música no México. (...) Como foi possível, tão nova, ver a sua vida interrompida por um maldito cancro de mama. E eu, parvo ignorante, que julgava quase impossível uma mulher tão nova, tão jovem, morrer assim. A melhor homenagem é ouvir as suas músicas e nelas descobrir a verdadeira Lhasa, a nossa Lhasa, a minha Lhasa de Sela”.

 

publicado por PRD às 19:10
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Segunda-feira, 4 de Janeiro de 2010

O ritual de Cavaco

Há rituais a que não escapamos – um deles é começar o ano com um discurso do Presidente da Republica. O ritual cumpriu-se e o fim-de-semana acabou por ser marcado pelas palavras de Cavaco Silva. Um resumo em quatro linha de Paulo Morais no Blasfémias: “O país está um caos e ninguém faz nada. O governo não resolve nada, o parlamento também não. O PR fala bem, mas também não pode fazer nada”. Mais reflectido, Rodrigo Adão da Fonseca, no Insurgente: “Quando o Parlamento e o Governo estão fragilizados ou com dificuldade de entendimento, o papel do Presidente da República obriga a que imponha alguma estabilidade no sistema político. Foi esse o sentido da intervenção de Cavaco”. José Medeiros Ferreiranão vê as coisas tão claras meridianas, e tem o seu toque de humor habitual: “De pai tirano quando era primeiro-ministro tornou-se pai severo em Presidente. O que arrepia neste regresso ao futuro é perceber que Cavaco Silva deixa discípulos...”.

No blog Escrita em Dia, CN achou pouco o que disse Cavaco: “O Presidente não teve peito para chamar os bois pelos nomes e foi pena”. Rui Fonseca, no blog Aliás, ouve Cavaco pedir aos partidos e ao Governo que se entendam e fica na duvida: “ficamos sem saber se a indicação é uma ordem ou uma advertência e um encolher de ombros. E deviamos saber: se o PR exige o pacto interpartidário que as circunstâncias impõem e, caso esse acordo não seja atingido (...) ele tomará conta das rédeas do cavalo à solta, ou prossegue na posição minimizante das suas funções”.

No Terra de Espantos, Francisco Clamote não ouviu um Cavaco Silva duro com o Governo - “atrever-me-ia até a dizer que os recados de Cavaco Silva tiveram como principais destinatários os partidos políticos da oposição parlamentar, ao acentuar que o Governo tem toda a legitimidade para governar; ao considerar necessária, por parte da oposição, "uma atitude de diálogo e uma cultura de responsabilidade".

Outros olhares sobre esta intervenção: Maria Dá Mesquita no Golpe de Estado sublinha o facto do Presidente ter dito que “a crise que vivemos hoje não é só uma crise económica, mas é também uma crise de valores, apelando para a necessidade de «recuperar o valor da família»”. António Balbino Caldeira, no Portugal Profundo, afirma que se engana “quem entendia que o Prof. Cavaco Silva se tinha rendido aos socialistas e não se candidataria a novo mandato. Este período final do seu mandato tem surpreendido (...) pela mudança da perniciosa política de «cooperação estratégica» (...) para uma política de autonomia e resistência”. Renato Teixeira, no Cinco Dias, até concordaria mas ele vê um filme mais completo no mesmo ecrã: “O mais interessante nas palavras do PR foi a forma infantil como antecipou a crítica de que este, tal como Alegre, já está em campanha eleitoral: “(...) Falo aos Portugueses quando entendo que o interesse do País o justifica e faço-o sempre com um imperativo: nunca vender ilusões nem esconder a realidade do País”.

E parece que por esse lado o retrato do Presidente não anda longe da verdade: situação explosiva é o mínimo que temos pela frente em 2010.

publicado por PRD às 02:09
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Sexta-feira, 1 de Janeiro de 2010

2010

Fechado o ano 2009, temos um ano novinho em folha para explorar. O que nos espera este ano? O que pode mudar ou evoluir? No mundo dos blogues, 2009 continuou a ser um ano de afirmação, consistência, amadurecimento da plataforma em si. Ter um blog tornou-se algo banal – do estudante à dona de casa, do grupo de amigos ao grupo de interesses comuns, um blog é um meio de comunicação. E será tanto mais quanto mais activo estiver.

Neste quadro, 2010 será certamente o ano da afirmação da interactividade entre plataformas – um blog já não chega, e a interacção que é possível fazer entre o blog, o twitter, o facebook, os próprios meios de comunicação clássicos, tudo isso dará mais sentido à palavra rede.

Vivemos em rede, existimos em rede, e não escapamos à rede. Mesmo aqui, na Janela Indiscreta, em 2010 continuarei a abrir portas, como já vou fazendo, às extensões dos blogs nas redes sociais ou noutros patamares da Internet. É esse o caminho, é esse o futuro – e a esse propósito, permitam-me que cite aqui um parágrafo da crónica de Joaquim Vieira, provedor do leitor do jornal Público, que deixou esse lugar no domingo passado e, na despedida, escreveu o seguinte, aconselhando o jornal do futuro: “Entender o PÚBLICO não como um jornal em papel com um site agregado mas como uma marca de informação englobando os mais diversos suportes. Enfrentem a realidade: os jornais generalistas estão sob ameaça de morte, e eventualmente já condenados. O público está a emigrar em massa para a informação via digital e não irá fazer marcha atrás. (...) Teria de ser maior a aposta no on-line, pois reside aí o futuro. E não só: também noutros suportes digitais, já criados ou a criar. O PÚBLICO deveria por isso deixar de estar associado basicamente ao papel para se tornar, com toda a credibilidade que possui, numa fiável marca multimédia. A democracia precisará sempre do jornalismo, mas vai deixar de precisar dos jornais”. A crónica na integra está no blog do provedor do leitor, mas para o que me interessa esta é realmente a ideia chave – de que a blogoesfera é parte interessada, interessante, e efectiva.

Segunda-feira volto a olhar o mundo e actualidade através desta janela, mas o aviso fica aí: quem quiser estar por dentro do futuro tem de andar por aqui neste presente.

publicado por PRD às 02:12
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Quinta-feira, 31 de Dezembro de 2009

Blog do Ano 2009: O Alfaiate Lisboeta

Ultimo dia do ano, dia certo para revelar a minha escolha, absolutamente individual, do melhor blog de 2009. Critérios para esta escolha: criatividade, manutenção, dedicação, interesse e relevância. Propositadamente, não usei a palavra originalidade – porquê? Bom, porque o meu blog do ano não é de todo original, nem pretende. O seu autor partiu de um blog inglês, o Sartorialist, e pensou: por que não replicar esta ideia em Portugal? Aliás, está lá escrito: “A ideia não é original. Talvez já nem venha a tempo de ser inovadora. Mas (...) as boas ideias não se têm apenas mas também se aproveitam”.

E o anónimo autor aproveitou a criou o Alfaiate Lisboeta, em oalfaiatelisboeta.blogspot.com, em Janeiro de 2009. É o meu blog do ano

A escolha resulta justamente deste novo patamar a que a blogoesfera chegou: a da replicação de boas ideias, ou quase uma espécie de franchising não-oficial. A ideia do Alfaiate Lisboeta é simples: procurar gosto e bom gosto, originalidade e arrojo, ousadia e urbanidade, na moda que se encontra na rua. Street wear, sem mais. “Nunca vos apeteceu fotografar alguém? A mim já. Não acham que há pessoas que têm o dom de vestir bem ou a audácia de o fazer de forma diferente? Eu acho”.

Assim nasce um portfólio diário, um verdadeiro mural de moda, com fotografias simples, mas bem tiradas, nas ruas de Lisboa ou de qualquer cidade por onde o autor do blog ande, com gente anónima. O Alfaiate Lisboeta aborda os seus fotografados, tenta perceber quem são, comenta-os e comenta o que vestem. O Alfaiate mistura muitíssimo bem moda, roupa, e tendência, modernidade.

Diz ele às tantas, num post, que a culpa é da avó: “A sério. Não há sítio onde vá que não meta conversa com x, interpele y ou faça sugestões a z. Fui buscar-lhe essa tara [não se preocupem com a minha avó, vai adorar que fale nela na mesma medida que adora chamar a si a responsabilidade de metade dos meus traços de personalidade; e, em abono da verdade, cabe-lhe a ela boa parte da responsabilidade de, algures na minha base genética ou experiência, ter encontrado motivos para iniciar este blogue]”.

Confessa que é mais extrovertido no estrangeiro do que nas ruas de Lisboa, mas basta ler o blog para perceber que é um espontâneo em qualquer parte. Já este mês de Dezembro fotografou a própria irmã e escreveu um texto notável em que explica a escolha: “A canadiana que a avó lhe deu. Era essa a desculpa. Não fosse essa seria outra qualquer. Porque eu não preciso de desculpas para falar da minha irmã. Por algum motivo é a primeira vez que me emociono a escrever um post. Por algum motivo, antes mesmo de me sentar aqui, já sabia que isto ia acabar assim. Esta merda não se explica. Nem tem que se explicar. É mesmo assim. E juro-vos, eu já sabia”.

O Alfaiate Lisboeta faz mais pela moda do que muitas revistas e jornais, é sociologia pura, e é também política na abordagem de estilos, raças, linguagens. Não é uma ideia original, mas é a aplicação com talento e sabedoria da ideia original, sem pretensões e sem manias. Tudo junto, eis a minha escolha para 2009. Amanhã, começa 2010.

publicado por PRD às 02:11
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Quarta-feira, 30 de Dezembro de 2009

O ano 2009 - II

Segunda edição da Janela Indiscreta que dedico a um olhar rasante, uma espécie de voo de pássaro sobre o ano 2009 no mundo dos blogues. Ontem falei basicamente de politica, num ano muito político em todos os sentidos, hoje alargo aos grandes momentos que vivemos. A blogoesfera, nessa medida, é um bom reflexo da sociedade – reage emocionalmente nos momentos que convocam essa reacção, discute quando há fracturas sociais, passa muitas vezes ao lado daquilo que efectivamente lhe escapa ou não compreende.

Tal como muitas vezes sucede quando entramos num café e ouvimos alguém dar palpites gratuitos sobre um tema que ouviu de passagem na rádio ou na televisão, também a blogoesfera se presta a essa reacção rápida, ás vezes desinformada ou pouco sustentada. Sente-se esse lado mais popular em temas como a justiça ou a saúde, que infelizmente estiveram em alta neste ano. É pouco frequente encontrar um post consistente e devidamente sustentado sobre casos como a Face Oculta ou as cegueiras em Santa Maria – nestas matérias, a maioria dos blogues opina sem pensar muito. Pede justiça. Pede que rolem cabeças. Exige punição exemplar e muitas demissões.

Já quando entramos em áreas mais especificas – estou a lembrar-me, em 2009, no fenómeno Obama e na mudança vivida nos Estados Unidos -, surgem os especialistas. Gente que sabe da matéria – muitas vezes, gente que explica o que os jornais não conseguem explicar. Em 2009, Obama, a Cimeira de Copenhaga, a morte de Michael Jackson e os diversos casos à volta de Berlusconi, foram debatidos, abordados e, cá vai a palavra do ano, esmiuçados nos blogues de forma quase sempre relevante.

Claro que estou a generalizar e tudo isto pode ser sempre rebatido com exemplos, mas estas são as notas que fui tomando ao longo de um ano de crónicas diárias aqui na Antena 1.

Não poderia, por fim, passar ao lado de um fenómeno que fui observando com atenção. Até 2009, havia dois programas de televisão geradores de debate na blogoesfera – programas que, enquanto estavam no ar ou logo a seguir, tinham meio mundo a comentar. Um, o óbvio dominical de Marcelo Rebelo de Sousa. O outro, o debate dirigido por Fátima Campos Ferreira à segunda-feira, na RTP-1, o Prós e Contras.

Para quem escreve diariamente sobre blogues, esta evidência é indiscutível. Porém, em 2009 essa hegemonia foi quebrada e vencida: chegou um programa que provocou muito mais posts, muito mais reacções. Obviamente, Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios. E tem tanta mais relevância esta observação quanto é certo que o Gato Fedorento começou por ser um blog...

Assim chego ao final destas duas crónicas em que olhei sumariamente o ano de 2009 na blogoesfera, amanhã, ultimo dia do ano, revelo a minha escolha individual para o melhor blog de 2009.

publicado por PRD às 02:10
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Terça-feira, 29 de Dezembro de 2009

O ano 2009 - I

Está na hora de começar a olhar o ano que passou, 2009, neste universo específico em que me movo diariamente e que passa pela Internet, mais especialmente pelos blogues.

Hoje e amanhã, vou tentar desenhar aqui o que foi o ano nesta plataforma. E é incontornável começar pela politica – 2009 foi um ano de eleições diversas, de combates duros na politica, de um PS vitima do desgaste governativo, de um PSD perdido e de liderança duvidosa. Como sempre, desde que nasceu o blog, o debate politico exacerba-se na rede. Os apoiantes tornam-se mais militantes, os críticos são ainda mais críticos – e os confrontos são, muitas vezes, de violência desmedida.

Blogues como o Câmara Corporativa, claramente colado ao Governo e ao PS, ou Arrastão, claramente próximo do Bloco de Esquerda, ou o 31 da Armada, á direita, protagonizam um 2009 de permanente troca de argumentos. A estes se juntam os blogues individuais de um Pacheco Pereira ou de um Santana Lopes, num ping pong permanente.

Este ano, com eleições legislativas e autárquicas, os próprios partidos tinham de ganhar protagonismo no mundo dos blogues – e lá vieram os sítios de apoio a cada um dos concorrentes, como vieram também os blogues presumivelmente independentes, colectivos, de apoio a uma força ou outra.

Entre as muitas criticas que recebo por esta Janela, destaca-se o facto de recorrentemente falar de alguns blogues. Como se só houvesse aqueles, ou os outros não interessassem. É óbvio que isso não sucede, mas é verdade que há alguns blogues com passe social aqui na casa - e se isso ocorre, deve-se ao protagonismo, à iniciativa, e à atitude desses blogues. Nessa medida, falar de 2009 e não falar do eterno e mais que repetido 31 da Armada seria uma injustiça – foi este blog, convêm não esquecer, que reabriu o debate sobre republica e monarquia substituindo a bandeira nacional pela bandeira monárquica na Câmara Municipal de Lisboa. E foi tb este blog que no dia 25 de Novembro colocou no Campo Pequeno uma estátua de 2 metros representando Jaime Neves em homenagem ao militar estrela dessa data de 1975... Não só comandou estas operações, como as trabalhou em vídeo e em posts que ajudaram a dar ainda mais visibilidade às acções.

À medida que os anos passam e os blogues crescem, amadurecem, e a própria plataforma ganha consistência a riqueza, até do ponto de vista dos recursos disponíveis, é evidente que a politica e os políticos acabam por lhe reconhecer mais relevância.

2009 mostrou isso mesmo – e por isso, simbolicamente, a imagem que me fica deste tempo na relação entre blogues e politica é de José Sócrates candidato a primeiro-ministro em campanha, aceitar uma tertúlia em Lisboa com bloggers de todas as origens. O homem que antes se tinha referido ao mundo dos blogues como uma espécie de seita mafiosa, ou o inferno em versão 2.0, acaba por dar o braço a torcer e reconhecer o meio como válido para fazer passar a sua mensagem. Políticos e blogues? Se não os podes vencer, junta-te a eles.

publicado por PRD às 02:09
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Estes textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica. Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas. Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente. Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!

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